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Jaru, 19 de abril de 2024

Seis anos depois, réus voltam a júri por assassinato de Naiara Karine; veja a linha do tempo

Depois de seis anos da morte da estudante de jornalismo, Naiara Karine, dois acusados de envolvimento no crime vão novamente a júri popular, na próxima quarta-feira (15) em Porto Velho. O crime teve grande repercussão na capital e foi marcado por julgamentos longos, que atraíram muitas pessoas ao tribunal.

Ao todo, três pessoas foram condenadas, um réu inocentado das acusações e um suposto mandante ainda não identificado. Nos últimos anos, o caso foi marcado por homenagens da família e amigos, além de novas descobertas de uma investigação ainda não totalmente concluída, segundo o Ministério Público.

Às vésperas de mais um capítulo do caso Naiara, o G1 traçou uma linha do tempo para relembrar ponto a ponto os mais de seis anos de investigação.

24/01/2013: a estudante de jornalismo Naiara Karine, de 18 anos, sai de casa às 9h para uma aula teórica em uma autoescola. A jovem termina a aula às 11h30 e acaba sendo levada pelos criminosos a um sítio abandonado na zona rural de Porto Velho, onde é estuprada coletivamente e, em seguida, é morta com mais de 20 golpes de faca.

O corpo de Naiara é localizado pela polícia cinco horas depois de ser dada como desaparecida. A Polícia Civil chegou ao local, graças ao localizador do celular da vítima. Ela foi enterrada em Campo Bom (RS), onde nasceu.

24/02/2013: o assassinato de Naiara completa um mês. Familiares e amigos organizam uma caminhada para relembrar a data e cobrar agilidade nas investigações. Após um mês, a Polícia Civil caracterizou o crime como sequestro, estupro e homicídio, mas nenhum suspeito é identificado.

Ao fim da passeata, balões brancos foram solto no ar em homenagem a estudante e outras vítimas de violência em Porto Velho — Foto: Vanessa Vasconcelos/G1

Ao fim da passeata, balões brancos foram solto no ar em homenagem a estudante e outras vítimas de violência em Porto Velho — Foto: Vanessa Vasconcelos/G1

24/03/2013: Morte da estudante completa dois meses. Polícia Civil afirma ter várias frentes de investigação. Dezenas de pessoas são ouvidas, imagens analisadas. Nenhum suspeito ainda está preso.

16/07/2013: Polícia Civil prende o vigilante Marco Antônio, de 38 anos. O acusado confessa em depoimento que gravou um vídeo do momento em que estuprou Naiara usando o celular da própria vítima. As imagens ficam em poder da polícia. A Polícia Civil afirma que chegou ao acusado graças a imagem da cueca que ele usava no momento do crime, além de algumas tatuagens de Marco.

O vigilante já tinha prestado esclarecimentos à polícia. Ele confessou que levou Naiara até o local do crime em uma motocicleta. A polícia descarta o envolvimento de um instrutor de autoescola no crime. A polícia dá o caso como esclarecido, apesar de algumas perguntas ainda estarem sem resposta. O investigador aponta que Marco deixou implícito a participação de outra pessoa.

Cueca ajudou a identificar suspeito segundo a polícia — Foto: Ivanete Damasceno/G1

Cueca ajudou a identificar suspeito segundo a polícia — Foto: Ivanete Damasceno/G1

16/08/2013: Marcos Antônio é indiciado por estupro e homicídio triplamente qualificado de Naiara.

Advogado Janor Ferreira (à esquerda) e suspeito Marco Antônio — Foto: Ivanete Damasceno/G1

Advogado Janor Ferreira (à esquerda) e suspeito Marco Antônio — Foto: Ivanete Damasceno/G1

26/09/2013: O agente penitenciário Richardson Bruno Mamede das Chagas é preso, após a Polícia Civil identificar uma digital que aparece nas imagens do crime. Além de agente, o acusado também prestava serviços como segurança particular fora do horário de trabalho. Ele é levado ao Centro de Correição da Polícia Militar (PM).

11/12/2013: Francisco da Silva Plácido é preso suspeito de participação na morte de Naiara. Ele também é agente penitenciário e amigo de Richardson, que o apontou durante as investigações.

A Polícia Civil confirma que os dois eram colegas e que Richardson trabalhava na empresa de segurança em que Francisco era sócio-proprietário. Investigações apontam um possível envolvimento de Wagner Strogulski de Souza, amigo de Naiara. A Polícia Civil continua acreditando que há mais pessoas envolvidas no crime.

24/01/2014: Morte de Naiara Karine completa um ano. A polícia ainda não descobriu a motivação do crime. Três suspeitos estão presos e Wagner segue foragido, mesmo tendo prisão preventiva decretada pela Justiça.

