Manifestantes se reuniram em frente ao Palácio do Planalto, em Brasília, na noite desta quarta-feira (17), para protestar contra o presidente Michel Temer. O ato fazia referência às denúncias, reveladas pelo jornal “O Globo” no fim da tarde, de que Temer foi gravado dando aval para comprar o silêncio do deputado cassado e ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
Por volta das 22h20, a Polícia Militar contabilizava mais de cem manifestantes no local. Naquele momento, uma pessoa já tinha sido detida por tentar invadir a área privativa do Palácio do Planalto, de acordo com a PM. O ato foi encerrado por volta da 1h30, sem novas ocorrências.
O protesto invadiu a madrugada, e os participantes diziam ter intenção de fazer uma “vigília” no local. No fim da noite, os manifestantes puxaram um panelaço contra Temer em frente ao prédio presidencial – quem não tinha o “instrumento” usou a própria grade metálica do edifício (veja vídeo acima). Neste momento, Temer já tinha deixado o local.
“A panela foi usada contra a corrupção. E acabamos de ouvir que o Temer pagou propina para calar a boca do Cunha. Trouxe a panela hoje porque ela continua sendo um instrumento de luta contra a corrupção”, disse a servidora pública Mariana Novais, 35, que levou o objeto para a Esplanada.
Fogos de artifício também foram lançados na área próxima ao Palácio do Planalto. Por volta das 23h30, um grupo queimou pneus na Praça dos Três Poderes. Não houve registro de feridos ou de confronto nestes momentos.
Pouco antes das 22h, o grupo que se reunia em frente às grades de proteção do Palácio do Planalto foi “recuado” pela Polícia Militar rumo à Praça dos Três Poderes – do outro lado das seis faixas do Eixo Monumental. Os militares usaram spray de pimenta, mas o grupo voltou a se posicionar junto às grades de proteção cerca de uma hora depois.
Em razão do protesto, todas as faixas do Eixo Monumental foram bloqueadas nos dois sentidos da via, na altura dos prédios do Itamaraty e do Ministério da Justiça. O trânsito foi direcionado para as vias N2 e S2, que passam por trás dos ministérios dos dois lados do Eixo.
O deputado Alessandro Molon (Rede-RJ), que protocolou um pedido de impeachment contra o presidente Michel Temer após as denúncias, esteve no protesto. Deputados do PT, como Erika Kokay (DF) e Robinson Almeida (BA), também compareceram.
“Os fatos são muito graves, a delação é muito grave, o crime está mais do que comprovado. Portanto, não há como parar esse processo. Espero que o Rodrigo Maia, amanhã, despache o seu ‘de acordo’, mande instalar a comissão, e que a gente casse Michel Temer o quanto antes”, disse Molon.
Dentro do Planalto
Militares do Exército que atuam na segurança do Palácio do Planalto também se posicionaram nos arredores do prédio, para conter o avanço dos manifestantes. No protesto, havia pessoas com bandeiras do PT e do Brasil. O grupo gritava palavras de ordem contra Michel Temer e contra o impeachment de Dilma Rousseff, e também pedia eleições diretas para a presidência da República.
Em nota, o Palácio do Planalto afirmou que Temer se reuniu com o empresário Joesley Batista, dono da JBS, mas “jamais” tentou evitar a delação de Cunha. “Não participou e nem autorizou qualquer movimento com o objetivo de evitar delação ou colaboração com a Justiça pelo ex-parlamentar”, diz trecho.
A denúncia
Segundo o jornal, o empresário Joesley Batista entregou uma gravação feita em março deste ano em que Temer indica o deputado Rodrigo Rocha Lourdes (PMDB-PR) para resolver assuntos da J&F, uma holding que controla o frigorífico JBS. Posteriormente, Rocha Lourdes foi filmado recebendo uma mala com R$ 500 mil, enviados por Joesley.
Ainda não há informação sobre se a delação foi homologada. O Supremo Tribunal Federal (STF) disse que não irá se pronunciar nesta quarta-feira (17) sobre a delação.
Em outra gravação, também de março, o empresário diz a Temer que estava dando a Eduardo Cunha e ao operador Lúcio Funaro uma mesada para que permanecessem calados na prisão. Diante dessa informação, Temer diz, na gravação: “tem que manter isso, viu?”
Na delação de Joesley, o senador Aécio Neves (MG), presidente do PSDB, é gravado pedindo ao empresário R$ 2 milhões. A entrega do dinheiro foi feita a Frederico Pacheco de Medeiros, primo de Aécio, e filmada pela Polícia Federal (PF). A PF rastreou o caminho do dinheiro e descobriu que foi depositado numa empresa do senador Zeze Perrella (PSDB-MG).