Jaru Online
Jaru, 22 de novembro de 2024

Presídio em Roraima tem surto de bactéria que corrói pele

Detentos da penitenciária agrícola de Monte Cristo, em Boa Vista (RR), estão sofrendo com a contaminação por uma doença infecciosa ainda desconhecida que provoca feridas e corrosão da pele.

Segundo informou a OAB-RR, ao menos 24 presos estão internados no hospital geral do estado com os sintomas.

Depois de visita aos pacientes nesta sexta-feira (17), o presidente da comissão de direitos humanos do órgão relatou que eles estão com micoses severas, principalmente nas extremidades do corpo, chegando a corroer a carne.

Outros apresentam quadro de paralisia nas pernas por conta do inchaço nas articulações. Há ainda presos com hepatite e tuberculose.

“Pelo que viu, é grave, é muito séria a situação dos internos, mas estão todos medicados”, declarou Hélio Abozaglo após a visita.

Irmã de um dos presos, internado desde terça-feira passada, Suelen Araújo conta que a bactéria já consumiu parte das mãos, nádegas e pés do detento.

“Ele estava sendo comido vivo”, disse. Ela afirma que o irmão compartilhava a cela com capacidade para três pessoas com outros 16 detentos.

Suelen aponta que a penitenciária não tem condições de higiene e que o irmão usava a mesma roupa desde que foi detido, há quatro meses.

Após o período no hospital, ela quer que ele continue o tratamento em casa. “Ele deve cumprir a pena dele, mas não pagar de uma maneira que tenha que perder parte do corpo”, apontou.

De acordo com o presidente da OAB-RR, Ednaldo Vidal, a penitenciária tem capacidade para 500 pessoas, mas abriga cerca de 1.300.

Nesta segunda-feira (20), a comissão da OAB encaminhou um relatório que acompanhou pedidos de providências para diversas autoridades brasileiras e no exterior, como para a Comissão Interamericana de Direitos Humanos.

Pelo Twitter, neste domingo (19), a Comissão cobrou do Estado brasileiro providências para garantir acesso a tratamento de saúde especializado às pessoas afetadas pela bactéria e a tomar medidas para solucionar os problemas estruturais na penitenciária de Roraima.

Vidal aponta que a instituição já havia denunciado a superlotação e consequentes surtos de doenças há 40 dias. Pedidos foram encaminhados para secretarias estaduais e órgãos do judiciário local e nacional, como para o CNJ (Conselho Nacional de Justiça) e procuradoria-geral de Justiça. Segundo ele, nada foi feito.

“Pessoas estão sendo comidas vivas em pleno século 21, isso é tortura causada pela omissão das autoridades que foram alertadas”, disse. Uma nova vistoria no presídio deve ser feita pela instituição nesta semana.

Também faltam materiais de higiene e limpeza, o que levou a OAB a fazer uma doação de sabonetes antibacterianos e aparelhos de ar-condicionado para o presídio.

“É um caldeirão de cozinhamento de presos, o odor não deixa qualquer um entrar, é uma situação absurda”, relatou.

A esposa de um dos presos, que não quis se identificar, afirma que visitou o marido na sexta-feira e que ele e vários outros detentos estão com os sintomas.

“Ele está com a pele cheia de sarnas e dorme no banheiro por causa da superlotação”, disse. Ela está requisitando transferência para o detento, que responde por associação ao tráfico.

O presidente da OAB-RR aponta ainda que Roraima passa por uma crise na área da saúde e carece de médicos especializados, o que dificulta o diagnóstico preciso da doença. A Folha ainda não conseguiu contato com a secretaria de saúde do estado.

Quando os membros da comissão estiveram no hospital, 14 detentos eram atendidos na enfermaria, mas os outros dez aguardavam em observação nos corredores do local.

A situação também preocupa os agentes penitenciários e advogados. Vidal diz que alguns defensores relatam não querer entrar no presídio por medo de contaminação.

A penitenciária de Monte Cristo está sob intervenção federal desde novembro.

Há dois anos, o local foi palco do massacre de 33 detentos.

Em nota, o Depen, órgão do ministério da Justiça e Segurança Pública responsável pela intervenção, informou que atua em caráter episódico, exercendo atividades e serviços de guarda, vigilância e custódia de presos, mas que a assistência dos detentos é de responsabilidade do estado.

Fonte:Folhapress

 

Presídio em Roraima tem surto de bactéria que corrói pele

COMPARTILHAR