Como havia noticiado em 2019, a derrubada ilegal na floresta no ramal Soldado da Borracha em Cujubim continua. O local vive atualmente um clima de velho oeste. Desde 2016, posseiros invadiram áreas para fazer extração de madeira ilegalmente. A situação piorou no fim do ano passado, quando o maior proprietário de terras da região, Chaules Pozzebon, foi preso. A circunstância abriu caminho para novas invasões e mais desmatamento.
Chaules Pozzebon foi preso em outubro deste ano. Ele tinha licença ambiental para explorar uma área equivalente a 1.000 campos de futebol e implementou, por exigência legal, um plano de manejo florestal. Depois da extração, as áreas devem aguardar em uma espécie de quarentena para se recuperar, isso garante a sustentabilidade do ecossistema.
Para conseguir aplicar o plano de manejo, Chaules obteve autorização da prefeitura de Cujubim para abrir uma estrada privada na região. Os custos para a manutenção da via eram cotizados entre todos que faziam extração de madeira. Foi construída uma porteira, ponto onde eram recolhidas as contribuições dos caminhões carregados com toras que circulavam na estrada. Moradores tinham acesso livre.
Um grupo de 14 posseiros, que não detém a propriedade das terras e deliberadamente ocuparam o local, denunciou o caso ao Ministério Público de Rondônia. Em um primeiro momento alegaram que eram extorquidos para usar a estrada, depois mudaram de ideia, como é o caso de Deisiane Almeira Correia, que disse ao MP que mesmo depois de se negar a pagar a contribuição para melhoria da estrada privada circula normalmente pela estrada. “Não fomos mais cobrados e eles não vão em minha casa”, destacou a posseira. Mesmo diante das afirmações confusas, os promotores pediram a prisão de Chaules por extorsão. Ele segue detido desde novembro do ano passado no presídio federal de Campo Grande.
Flagrantes
Com Chaules fora do circuito, as ocupações proliferaram. Os invasores, a maioria ligada ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), derrubaram árvores centenárias, como castanheiras, e iniciaram o plantio de pasto. Há vídeos que mostram os posseiros montando pequenos barracos para começar as atividades pecuárias. Como uma milícia, eles não deixam ninguém entrar no local, nem mesmo os fiscais do Instituto Chico Mendes (ICMBio), responsáveis por fiscalizar o local. Vídeos mostram os agentes públicos sendo acuados e agredidos pelos invasores.
Há imagens do flagrante do que chamam na região de “madeira fria”. As toras não tem as etiquetas de cadeia de custódia. Quando se extrai uma tora de um projeto de manejo, a lei exige que seja inserida uma plaqueta de identificação informando qual o número do projeto, a faixa da “picada” (caminho para se chegar ao local) e a localização dela. Esses dados servem para que se possa conferir exatamente de onde se retirou a madeira numa fiscalização.
O crime ambiental é ainda mais grave porque as toras que aparecem no vídeo são “portas sementes” ou matrizes. Elas foram preservadas durante a extração e deveriam permanecer na floresta para servir como fonte de sementes para novas árvores, e assim garantir que as espécies encontradas no local não sejam extintas. São geralmente as mais antigas, altas, frondosas, com copas altas, justamente para espalhar sementes. Também estão sendo derrubadas árvores marcadas pelo plano como corte futuro. O que foi preservado pelos detentores do manejo tá sendo extraído pelos invasores.