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Jaru, 20 de maio de 2024

Advogada diz que modelo trans agredida vai usar caso na luta contra transfobia na web

A advogada Feh Oliveira, que acompanha a história da modelo trans agredida em Copacabana, Zona Sul do Rio, contou que Alice Felis, de 25 anos, vai usar a repercussão do caso para ajudar outras pessoas, principalmente transexuais, a lutarem contra a transfobia na internet.

A vítima foi convidada, segundo Feh, para ser madrinha do Instituto Digital de Combate à LGBTfobia. A advogada esteve nesta quinta-feira na 13ª DP (Copacabana) para acompanhar o reconhecimento facial de Lucas Brito Marques, de 24 anos, suspeito que se entregou aos policiais civis nesta última madrugada. Ainda de acordo com a advogada, a violência do crime chocou os médicos legistas no IML.

— O caso da Alice muda paradigmas na justiça brasileira. As pessoas estão acostumadas a ver travestis e pessoas trans na posição de ladra, de agressora, em razão do estigma e da marginalização que essa população sofreu ao longo da história. As pessoas tendem a desconfiar da Alice, a dizer que ela está mentindo, que ela está fazendo isso para aparecer. Os legistas ficaram impressionados com a brutalidade dos golpes deferidos contra ela — explica a advogada.

Ainda de acordo com Feh, a transfobia entra no caso como uma das motivações agravantes do crime, o que elevaria a pena de Lucas.

Defesa do suspeito do crime nega transfobia e roubo

Já o advogado Thiago José Ferreira Rocha Fernandes, que defende Lucas, nega a tentativa de latrocínio e a tese de transfobia. Segundo ele, houve um desentendimento entre os envolvidos após ambos fazerem uso de drogas no apartamento de Alice. Para o advogado, a estratégia é classificar o crime apenas como lesão corporal.

— Lucas não agrediu a trans motivado por ódio. O que aconteceu foram mútuas agressões devido ao estado que se encontravam. Eles se conheceram num bar e foram para o apartamento a convite da Alice. Consumiram bebidas alcóolicas e fizeram uso de substâncias químicas. Em determinado momento, eles entraram em luta física.

O advogado Thiago José vai chegar nesta sexta-feira no Rio de Janeiro e deverá acompanhar o depoimento do cliente à polícia.

Lucas Brito Marques, suspeito de agredir Alice Felis, é conduzido dentro da delegacia
Lucas Brito Marques, suspeito de agredir Alice Felis, é conduzido dentro da delegacia Foto: Diego Amorim / Agência O Globo

Lucas está com a prisão temporária de 30 dias decretada e será encaminhado para a Polinter antes de seguir para uma unidade prisional. Ele vai responder por tentativa de latrocínio (roubo seguido de morte), já que, segundo a titular da 13ª DP, Bianca Lima, o roubo do dinheiro seria a principal motivação do crime, e por transfobia.

— A teoria da tentativa de latrocínio foi concluída com base no depoimento firme, convincente e emocionado da vítima. Ela conta que foram até o apartamento dela, começaram a se relacionar, ele passou a agredi-la barbaramente e roubou então os R$ 3,6 mil da vítima.

‘Foi horrível ficar cara a cara com ele’, diz vítima agredida

Alice chegou à delegacia por volta de 10h, acompanhada pela advogada e por uma amiga. Dentro da 13ª DP, a modelo mostrou-se emocionada enquanto caminhava até a sala para o reconhecimento presencial. Em uma rede social, Alice postou: “Urgente: acabei de fazer o reconhecimento do homem que tentou me matar”.

— Eu reconheci. Foi horrível ficar cara a cara com ele, ainda estou com medo, eu quase não tive coragem. Eu ainda estou muito abalada. Agora eu vou começar a me tratar de todas as formas que puder, psicologicamente, fisicamente e mentalmente. Eu só tenho gratidão a todo mundo que me ajudou, que vem me dando forças. Nós temos que ser fortes e não desistir nunca. Denunciem, tenham a coragem que eu tive. No início, tive muito medo. Mas sobrevivi — contou, emocionada.

Modelo trans reconhece suspeito de espancá-la: 'Horrível ficar cara a cara com ele'
Modelo trans reconhece suspeito de espancá-la: ‘Horrível ficar cara a cara com ele’ Foto: Gabriel Monteiro / Agência O Globo

Alice e Lucas teriam se conhecido num bar no mesmo dia

Segundo a advogada Feh Oliveira, que está acompanhando o caso, Alice contou que comprou uma cerveja e foi seguida por Lucas, que se ofereceu para ir ao apartamento dela. Chegando lá, os dois beberam e foram ter relação sexual, mas Lucas não conseguiu ter ereção.

A modelo trans chegou a pedir um estimulante sexual na farmárcia. O entregador levou o medicamento e Lucas tomou. O remédio, no entanto, não teria tido efeito. Alice sugeriu que os dois tomassem um banho. Os dois voiltaram para a cama e a modelo começou uma massagem. Foi quando, de repente, Lucas começou as agressões.

— Não consigo precisar quanto tempo durou pois fiquei desacordada — disse Alice, logo após registrar a ocorrência, nesta quarta-feira.

Após ser agredida, a modelo publicou um vídeo na rede social relatando o que ocorreu e mostrando o rastro de sangue dentro do seu apartamento, que fica em Copacabana, Zona Sul. Alice teve mandíbula, nariz e cinco dentes quebrados durante o espancamento.

Peritos trabalham no local onde vítima foi agredida
Peritos trabalham no local onde vítima foi agredida Foto: Divulgação

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