Descendente do clã dos “Cantanhêdes”, Raimundo Lima Cantanhêde é filho de Ricardo Cantanhêde e Amândola Cantanhêde. Ele nasceu em 11 de abril de 1921 em Humaitá (AM), local onde viveu o período de infância. A fase de adolescência foi vivida em Belém (PA), Fortaleza (CE) e em Porto Velho, na época do antigo Território Federal do Guaporé, onde trabalhou e construiu família até a sua morte com quase 60 anos ocorrida no dia 20 de fevereiro de 1981.
Aproximadamente quarenta e cinco anos da vida de Raimundo Cantanhêde foram dedicados ao fomento da produção do látex no Seringal Setenta, Rio Pardo, São Salvador, Ubirajara, Pirapora, dentre outros. Alguns desses lugares como o Seringal Setenta, localizado entre os municípios de Jaru e Ariquemes, são conhecidos da população até hoje, mas poucos sabem da importância dos “Cantanhêdes” no ato de desbravar os respectivos locais. A origem do nome Seringal Setenta é devido ao fato de o pai de Raimundo Cantanhêde, o senhor Ricardo Cantanhêde ter aferido essa quilometragem pelo marcador do caminhão desde o porto do rio Jamari, em Ariquemes, até o Monte Nebo, resolvendo por isso, batizar o seringal com esse nome.
Em se tratando de Seringal Setenta, Raimundo Cantanhêde teve ótimas recordações. Foi nesse local que ele conhecera a futura esposa, Nair Ribeiro Cantanhêde, com que teve doze filhos e os criou com muito carinho e amor, dando-lhes a devida educação para torná-los cidadãos íntegros perante a sociedade.
Parentes de Raimundo Cantanhêde relatam que ele era homem de poucas palavras, mas com muita ação visionária e futurista. Tinha sempre à mão ideias e soluções viáveis para problemas considerados difíceis. “Seu Raimundinho”, assim ele era popularmente reconhecido e chamado, inclusive por estranhos, demonstrando um alto grau de simpatia por todos os que estavam à sua volta.
Durante o tempo em que ficou recluso em um barracão no Seringal Setenta, Raimundo Cantanhêde levou uma vida difícil, porém jamais pensou em desistir de seus ideais e comandou centenas de “colocações” no local. As chamadas “colocações” eram instalações demarcadas aos seringueiros para desenvolverem as suas produções. Em uma linguagem atual seria literalmente um lote, porém com poucos recursos. Desprovido de tecnologias da comunicação, mas com experiência e boa vontade, “Seu Raimundinho”, sabiamente tinha o controle de tudo. Era alegre, sorridente e dono de uma genuína personalidade de um homem feliz.
“Raimundo Cantanhêde viveu, sofreu, amou, partiu… Mas não, sem antes deixar de ser útil à sociedade da qual fez parte.” Segundo familiares, se alguém relatar algo a seu respeito, haverá sempre uma versão elogiosa em virtude das atitudes dele em vida. Quem conheceu Raimundo Cantanhêde não tem dúvidas de que conhecera a bondade, a honestidade, a sinceridade e acima de tudo um singular homem que agia com nobreza e magnitude. “Ele possuía a receita mais singela de um viver: era justo, ético e solidário”, relata Maria Graciana Ribeiro Cantanhêde em tom de felicidade por ter um pai que muito contribuiu para o desenvolvimento de várias localidades do espaço hoje conhecido como Estado de Rondônia.
A importância de Raimundo Cantanhêde foi tamanha. Além de uma escola com o nome dele, existe uma rua na área central do município de Jaru, com vários órgãos importantes, sendo dentre eles: Delegacia de Polícia Civil, Tribunal Regional do Trabalho (TRT), Ministério Público, Câmara Municipal, Prefeitura, além do Tribunal de Justiça, que fora construído no local onde anteriormente funcionava a Prefeitura de Jaru, antes de o prédio ser destruído pelo fogo na madrugada do dia 23 de dezembro de 2000.
Seringal Setenta
O Seringal Setenta é algo que faz parte da História de Jaru e foi tema de uma publicação feita no Facebook por Luiz Alberto Cantanhêde – filho de Aldemir Lima Cantanhêde e sobrinho de Raimundo Cantanhêde – no dia 25 de agosto de 2015. Confira abaixo, o texto publicado com autorização da professora aposentada Maria Graciana Ribeiro Cantanêde, filha do pioneiro Raimundo Cantanhêde.
Esse inesquecível lugarzinho foi instalado pelo Seu Ricardo Cantanhêde por volta de 1920, tendo ali gerado seu filho mais novo, meu pai Aldé Cantanhêde (Aldemir Cantanhêde), trazido ao mundo na semana do Natal de 1924. De quando em vez alguém me interpela querendo saber o significado do Setenta no nome do seringal.