Um inquérito é aberto para investigar o envolvimento de uma quinta pessoa ainda não identificada. Família da vítima vende todo o seu patrimônio e deixa o estado de Rondônia rumo ao Rio Grande do Sul, alegando sofrer ameaças.

Mãe da vítima, emocionada, fala pouco ao chegar ao júri: "só quero justiça". — Foto: Assem Neto/G1 RO

Mãe da vítima, emocionada, fala pouco ao chegar ao júri: “só quero justiça”. — Foto: Assem Neto/G1 RO

27/03/2014: Marco Antônio é levado a júri popular. Uma multidão se reúne para assistir ao julgamento. 20 policiais são requisitados para fazerem a ronda do lado externo do tribunal. Pais de Naiara, longe de Rondônia há seis meses, retornam para assistir ao julgamento na primeira fila.

Multidão aguardava do lado de fora, mas apenas 45 assentos podem ser ocupados — Foto: Assem Neto/G1 RO

Multidão aguardava do lado de fora, mas apenas 45 assentos podem ser ocupados — Foto: Assem Neto/G1 RO

28/03/2014: Após 15 horas de julgamento, Marco é condenado, por unanimidade, a 24 anos de prisão pelo estupro e morte de Naiara. Ele assumiu a autoria do estupro, mas negou que tivesse matado a vítima. No entanto, os sete jurados entenderam que ele teve participação direta na execução da estudante.

Vigilante chega calado para julgamento. Se condenado por todas as acusações, pode pegar 30 anos de prisão em regime fechado — Foto: Assem Neto/G1 RO

Vigilante chega calado para julgamento. Se condenado por todas as acusações, pode pegar 30 anos de prisão em regime fechado — Foto: Assem Neto/G1 RO

30/07/2014: Wagner Strogulski, amigo de Naiara, se apresenta à Justiça. Na audiência de instrução, o mandato de prisão preventiva é revogado, por meio de um habeas corpus.

A defesa do suspeito alegou que um dos motivos para a prisão preventiva é de que a família de Naiara teria medo de Wagner. O argumento da defesa foi apoiado pelo Ministério Público, que não viu razão para a custódia preventiva do suspeito. A juíza Euma Tourinho concede liberdade a Wagner.

04/02/2016: Estudantes de jornalismo e amigos de Naiara homenageiam a vítima durante coleção de grau, em Porto Velho. Naiara teria se formado no mesmo mês, caso estivesse viva. O nome da estudante foi escolhido para representar a turma.

31/03/2016: O primeiro dia do julgamento de Richardson, Francisco e Wagner dura 12 horas. Seis testemunhas são ouvidas, entre elas os peritos criminais federais, o delegado responsável pelo inquérito e o médico legista, que apontou a impossibilidade de defesa por Naiara. Um dos peritos indicou que as digitais de Richardson estavam no celular da vítima, usado na gravação do vídeo de estupro.

Segundo a denúncia, Francisco teria chamado Marco [já condenado], seu ex-funcionário, para dar ‘um susto’ em Naiara pela quantia de R$ 1,4 mil. A empresa de Francisco atuava no bairro onde Naiara morava.

O delegado do caso explica que as investigações não conseguiram provar a motivação do crime ou quem teria pagado pela execução. Segundo o delegado, o condenado Marco deu a certeza de envolvimento de Francisco e Richardson e apontou Wagner como o “meio playboy” que estava no dia do crime.

O delegado afirma que durante o vídeo ouve-se uma chamada telefônica, onde um dos integrantes diz se tratar de um Bruno. Naiara pergunta se está lá por “por causa do Bruno”.

As defesas dos réus alegam que Marcos é o único assassino. O advogado de Richardson afirma que no dia do crime seu cliente estava de plantão no presídio Vale do Guaporé, em Porto Velho. Já a defesa de Francisco afirma que o réu estava 12 quilômetros distante da cena do crime.

Julgamento Naiara Karine 2016, em Porto Velho, RO — Foto: TJ-RO/Divulgação

Julgamento Naiara Karine 2016, em Porto Velho, RO — Foto: TJ-RO/Divulgação

01/04/2016: Tem início o segundo dia de julgamento. O delegado do caso, Nestor Romanzini, considera a investigação como “uma das mais difíceis de elucidar”. Segundo ele, Marco teria chegado a apontar a existência de um suposto mandante durante o processo.

Durante o julgamento, o delegado afirmou que há um terceiro inquérito para apurar a possibilidade de existência de um mandante. As investigações não conseguiram apontar a identidade do suposto Bruno, citado no vídeo.

