Jaru Online
Jaru, 22 de novembro de 2024

Seca na Amazônia: Rio Madeira fica abaixo de 2 metros e tem pior agosto em quase 60 anos

Em um período de estiagem extrema, o rio Madeira atingiu a cota média de 1,80 metro nesta sexta-feira (22) em Porto Velho. O número é o menor já registrado no mês de agosto em 57 anos, desde que os níveis começaram a ser registrados pelo Serviço Geológico do Brasil (SGB).

Considerando o nível do fim de julho, o rio baixou cerca de 60 centímetros em uma mês e se manteve abaixo de 2 metros pela primeira vez em 2024.

Em julho o Madeira já havia batido uma sequência de mínimas históricas e o mesmo foi observado pela SGB em agosto. Por poucos dias o nível do rio esteve acima das mínimas já observadas desde 1967, início da série histórica.

Na maior parte do ano o rio se manteve abaixo da zona de normalidade e por várias vezes ultrapassou as mínimas já observadas historicamente.

Em 2023, a estiagem também causou mínimas históricas para o Madeira. O rio desceu para níveis críticos, até chegar a cota de 1,09 metro: o menor nível da história. O registro aconteceu no dia 5 de novembro, às 4h.

Segundo o engenheiro hidrólogo e pesquisador em geociências pelo SGB, Marcus Suassuna, a tendência é que o rio continue baixando e ultrapassando mínimas históricas, isso por conta da estiagem extrema que atinge o estado de Rondônia.

Porto Velho, por exemplo, está há três meses sem chuvas significativas. A última chuva com um volume considerável foi em 25 de maio. Desde então, foram registradas cerca de três precipitações isoladas e com volume muito baixo.

Mas o que causa essa escassez? Segundo Marcus Suassuna, dois fatores são determinantes:

  • 🌡️ Oceano Atlântico Norte mais aquecido que o normal, e mais quente que o Atlântico Sul.
  • 🚫 Fenômeno El Niño, que causa atrasos no início da estação chuvosa e enfraquecimento das chuvas iniciais do período.

Segundo a Defesa Civil Municipal, ribeirinhos do Médio Madeira são os mais afetados pela seca. Sem água encanada, eles dependem de poços amazônicos, que secaram com a chegada da estiagem.

Seca do rio Madeira em 2024 — Foto: Rede Amazônica

Seca do rio Madeira em 2024 — Foto: Rede Amazônica

A seca não afeta apenas o rio Madeira. O rio Jaru, que banha a cidade de mesmo nome, secou a ponto de ser possível atravessar a pé em determinados trechos.

Imagens mostram que em alguns trechos do rio é possível enxergar a areia do fundo e as pedras. No entanto, a Defesa Civil explica que em outros pontos o volume de água é maior. Essa oscilação ocorre em razão da tipografia do rio.

Seca do rio Jaru 2024 — Foto: Rede Amazônica

Seca do rio Jaru 2024 — Foto: Jaru Online

Conforme a Defesa Civil, sete rios apresentam níveis considerados abaixo da cota média e próximos da mínima histórica para a época do ano, conhecida como o verão amazônico:

  • Candeias
  • Guaporé
  • Jamari
  • Mamoré
  • Machado
  • Madeira
  • Pirarara

 

Rio Madeira e geração de energia

 

Com mais de 3 mil km² de extensão, o Rio Madeira abriga duas das maiores usinas hidrelétricas do Brasil: Jirau e Santo Antônio, que representam cerca de 7% da capacidade de geração do sistema elétrico brasileiro. As duas fazem parte do Sistema Interligado Nacional (SIN) e geram energia para todo país.

A ANA já admitiu a possibilidade de paralisação da hidrelétrica de Santo Antônio por causa da seca. O risco se deve ao funcionamento da usina, em formato de “fio d’água”, que não armazena muita água em seu reservatório e depende do fluxo do rio para manter as turbinas em funcionamento.

Se a vazão do rio for muito baixa, as turbinas ficam impossibilitadas de funcionar para que não sejam danificadas. A hidrelétrica de Jirau, contudo, tem uma flexibilidade maior para operar num espectro de seca maior, por isso ainda não corre risco de paralisação.

Em 2023, a seca extrema na região Norte causou a paralisação da hidrelétrica de Santo Antônio e o desligamento do “Linhão do Madeira”, a mais longa linha de transmissão do mundo, que leva a energia das hidrelétricas Jirau e Santo Antônio para subestação de Araquara (SP).

Seca hidrelétricas rondônia — Foto: Arte g1

Seca hidrelétricas rondônia — Foto: Arte g1


COMPARTILHAR