Eliane Martins de Souza Ferraz pode ser definida com o termo “artista completa”, definição utilizada por diversos profissionais para se referir a alguém com múltiplos talentos. Poetisa, artista plástica, cantora, desenhista, entre muitos outros dotes artísticos, sendo a maioria deles descoberto desde a infância, graças ao apoio paternal que, por exercer com maestria diversos ofícios, foi capaz de encantá-la ainda criança.
Natural de Jaru, Eliane nasceu em 19 de novembro de 1977. Durante os primeiros anos da infância observava atentamente cada passo de seu pai, um exímio desenhista que elaborava a planta de uma casa com uma riqueza de detalhes incomuns para a década de 1970 em se tratando das dificuldades que existiam na região. Antes de se envolver com a música, Eliane acompanhou o pai Joacir Ferreira de Souza no processo de extração e transporte de madeira da zona rural de Jaru para serrarias. Concomitante a questão que ocorrera até aos 22 anos de idade, a então futura cantora desenvolvia o talento em casa por meio de obras de caricatura e outros trabalhos do gênero. Detalhista em sua s obras, tempos depois ela passou a desenvolver a capacidade de representar uma pessoa através de um desenho ou pintura em questão de minutos apenas com a observação pessoal ou por meio de um registro fotográfico. O legado deixado pelos seus pais, principalmente na questão paterna, foi decisivo para a descoberta de uma veia artística que poderia ficar adormecida se não houvesse um incentivo contínuo ainda na fase de formação de sua personalidade. A família residia no Km 10,5 da Linha 599, à época pertencente a Jaru, mas após a criação do município de Theobroma, passou a fazer parte daquela localidade.
O envolvimento com a música
O envolvimento de Eliane Martins com a música começou através da produção de uma poesia que havia sido feita de forma espontânea em 1988 no quadro da sala em que estudava. A obra intitulada “Sonhar” demonstrava em três estrofes a importância de se acreditar nos próprios sonhos e lutar para que eles se concretizem. A artista produziu dezenas de poesias e várias delas acabaram se transformando em músicas, tendo em vista que posteriormente ganharam melodia e harmonia musical. Em 1999, aproximadamente dois anos após a morte do pai, que deixou a vida terrena em 25 de novembro de 1997, Eliane fez uma homenagem póstuma a ele com o talento que o mesmo lhe ajudou a descobrir: uma poesia onde destacava a importância paterna ao longo dos anos e o que isso representava para a construção de sua visão de mundo em questões imprescindíveis da vida. Além de homenagear o pai, Eliane elaborou diversos textos poéticos onde engrandece profissionais de diversas áreas, pois sempre que pensa em alguma coisa, o ato rende uma poesia com arranjo musical ou não. Ao mesmo tempo em que produz obras poéticas, Eliane estava exercendo o seu ofício em pintura e chegou a atuar na antiga Promoção Social de Jaru, posteriormente transformada em Secretaria Municipal de Trabalho e Ação Social – SEMTAS.
Eliane se apresentou em eventos com outras pessoas e tinha um grupo denominado “Os Índios do Sul” em uma homenagem à origem de alguns familiares. Nesse grupo, além de Eliane havia a participação de Noel Antunes (sanfoneiro, que 21 anos depois seria o sogro da cantora), Gilmar Ferraz (guitarrista e depois passou a ser o cunhado) e Jeandemir Ferraz (baterista e posteriormente esposo da artista). “Os Índios do Sul” tiveram uma carreira relativamente curta, pois foram apenas três anos de atividades, no período compreendido entre 1993 e 1996.
Após a descontinuidade do grupo “Os Índios do Sul” Eliane passou a trabalhar profissionalmente com a dupla Éder & Éder na função de vocalista. O trabalho, conforme recorda, começou em 1998, após o nascimento da primeira filha. A parceria durou pouco tempo, mas o suficiente para garantir uma enorme gratidão à dupla e uma homenagem a um dos componentes do dueto, o cantor Ederlan Cardoso e que ficaria registrada no primeiro CD que o futuro lhe reservaria. Após o fim da parceria com a dupla Éder & Éder, Eliane Martins partiu para a carreira solo, fez vários shows e ainda trabalhou na função de secretária na T V Candelária (emissora afiliada à Record, que posteriormente mudou o nome para SIC TV) entre 2006 e 2007. Incentivada pelo então diretor da TV Candelária em Jaru, Alcídio Schwarzbold, lançou o primeiro CD em junho de 2007 com o nome Heliane Markes. O CD recebeu o título “Sonho Encantado” e foi praticamente autoral, pois contou com dez canções, sendo nove composições próprias e uma delas com letra de Alcídio Schwarzbold e melodia da compositora. Todas as canções foram compostas em um ritmo sertanejo, uma marca registrada de Eliane Martins, além de ser algo bastante apreciável no meio artístico local. “A montagem do repertório foi bem rápida, pois comecei a inserir a melodia nas poesias prontas em janeiro de 2007 e em junho do mesmo ano o CD já estava gravado”, recorda.
