Thauan de Souza Teixeira é de Carapicuíba, uma das cidades mais populosas de São Paulo. Tem uma daquelas histórias conhecidas: menino de origem simples que só brincava de bola e se vê como a esperança da família de ter uma vida melhor por meio do futebol. O menino que sai de casa cedo para buscar o sonho, mas sofre com as estruturas precárias e as mazelas humanas que atrapalham os contos de fadas.
Ele hoje tem 24 anos. Foram praticamente dez dedicados ao futebol, entre categorias de base e profissional. Passou por times como o Internacional e a Portuguesa, mas agora bola e chuteira estão num quadro pendurado na parede — ou no fundo de tela do celular, para soar mais a cara dele.
Faz mais ou menos um ano que Thauan ganha a vida como modelo e influenciador digital. Dentro da internet, desbrava um ramo que faz muitos ainda torcerem o nariz, especialmente no ambiente conservador do futebol. Em perfis nas plataformas Privacy e Onlyfans, vende fotos sensuais e de nudez para muitos seguidores.
Ao UOL Esporte ele diz que a nova profissão dá mais dinheiro do que o futebol. Por outro lado, mostra sofrer com o afastamento dos antigos amigos jogadores e alguns olhares atravessados: “Eu fico triste com as pessoas que julgam sem saber da minha história. Não sou só o Thauan que faz Onlyfans e posta nudes. Tenho uma vida por trás, uma família que depende de mim.”
A vida por trás do nude é a história deste conto de fadas meio torto que pode ser a vida de um jogador.
Dificuldades na base e auge com apoio de ex-jogador do São Paulo
Thauan foi andarilho da bola já nas categorias inferiores. Ele saiu de casa aos 13 anos por uma chance no Fluminense e em seguida vieram passagens, experiências curtas ou períodos de testes com as camisas de times como Internacional, Guarani, PSTC-PR. Sete de Junho-SE e Inter de Limeira. Só na Portuguesa é que o tempo foi um pouco mais extenso.
Nessa época atuou pelos times sub-17 e sub-20 e treinou com os profissionais. Antes disso era só perrengue: “Quando eu tinha de 14 para 15 anos estive num clube que não tinha uma condição muito boa. Não tinha alimentação frequente nem dinheiro, então eu não comia direito. Fiquei e durante um ano cheguei a passar fome”, relembra.
Thauan conseguiu um empresário, o ex-zagueiro e lateral Ivan Rocha, que atuou pelo São Paulo e fez fama no futebol espanhol. “Eu acreditava muito no potencial dele, mas com o passar dos anos fui percebendo que ele de repente tinha outro foco além de ser um atleta profissional”, relembra o antigo empresário.
Chama no zoom, dá um close: dos gramados para as redes sociais
Depois da Portuguesa, o atacante ficou em São Paulo para defender o Votuporanguense e o Andradina, ambos do interior paulista. Neste último clube terminou como um dos dez artilheiros da Quarta Divisão do Paulistão de 2018, com sete gols. Foi seu último momento de relativo destaque antes de duas lesões no joelho que, somadas à falta de projeção, deixaram o sonho mais distante.
“Operei uma vez, o Votuporanguense arcou com a recuperação, e voltei depois de um ano, mas meu contrato acabou. Fui para outro clube, o VOCEM-SP, e ia assinar com eles. No dia anterior, num treino, me machuquei de novo e acabei não ficando, nem joguei. Estou parado e ainda preciso fazer uma cirurgia. Mas fazer o quê?”
Nessa hora eu pensei: ‘Como eu vou fazer agora? Só joguei futebol minha vida toda, não sei fazer mais nada’. Eu fui para a escola, mas não era minha praia.
Neste momento de dúvidas sobre o futuro é que veio a ideia de ganhar dinheiro com a internet, na onda da influência digital. Thauan hoje tem mais de 300 mil seguidores no Instagram, onde publica fotos sem camisa, e 1,2 milhão no Tiktok, onde suas dancinhas e dublagens já alcançaram mais de 7 de milhões de curtidas.
David Brazil ajudou jogador a furar bolha do futebol
Thauan aos poucos construiu uma reputação digital que apostava muito na exibição do corpo. “Sou muito vaidoso, sempre gostei de tirar fotos, sempre gostei do meu corpo, então foi natural que isso acontecesse”, justifica.
O futebol foi até aliado nesta nova carreira.
“Para mim é mais fácil, porque eu venho de um meio em que fazemos muito sacrifício físico. Desde que eu jogava aprendi a gostar disso e mantenho meu corpo com exercícios. Não faço dieta regrada, só evito de comer doce, gordura e fritura, mas tenho muito foco na academia. Gosto muito de malhar e pretendo sempre estar com o corpo bonito. Esses cuidados ajudam bastante.”
Suas publicações nas redes sociais passaram a atingir perfis muito populares, como do radialista David Brazil, que virou presença constante nas caixas de comentários de Thauan. Graças ao forte alcance do “padrinho” com o público LGBTQIA+, o jogador passou a ser conhecido para fora da bolha do futebol. E, segundo ele, cada vez mais incentivado a apostar em conteúdos ousados. Daí pro Onlyfans foi um pulo.
Plataforma de nude “dá mais dinheiro que o futebol”
As redes sociais criaram uma nova era de produção pornográfica na internet, com a possibilidade de pessoas publicarem conteúdo de forma independente, sem vínculo com produtoras. Criada em 2016 como site de venda de conteúdos diversos, a plataforma britânica Onlyfans virou símbolo dessa era. Lá, os produtores vendem conteúdo em troca de uma assinatura mensal do internauta em dólar.
Hoje a ferramenta é dominada por criadores que publicam fotos e vídeos eróticos. No Brasil, uma plataforma chamada Privacy foi lançada em novembro de 2020 para explorar o mesmo nicho — mas em português. Thauan Teixeira está em ambas.
“Foi o meio que eu consegui. Queira ou não, é um trabalho, e está me ajudando muito. Posto as fotos e consigo minha renda mensal, que graças a Deus está melhorando muito. Não sou só um cara que vai ali porque quer mostrar, eu preciso fazer isso para ajudar a família e viver. Machuquei meu joelho e o caminho que consegui foi esse, como modelo, influencer, e agora abrindo o Onlyfans”, conta.
Thauan cobra 25 dólares (aproximadamente R$ 140) mensais pela assinatura no Onlyfans e R$ 150 no Privacy. Ele tem entre 40 e 50 publicações nas duas plataformas. “Hoje, ao todo, tenho quase mil inscritos. As plataformas tiram mais ou menos 20%, mas é um negócio legal”, diz, antes de admitir:
“Dá um dinheiro bom, mais do que no futebol. Não tenho nem três meses no site, se continuar assim pretendo manter e postar muita coisa.”
Fonte: DO, UOL