Sem querer me imiscuir na seara da história, ouso dizer que a explicação tem um pouco a ver com a origem de Rondônia. Depois de finalizados os trabalhos de implantação da linha telegráfica de Porto Velho a Cuiabá, em 1915, o Seu Ricardo Cantanhêde, que trabalhava na Comissão Rondon, optou por permanecer na região e se dedicar a atividades ligadas à exploração de seringais nativos para produção de borracha.
Com esse intuito localizou a sede de seu negócio na área contígua à estação telegráfica instalada no sopé do Monte Nebo, nome original da serra onde ficaria o seringal Setenta. O acesso ao local significava verdadeira aventura ao longo de intermináveis semanas, num percurso nada atraente. Partindo de Porto Velho era preciso descer o rio Madeira, depois subir pelo rio Jamari, passando pela cachoeira de Samuel, para chegar a Ariquemes, de onde se fazia o restante do trecho em lombo de burro até chegar à sede do seringal, seguindo pela picada da linha telegráfica.
Eis que no início dos anos quarenta, seu Ricardo resolveu encarar o desafio de adquirir um caminhão e levá-lo rodando até o Monte Nebo, tendo para isso construído a estrada no muque e no machado. Conta-se que durante vários dias a festa de chegada preparada pela sua mulher Amândula Cantanhêde se iniciava, mas depois era interrompida. É que o carro enguiçou pertinho da chegada, mas seu Ricardo não admitia chegar sem o veículo, preferindo dormir no carro a poucas centenas de metros de casa a chegar sem ele.
Sim, mas a razão do nome Setenta? Foi esta a distância que Seu Ricardo Cantanhêde aferiu pelo marcador do caminhão desde o porto do rio Jamari, em Ariquemes, até o Monte Nebo, resolvendo por isso, batizar o seringal com esse nome.
Link da publicação no Facebook: https://www.facebook.com/photo.php?fbid=755495317895436&set=a.572612666183703&type=3
A Escola Raimundo Cantanhêde
A Escola Raimundo Cantanhêde está situada à margem esquerda da BR-364 no sentido Jaru – Ariquemes. A instituição começou a funcionar em 1982 como escola rural contando com 90 alunos. Em 1983, urbanizou-se com o Decreto de Criação 1025 datado de 11 de abril daquele ano. O estabelecimento de ensino começou a funcionar com duas salas de aula e em seguida foi construída uma terceira sala para atender a demanda que existia à época. A primeira diretora da escola foi a professora Ozenir Rodrigues, considerado por muitos como um exemplo a ser seguido.
Durante o ano de 1984 a instituição foi contemplada com uma nova ampliação, dessa vez para dez salas de aula em virtude da grande quantidade de alunos que precisava realizar seus estudos. Nesse período, o estabelecimento de ensino funciona em dois turnos para possibilitar um atendimento educacional adequado para todos os alunos.
A escola Raimundo Cantanhêde cresceu juntamente com o bairro a qual pertence. Ao longo dos anos a instituição recebeu inúmeras melhorias do Governo do Estado, o órgão mantenedor da instituição. O estabelecimento conta com um corpo docente, servidores de apoio e direção totalmente sintonizados com a aprendizagem de todos os alunos que diariamente frequentam a escola.
Por decisão do Governo do Estado, o ano de 2020 representa uma mudança significativa no estabelecimento de ensino. O Decreto nº 24.802, publicado em uma edição suplementar do Diário Oficial de Rondônia (DIOF-RO) em 17 de fevereiro de 2020, dispõe sobre a transformação da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Raimundo Cantanhede em Colégio Tiradentes da Polícia Militar (CTPM) e dá outras providências, alterando completamente a estrutura de funcionamento da escola.
De acordo com o Artigo 2º do presente decreto, a Secretaria de Estado da Educação (Seduc) e o Comando Geral da Polícia Militar devem adotar as medidas necessárias para o pleno funcionamento na forma determinada pelo Governo em até 90 dias, ou seja, o município de Jaru poderá contar de fato uma unidade escolar no padrão militar ainda no primeiro semestre deste ano. Porém, devido à sanção do Decreto Estadual nº 24.887, de 20 de março de 2020, onde o Governo do Estado decreta Estado de Calamidade Pública por causa da pandemia do Covid-19, o dia exato para a transformação da instituição em um estabelecimento de ensino Militar poderá ser alterado pelo governo.
O contato com o autor para conhecer as suas produções literárias pode ser feito de duas formas. Pelo WhatsApp no link https://umzap.com/ELIASGONCALVES, pelo telefone (69) 9 9241-8033 ou através do Facebook, por meio do seguinte endereço eletrônico: https://www.facebook.com/eliasgpjaru.
Nota da Redação: Este material faz parte do conteúdo historiográfico contido no livro “Vivendo Nossa História”, cuja propriedade intelectual pertence ao escritor jaruense Elias Gonçalves Pereira e está sendo publicado em sites de Jaru no formato de reportagem de forma atualizada no ano de 2020 com a expressa autorização do autor. Todos os Direitos Reservados. Copyright © Elias Gonçalves Pereira.