Virou motivo de orgulho na aldeia Tenente Marques, da etnia Cinta Larga, a conclusão do curso superior de Katyane Dias em Espigão do Oeste (RO). Aos 22 anos, ela se tornou a primeira indígena da aldeia a se formar em administração.
Em entrevista ao G1, a nova administradora conta que, quando tinha 6 anos de idade, o pai deixou a aldeia Tenente Marques em Espigão do Oeste para ela poder estudar em Cacoal (RO). ‘Meu pai queria me dar o estudo que ele não teve’, diz, feliz.
A escolha pelo curso de administração, segundo Katyane, aconteceu por conta da paixão pelas disciplinas de exatas.
” Sempre fui muito organizada, principalmente com os gastos do meu dinheiro. Mas confesso que quando criança queria ser médica veterinária”, fala.
Foram oito semestres intensos de estudo e, no fim de 2019, após entregar o Termo de Conclusão de Curso (TCC), Katyane diz ter sido tomada por uma emoção. E a emoção foi ainda maior no final de fevereiro, quando aconteceu a festa de formatura da jovem indígena.
Irmã e prima de Katyane, segundo o pai dela, se inspiram na indígena para concluírem os estudos — Foto: Unesc/ Divulgação
1° diploma da aldeia
“Meu professor me informou que eu era a primeira da minha etnia a se formar em administração. Nossa, aquilo foi muito gratificante, pois eu seria a primeira Cinta Larga a ter faculdade. Com certeza um sentimento inexplicável, chorei muito, pois é uma honra poder carregar esse título. Lembro do meu pai falando que ele queria me dar o estudo que ele não teve, e foi com muita luta e vencendo várias barreiras que consegui me formar. Graças a ele, hoje sou a primeira da minha etnia a me formar e estou muito feliz”, diz Katyane.
Pai da Katyane, Paulo Cinta Larga, diz que filha é inspiração para outras mulheres da família — Foto: Katyane Dias Cinta Larga/arquivo pessoal
Para Paulo Cinta Larga, o pai da Katyane, ter a filha formada vai além do orgulho em saber que ela pôde concluir os estudos.
” Ela inspira a minha outra filha e também a minha sobrinha que está estudando ainda. Eu nunca tive estudo e me esforcei para ela fazer medicina, mas ela não quis. Ela me falou que queria fazer administração. Ajudei no que pude. E e meu pai também estamos muito muito orgulhosos dela, é a primeira a se formar também na família”, diz pai de Katyane.