Devido à repercussão alcançada, a gravação do 2º CD seria apenas uma questão de tempo. Dois anos depois, uma nova obra musical ficou pronta, dessa vez com canções próprias e de compositores de outros estados. Se o primeiro CD fora produzido em Porto Velho no estúdio Amazônia Publicidade & Produtora, a produção seguinte foi feita no próprio município com Antônio Messias da Rocha, o Toninho Rocha.
A conversão ao Evangelho
Em 2010, Eliane se converteu ao Evangelho através de uma decisão pessoal e continuou exercendo o seu talento. No mesmo ano compôs as canções que fariam parte do 3º CD, agora no segmento gospel. A gravação ocorreu no fim do ano de 2013 no estúdio do produtor jaruense Jonas Marcos. Eliane permaneceu em Jaru até o ano de 2016, quando se casou com Jeandemir Ferraz e desde então está residindo em Ariquemes com a família. Porém, bem antes de deixar Jaru, o município foi agraciado com uma de suas poesias, onde relata um problema ocorrido com os peixes do Rio Jaru e também homenageia o programa “Você na TV” apresentado pelo jornalista Edivaldo Gomes. Confira a poesia:
Nossa Cidade Jaru
Dia 09 de novembro dia de andar nos rios
Fazendo uma limpeza, esse é um desafio
Juntando a maioria, alunos, classe, trabalhadores
Desenvolvendo um trabalho na maioria conservadora
Conservar os rios de Jaru
Muita gente não tem ajudado
Eles só não conseguem completar a luta
Pois muitos não estão nem preocupado
Assistindo o jornal “Você na TV”
Vi um fato desordenado
A poluição no Rio Jaru
Matando os peixes sem saber “o culpado”
Lembra-me muito bem há alguns anos atrás
Tomar banho e pescar à vontade
Isso sim que era divertir
Hoje o rio pobre coitado
Tomar banho e pescar isso não posso mais fazer
Se o culpado for descoberto
Que a Justiça faça a sua parte
Pra podermos andar bem perto
Sem medo da realidade
Imagine a poluição se fosse bem perto da casa do culpado
Não iria gostar nem um pouco
E logo ele iria ser lesado
Mas como se torna longe não está nem preocupado
Nossa Cidade Jaru. Eliane Martins. Copyright © 2008. Todos os Direitos Reservados.
A publicação da série “A História da Música em Jaru” está sendo possível graças a uma parceria entre os principais sites do município e o escritor Elias Gonçalves Pereira. Os textos serão publicados de 13 de maio a 06 de junho de 2019, data em que o escritor lançará o livro “Um Tratado sobre a Música, a Literatura e a Comunicação Jaruense” nas dependências da Associação Comercial e Industrial de Jaru, a ACIJ.
As reportagens serão publicadas na seguinte ordem:
01. Destaques das décadas de 1970 e 1980 – 13/05/2019
02. Juca & Marquinhos – Banda Swing & Country – 14/05/2019
03. Pescador & Garimpeiro – Diamante & Garimpeiro – 15/05/2019
04. Jorge Faccini – 16/05/2019
05. Jenival Silva – 17/05/2019
06. Geoni e Geonito – 20/05/2019
07. Idair Ferreira – 21/05/2019
08. Marcos Paulo & Claudney – Banda Los Arcanjos – 22/05/2019
09. Dalberto & Darnel – 23/05/2019
10. Márcio & Messias – Banda Flash Music – 24/05/2019
11. Mário & Marquinhos – 27/05/2019
14. Heliane Markes – 30/05/2019
15. Arllan Cardek e Banda Maria Juana – 31/05/2019
16. Gilson Fagner – 03/06/2019
17. Banda Country Music / Albatroz – 04/06/2019
18. Beto Neves – 05/06/2019
19. Banda Pelô Art – 06/06/2019
Fonte: Elias Gonçalves
Fotos: Arquivo Pessoal: Eliane Martins de Souza Ferraz
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