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Jaru, 18 de maio de 2024

Bolsonaro desautoriza críticas de Mourão à Rússia e não fala sobre invasão

O presidente Jair Bolsonaro desautorizou nesta quinta-feira o vice-presidente Hamilton Mourão por ter feito críticas à Rússia pela invasão da Ucrânia. Bolsonaro disse que somente ele trata de questões internacionais e evitou repudiar a ação militar russa.

Na manhã desta quinta, Mourão adotou um tom duro contra a invasão e comparou a ação do presidente russo, Vladimir Putin, com a movimentação militar do líder da Alemanha nazista, Adolf Hitler, nas vésperas da Segunda Guerra Mundial.  O vice-presidente disse que apenas sanções econômicas contra a Rússia não são suficientes, sendo necessário também o uso da força.

No início da noite, em transmissão ao vivo em redes sociais, Bolsonaro leu uma notícia sobre as críticas de Mourão e disse que ele estava “falando algo que não deve”.

— Deixar bem claro. O artigo 84 da Constituição diz que quem fala sobre assunto é o presidente. E o presidente chama-se Jair Messias Bolsonaro. E ponto final. Com todo respeito a essa pessoa que falou isso, e eu vi as imagens, falou mesmo, está falando algo que não deve. Não é de competência dela. É de competência nossa.

Para Bolsonaro, quem comenta sobre isso está “está dando peruada naquilo que não o compete”.

— Quem fala dessas questões chama-se Jair Messias Bolsonaro. Quem tem dúvida disso basta procurar na nossa Constituição o artigo 84. Mais ninguém fala. Quem está falando, está dando peruada naquilo que não o compete.

O presidente afirmou que o Brasil é “da paz” e não comentou a invasão feita pela Rússia. Bolsonaro disse que em sua viagem ao país, realizada na semana passada, teve um “contato excepcional” com Putin e ressaltou que o Brasil tem uma dependência na área de fertilizantes.

— Nós somos da paz. Nós queremos a paz. Viajamos em paz para a Rússia, fizemos um contato excepcional com o presidente Putin. Acertamos a questão de fertilizantes para o Brasil. Somos dependentes de fertilizantes da Rússia, da Bielorússia, em grande parte desses países. E o país mais importante do mundo chama-se Brasil. Tudo que tiver a nossa alcance nós faremos pela paz.

O artigo 84 da Constituição, citado por Bolsonaro, determina que “compete privativamente ao Presidente da República”, entre outro pontos, “manter relações com Estados estrangeiros”.

Na transmissão, Bolsonaro estava acompanhado do ministro das Relações Exteriores, Carlos França. O chanceler, contudo, não comentou o conflito e limitou-se a dar orientações para os brasileiros que estão na Ucrânia. De acordo com ele, o governo está elaborando um “plano de contingência” para a retirada desses brasileiros.

Reunião para ‘dimensionar’ situação

Depois, na mesma transmissão, Bolsonaro falou de forma genérica que quer aprofundar os laços do Brasil com outros países, incluindo Rússia e Ucrânia, e que “a paz interessa para todos nós, a guerra não interessa para ninguém”.

— O Brasil, obviamente, tem interesse de aprofundar seus laços de amizade, bem como comerciais, com outros países. Não é diferente nosso relacionamento com a Rússia, com a Ucrânia. Tive na Hungria, também — disse, acrescentando — Esse é o nosso trabalho no mundo todo. Sempre, na medida do possível, nós queremos a paz. Porque a paz interessa para todos nós, a guerra não interessa para ninguém. Mas a nossa posição é pela paz

O presidente afirmou que ainda fará uma primeira reunião com França e com o ministro da Defesa, Walter Braga Netto, para “dimensionar o que está acontecendo” no conflito entre Rússia e Ucrânia.

— Nas próximas horas tenho uma reunião com o França, com o ministro da Defesa também, o Braga Netto, mais autoridades do governo para que nós possamos fazer a primeira reunião nossa, dimensionar o que está acontecendo. E o Brasil tem a sua posição.

Vice disse que Brasil ‘não está neutro’

Pela manhã, ao chegar no Palácio do Planalto, Mourão disse em entrevista que o Brasil não concorda com a invasão:.

— O Brasil não está neutro. O Brasil deixou muito claro que respeita a soberania da Ucrânia. Então O Brasil não concorda com a invasão de território ucraniano.

O vice-presidente defendey o “uso da força”, para impedir que outros países também sejam atacados pela Rússia.

— Tem que haver o uso da força, realmente um apoio à Ucrânia, mais do que está sendo colocado. Essa é a minha visão. Se o mundo ocidental pura e simplesmente deixar que a Ucrânia caia por terra, o próximo será a Bulgária, depois os Estados bálticos, e assim sucessivamente, assim como a Alemanha hitlerista fez nos anos 30.

Ele afirmou que o mundo está como em 1938. Foi uma referência às concessões feitas a Hitler, que ocupou parte do território da então Tchecoslováquia. Na época, França e Reino Unido concordaram com isso na esperança de evitar uma guerra. Mas o que ocorreu foi que, em 1939, a Alemanha invadiu a Polônia, dando início à Segunda Guerra Mundial, que terminou apenas em 1945.

— O mundo ocidental está igual ficou em 1938 com Hitler, na base do apaziguamento. Putin não respeita o apaziguamento. Essa é a realidade. Se não houver uma ação bem significativa… E na minha visão, meras sanções econômicas, que é uma forma intermediária de intervenção, não funcionam. Vamos lembrar que o Iraque passou mais de 20 anos com sanções econômicas. Nada mudou. O Irã está há não sei quanto tempo com sanção econômica. Também nada mudou — disse o vice-presidente.

 

O Globo


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