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Jaru, 19 de maio de 2024

Polícia apreende diário em que menina que morreu castigada com jejum relata rotina de exercícios e oração

A Polícia Civil apreendeu um diário no qual a menina de 11 anos que morreu por desnutrição decorrente de um jejum relatava a rotina de orações e exercícios físicos. O caderno com as anotações foi apreendido no apartamento em que ela morava com a mãe, o padrasto e o irmão de 8 anos no Centro de Ubatuba (SP). O conteúdo em detalhes não foi revelado pela polícia e será usado durante a investigação.

Ela morreu na quinta-feira (24). O casal foi preso na sexta-feira (25) e vai responder por tortura com morte, cárcere privado e abandono intelectual.

De acordo com o delegado Ricardo Mamede, a prática de jejum era uma imposição do padrasto como um castigo por ela ter mentido, segundo a polícia. A menina chegou a pedir para comer e a mãe negou, segundo a Polícia Civil. A punição durou dois dias e causou a morte dela por desnutrição proteica calórica.

“Com as buscas, encontramos o diário relatando a rotina, que era jejuar, orar e fazer exercícios frequentes. Flexão, abdominal e mesmo sem alimento, ela era obrigada a fazer exercícios”, disse o delegado.

Segundo a polícia, em um outro caderno também apreendido no apartamento, o casal escreveu a justificativa que daria às autoridades.

A mãe e o padrasto pretendiam mentir, segundo a polícia, que a menina tinha anemia e teria morrido por falha dos médicos no hospital. A polícia trabalha com a informação de que a menina chegou ao hospital já morta e que os médicos atestaram desnutrição e palidez.

“[em depoimento] O padrasto continuou afirmando que ela teria falecido em virtude de anemia e não se culpava por aquilo e afirma até hoje que faria de novo. Que ele acredita que a purificação só venha através de jejum. Mas a mãe, após ser confrontada com todas essas provas, ela decidiu revelar a verdade e contou detalhadamente tudo”, disse o delegado.

O casal foi preso no Instituto Médico Legal.

Menina de 11 anos castigada com jejum morre por desnutrição, diz polícia

Polícia apreende diário em que menina que morreu castigada com jejum relata rotina; conteúdo não foi revelado em detalhes — Foto: Robson Carvalho/ TV Vanguarda

Polícia apreende diário em que menina que morreu castigada com jejum relata rotina; conteúdo não foi revelado em detalhes — Foto: Robson Carvalho/ TV Vanguarda

A mãe, de 26 anos, e o padrasto, de 47, passaram por audiência de custódia na tarde deste sábado (26). Ele foi encaminhado ao Centro de Detenção Provisória de Caraguatatuba e ela para a penitenciária feminina de Tremembé.

O irmão da vítima foi encaminhado para um abrigo da cidade e está sob os cuidados do Conselho Tutelar. O corpo da menina foi enterrado no cemitério municipal de Pindamonhangaba na manhã deste sábado.

Castigo

Segundo a polícia, a prática de jejum era uma imposição do padrasto, que aplicava a medida como punição à garota e ao irmão dela, de 8 anos. De acordo com o delegado, o padrasto tem convicções religiosas de que o salvamento das pessoas só pode acontecer através do jejum.

Quando as crianças desrespeitavam, ele aplicava castigos de jejum, que começavam com uma refeição, passava para duas e foi aumentando, até chegar ao jejum de mais de dois dias no qual a garota morreu.

Em depoimento, segundo o delegado, a mãe teria mandado que ela tomasse água quando a menina reclamou por sentir fome. A mulher, segundo a polícia, disse que está arrependida.

Histórico

A polícia foi acionada pelo hospital após os suspeitos levarem a garota ao pronto socorro, por volta das 21h de quinta-feira. A polícia trabalha com a informação de que a menina chegou ao hospital já morta e que os médicos atestaram desnutrição e palidez.

Em depoimento na sexta a mulher confessou, segundo a polícia, que mantinha a menina em cárcere privado. De acordo com o relato, ela ficava no chão sobre um tapete de EVA (um tipo de borracha) no apartamento da família, no Centro da cidade.

Ela disse que a vítima ficou trancada em casa durante cinco meses e que era obrigada a jejuar e orar como forma de corrigir e castigar por atos considerados errados, como mentiras. Durante esse período, ela teria saído apenas duas vezes na rua. O irmão dela também era submetido a castigos esporádicos.

Menina que morreu por desnutrição em jejum em Ubatuba era obrigada a dormir no chão, segundo polícia — Foto: Arquivo pessoal

Menina que morreu por desnutrição em jejum em Ubatuba era obrigada a dormir no chão, segundo polícia — Foto: Arquivo pessoal


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