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Jaru, 30 de abril de 2024

Vaquinha bate meta e arrecada quase R$ 40 mil para pai que pedala 28 km toda semana para buscar tarefas dos filhos: ‘Vai melhorar nossa vida’

Uma vaquinha feita pela internet bateu 110% da meta e arrecadou quase R$ 40 mil para o pai que percorre 28 km de bicicleta de um estado a outro toda semana para buscar tarefas dos filhos.

Ele garante que os três filhos adolescentes não parem de estudar, mesmo sem computador, internet e morando distante do colégio.

“Eu estou muito faceiro, vai me ajudar bastante. Na verdade, tenho certeza que vai melhorar a nossa vida. Eu agradeço muito por toda essa força, de coração”, disse Edemilson Wielgosz.

A família mora em um sítio às margens da BR-376, em Guaratuba, no litoral do Paraná.

Em cima de uma bicicleta, o roçador Edemilson vai até Garuva (SC), município vizinho, todas as terças-feiras para buscar materiais e tarefas para que eles estudem em casa, durante a pandemia do novo coronavírus.

‘Primeiro nossas despesas’

Ao G1, o pai comentou que ainda nem parou para pensar sobre o quanto essa quantia vai ajudar a família, mas que está extremamente grato. Na vaquinha, mais de 600 pessoas colaboraram.

“Com certeza, Deus vai abençoar a todos que ajudaram, não só com dinheiro, mas com comida, roupas. Primeiro penso nas nossas despesas de dentro de casa, primeiro temos que ter comida, pagar as contas, depois quem sabe consigo comprar uma internet para colocar aqui”, disse.

Edemilson estudou até a 4ª série e vê nos filhos a chance de não repetir o passado — Foto: Arquivo pessoal/Herison Schorr

Edemilson estudou até a 4ª série e vê nos filhos a chance de não repetir o passado — Foto: Arquivo pessoal/Herison Schorr

Quanto à sua companheira de todos os dias, a bicicleta, ele diz que pretende usar o dinheiro da ajuda para o essencial e que vai ficar com ela ainda por um tempo.

“A bicicleta por enquanto essa está boa, vou ficar com a minha velhinha mesmo. Eu não tenho carteira de motorista, então tem que ser assim durante essa pandemia”, comentou o pai.

O pai trabalha há 18 anos em uma pousada mas, devido à pandemia, o local não paga o salário há mais de três meses, segundo ele. A família Wielgosz sobrevive com ajuda de cestas básicas e doações.

Família Wielgosz sobrevive com ajuda de cestas básicas e doações — Foto: Arquivo pessoal/Edemilson Wielgosz

Família Wielgosz sobrevive com ajuda de cestas básicas e doações — Foto: Arquivo pessoal/Edemilson Wielgosz

Luta por dignidade

Edemilson, de 47 anos, estudou até a 4ª série e, segundo ele, não quer o mesmo futuro para os filhos.

Ele conta que tem quatro filhos. A mais velha se casou e não mora mais com o pai e os irmãos. Com ele, ficaram Wellinton, de 16 anos, Amabili, de 14, e Nicole, de 12.

“Estou lutando para dar dignidade a eles. Falta muita coisa e o que temos é simples, mas nunca faltou carinho e empenho. Já passamos por muitas dificuldades, ainda dói, mas desistir não é uma opção. Nunca foi”, disse o pai.

A irmã de Edemilson, Márcia Aparecida Wielgosz, conta que sempre tentou ajudar a família como pode.

“Não gosto de ver ninguém passando fome ou dificuldades, ainda mais o meu irmão. A gente vêm ajudando ele há muito tempo. Todo final de semana, a nossa mãe leva para eles cuca, pão e bolo. A gente faz uma compra no mercado quando precisa também”, relatou ela.

Além de Márcia, Edemilson tem mais sete irmãos. Todos moravam no mesmo terreno onde ele vive até hoje.

Sem internet, pai percorre 28 km de bicicleta de um estado a outro toda semana para buscar tarefas dos filhos — Foto: Arquivo pessoal/Herison Schorr

Sem internet, pai percorre 28 km de bicicleta de um estado a outro toda semana para buscar tarefas dos filhos — Foto: Arquivo pessoal/Herison Schorr

Desafio do ensino à distância

Morando em uma casa às margens da rodovia, a família raramente consegue sinal de telefonia. Edemilson aproveita para fazer ligações, quando precisa, no trabalho, e os filhos se arriscam caminhando pela rodovia até encontrarem algum sinal para o celular.

“É arriscado, mas é o jeito. Eu mal tenho condições de colocar um prato cheio na mesa, quem dirá um computador e internet. Não é feio passar aperto, feio é não tentar mudar e fazer o melhor que pode. Vou quantas vezes precisar e até mais longe. Meu amor por eles me move”, pontuou.

Conforme o pai, algumas vezes, quando a tarefa exige algum tipo de pesquisa, um dos filhos vai até a região que tem sinal de telefonia, faz capturas de tela do celular com o conteúdo e volta para terminar em casa.

Edemilson cuida de Wellinton, de 16 anos, Amabili, de 14, e Nicole, de 12 — Foto: Arquivo pessoal/Herison Schorr

Edemilson cuida de Wellinton, de 16 anos, Amabili, de 14, e Nicole, de 12 — Foto: Arquivo pessoal/Herison Schorr

O professor Nilton Schorr dá aulas de geografia para os três filhos de Edemilson há uns seis anos. Ele conta que os adolescentes sempre se mantiveram firmes nos estudos, apesar das dificuldades financeiras e de distância do colégio.

“A família toda é um exemplo de dedicação. Agora, com a potencialização do problema com a pandemia, eles demonstraram ainda mais garra. Todos poderiam simplesmente desistir, mas não. Tudo isso graças ao esforço do pai, a criação humilde e correta”, disse.

Ajuda

Segundo a diretora do colégio onde eles estudam, Rosângela Maria Moisés, a internet na região entre as cidades sempre foi um problema, mas que após a passagem de um ciclone bomba, tudo ficou ainda pior.

“Os alunos já estavam enfrentando dificuldades para ter acesso às aulas remotas durante a pandemia e, depois disso [ciclone], aumentou o número de famílias prejudicadas. Os três [filhos de Edemilson] estão entre os mais de 300 que precisam estudar só com atividades impressas”, explicou.

Conforme a diretora, os três são muito queridos em toda a escola. Para ela e as duas assessoras que fazem o filtro da situação dos estudantes, é impossível não querer ajudar a família de alguma forma.

“Temos um carinho enorme pelos três, e também pelos outros estudantes, claro. Mas, cada aluno é especial para nós. Esse pai é muito guerreiro. É de cortar o coração ver pessoas que tem direito como qualquer outro, estarem nessa situação”, disse Rosângela.

A diretora contou que várias vezes tentou auxiliar a família, mesmo que pouco.

De acordo com Rosângela, certo dia, ela e as assessoras juntaram o dinheiro que tinham na carteira e compraram um chinelo, um tênis e um agasalho para Wellinton porque o chinelo que ele tinha ido para o colégio arrebentou.

“Uma das assessoras da escola estava no pátio, e o menino estava com o pé no chão, aí ela perguntou o motivo e ele disse que o chinelo tinha arrebentado. Ela veio falar comigo e nós duas começamos a chorar. Demos as coisas para ele, e o olho dele brilhava. Essa família vale ouro”, concluiu.

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