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Jaru, 20 de setembro de 2024

Números da Covid-19 no país podem ser maiores porque quantidade de testes é insuficiente

A quantidade de testes em pessoas com suspeita da Covid-19 ainda é insuficiente no Brasil. Por esse motivo, muitos especialistas acham que as taxas de contaminação e de mortalidade podem ser maiores do que os números oficiais.

A empresária Maristela Duarte Andreoli vive o luto pela perda do marido. Carlos Eduardo, de 59 anos, morreu na última sexta (27) depois de apresentar tosse, cansaço e comprometimento dos pulmões. O resultado do exame de Covid-19, feito há uma semana, ainda não saiu.

“Eu fiz o enterro dele no sábado e eu já me senti mal. Eu não tenho o resultado, só tenho o resultado que eu e ele não tivemos a influenza. H1N1 saiu na hora, mas o do corona, não”, contou.

Existem dois tipos principais de testes para o novo coronavírus. O mais preciso é o RT-PCR: amostras de secreção do nariz e garganta são coletadas com uma haste flexível.

A análise demora pelo menos 12 horas e detecta, com 90% de certeza, se o vírus está ativo, mesmo em pacientes que começaram a apresentar sintomas há apenas um dia.

“Esse é principal teste, o teste ouro. É um teste de difícil execução, precisa de profissional treinado, precisa de máquina específica, precisa de um kit específico, precisa desenvolver o método. Só que o teste não está muito disponível. Teve uma alta demanda e a maioria dos laboratórios não estão conseguindo entregar o teste”, explicou Carlos Eduardo dos Santos Ferreira, médico da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica.

Só em São Paulo, o Instituto Adolfo Lutz, o único que atende a rede pública do estado, tem 14 mil exames como esse esperando resultado.

O infectologista Jean Gorinchteyn diz que além da falta de estrutura nos laboratórios do país, faltam insumos.

“Exatamente produtos, reagentes que são utilizados na testagem, como também a limitação do número de pessoas, de técnicos que façam realmente a interpretação desses exames, fazendo com que haja um retardo no fornecimento dos resultados para as instituições hospitalares”, disse o infectologista do Hospital Emílio Ribas.

Governos do mundo inteiro também estão recorrendo a um outro tipo de teste: os testes rápidos: 500 mil kits chegaram na segunda-feira (30) da China. Eles serão analisados pela Fiocruz antes de serem distribuídos aos estados.

O teste rápido é feito com uma amostra de sangue, uma picada no dedo. Em dez minutos, ele detecta os anticorpos que o organismo produz para se defender do novo coronavírus. Mas, como esse tempo varia de pessoa para pessoa, o teste é indicado apenas a partir de sete dias depois do início dos sintomas. IgM indica que a pessoa está doente. IgG, que já teve a doença.

“Isso é uma ferramenta para o sistema de saúde saber como administrar dinâmica populacional intensa em movimento”, explicou o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta.

Atualmente o Ministério da Saúde recomenda que sejam testados apenas pacientes internados e profissionais da saúde. O ministro disse que o governo pretende fazer o exame PCR, mais preciso, num esquema de drive-thru.

“Nós fechamos o contrato com um pool de laboratórios privados. Vamos fazer os ‘check points’, que as pessoas chamam de drive-thru. A gente faz a logística e centraliza isso tudo em São Paulo e no Rio. Em 24 horas a gente devolve no aplicativo para a pessoa e para o sistema de saúde. Esse teste sim, esse é o que nós vamos levar quase como um mantra nosso, pra gente saber a velocidade de propagação. E o outro, nós vamos usar muito pra saber em qual velocidade de percentual da população que tem anticorpo”, explicou Mandetta.

A cidade com quase 20% da população acima de 60 anos, vai receber esta semana 40 mil testes importados dos EUA. A ideia é identificar as pessoas contaminadas, isolar os infectados e minimizar a propagação do vírus.

“Quando eu exerço esse poder dos testes de ajudar, de apoiar as autoridades de saúde a criar estratégias de bloqueios, muitas vezes até mais efetivos, eu também permito aquele achatamento, uma progressão mais lenta do número de casos, bem como o número de casos graves que acabam impactando nos hospitais”, defendeu Jean Gorinchteyn.


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