Depoimento prestado em 2014 pelo delegado Nestor Romanzini foi exibido para os presentes.  — Foto: TJ-RO/Divulgação

Depoimento prestado em 2014 pelo delegado Nestor Romanzini foi exibido para os presentes. — Foto: TJ-RO/Divulgação

02/04/2016: Inicia-se o terceiro dia de julgamento dos réus. Acusados alegam inocência. O primeiro a depor é Richardson Mamede que mantém a versão de que estava de plantão no dia do crime, mas não soube responder se teria saído no mesmo dia. O réu alegou não conhecer o vigilante Marco,

O acusado Francisco Plácido é o segundo a depor. Ele afirmou que Richardson não era funcionário de sua empresa, mas um prestador de serviço. Sobre o condenado Marco Antônio, afirmou conhecer o acusado, mas que este não prestava serviço a ele e não possuíam intimidade.

O último réu a ser ouvido foi Wagner Strogulski que falou sobre o vínculo de amizade que tinha com Naiara e disse não conhecer nenhum dos três acusados. Ele afirmou que na data do crime estava em casa participando de um almoço de família, chegando a falar com a vítima por mensagens de celular horas antes do crime.

Wagner disse, ainda, que só voltou a tentar contato com a amiga às 15h, quando recebeu a ligação de um amigo que comunicou o sumiço da estudante. A defesa sustentou que não há provas suficientes para comprovar que Strogulski tenha participado do crime.

O vigilante Marco Antônio é ouvido no tribunal no momento mais discutido entre acusação e defesa. O promotor do Ministério Público de Rondônia (MP-RO), Elias Chaquian Filho, inicia o debate mostrando aos jurados as provas contidas no inquérito, como fotos, vídeos e a sessão de reconhecimento dos acusados pelo acusado Marco.

Julgamento Naiara Karine 2016, em Porto Velho, RO, terceiro dia, promotor Elias Chakian Filho — Foto: TJ-RO/Divulgação

Julgamento Naiara Karine 2016, em Porto Velho, RO, terceiro dia, promotor Elias Chakian Filho — Foto: TJ-RO/Divulgação

Os assistentes de acusação alertam os jurados sobre o comportamento dos acusados durante os interrogatórios. Segundo os assistentes, os réus estariam representando técnicas descritas em livros de júri popular. Eles também alertaram os jurados para o fato de que Marco não teria motivo para prejudicar os demais acusados, porque já havia admitido a culpa.

Em contrapartida, a defesa dos três acusados exploraram ao máximo as contradições do depoimento de Marco Antônio, além do histórico de drogas e violência do acusado.

Em seguida, a defesa de Wagner Strogulski relembrou que o “playboy”, citado por Marco Antônio, não tem nenhuma das características do réu e criticou as perguntas “homofóbicas” feitas por um dos assistentes de acusação. O MPRO também pede a absolvição de Wagner por entender que as provas contra ele “são frágeis”.

Já a defesa de Francisco Plácido também questionou o depoimento de Marco. Segundo o advogado, o vigilante confesso buscava a delação premiada, com o objetivo de obter benefícios ao colaborar com as investigações. A defesa ainda citou o histórico de violência doméstica e sexual de Marco Antônio, além do uso de drogas ilícitas como crack e cocaína.

Os debates seguem com réplica e tréplica. Ao final do julgamento, os jurados, cinco homens e duas mulheres, vão para uma a sala secreta e votam os quesitos do julgamento.

03/04/2016: Após mais de 40 horas de julgamento, o resultado vem na madrugada do dia 03 de abril. Os agentes penitenciários Francisco Plácido e Richardson Mamede são condenados pelo crime de homicídio, mas inocentados do crime de estupro. Wagner Strogulski é absolvido das acusações por unanimidade.

Francisco foi condenado a 9 anos de prisão, em regime semi-aberto. Já Richardson Mamede é condenado a 14 anos, inicialmente em regime fechado. Os réus primários perdem, ainda, o cargo público de agente penitenciário.

O promotor do MP-RO, Elias Chaquian Filho, afirma a insatisfação com o resultado, e que outras investigações serão feitas.

Julgamento Naiara Karine 2016, em Porto Velho, RO, terceiro dia — Foto: TJ-RO/Divulgação

Julgamento Naiara Karine 2016, em Porto Velho, RO, terceiro dia — Foto: TJ-RO/Divulgação

15/04/2019: Richardson e Francisco vão novamente a juri popular. O novo julgamento acontece após o MP-RO recorrer da decisão que absolveu os réus do crime de estupro. O Tribunal de Justiça de Rondônia (TJ-RO) acatou o recurso e anulou a decisão do Conselho de Sentença de abril de 2016 No entendimento dos órgãos de Justiça, “a decisão dos jurados contrariou a prova dos autos”.

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