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Jaru, 17 de novembro de 2024

Rondonienses presos há quatro dias no Peru ficam em meio a confronto: ‘a gente pensou que ia morrer’

Um grupo de pelo menos 20 brasileiros está preso no Peru há quatro dias por conta dos protestos contra o governo da atual presidente, Dina Boluarte. Entre eles, moradores de Rondônia que relataram ao g1 que quase ficaram sem água e comida.

“Ninguém passa e ninguém volta. Tá muito feio aqui porque a gente tá no meio do conflito, a gente parou bem no meio mesmo. Eles falaram até de ‘tacar’ fogo nos carros”, narra o rondoniense e estudante de medicina, Matheus Vanjura.

Em um vídeo postado nas redes sociais de Matheus é possível ver um dos pontos de protesto. As imagens mostram uma concentração de pessoas, vários pneus e pedaços de madeira bloqueando uma estrada.

Segundo Matheus, idosos e crianças estão entre as pessoas que foram paradas nas rodovias. Eles tentaram atravessar a fronteira de carro, mas foram barrados em vários pontos por manifestantes. Alguns brasileiros deixaram os carros e tentaram voltar para casa de avião.

“A tendência aqui é só piorar”, narra o estudante em vídeo.

Manifestantes fecham vias no Peru durante protestos — Foto: Cristian Delgado/Arquivo Pessoal

Manifestantes fecham vias no Peru durante protestos — Foto: Cristian Delgado/Arquivo Pessoal

No meio do conflito

O advogado Cristian Delgado saiu de Porto Velho para o Peru em férias com a família, mas ainda não conseguiu voltar. Ele contou ao g1 que, em um dos bloqueios, esteve “no meio do conflito” entre manifestantes e caminhoneiros que também estão parados na rodovia.

“Começou a ter uma briga entre os caminhoneiros que estavam parados e os manifestantes. Eles [os manifestantes] jogaram pedras nos carros. A gente ficou pensando que a gente ia morrer lá”, relembra.

Carro dos brasileiros são atingidos com pedras durante confronto no Peru — Foto: Cristian Delgado/Arquivo Pessoal

Carro dos brasileiros são atingidos com pedras durante confronto no Peru — Foto: Cristian Delgado/Arquivo Pessoal

Os brasileiros revelaram que durante o tempo que ficaram parados nas rodovias, eles entraram em contato com a Embaixada Brasileira no Peru para pedir ajuda, mas não foram atendidos.

“O consulado brasileiro foi extremamente omisso”, apontou um deles.

O grupo de brasileiros saiu de Cusco no dia 6 e somente nesta terça-feira (10), conseguiu chegar até a cidade de Puerto Maldonado, ainda no Peru, para se hospedar em um hotel e descansar. O trajeto que deveria durar aproximadamente nove horas levou quatro dias para ser concluído.

Apesar disso, Puerto Maldonado não era o destino final do grupo. Segundo Cristian, eles foram orientados por forças de segurança a não saírem do hotel.

Ainda de acordo com o advogado, somente nesta segunda uma representante da Embaixada Brasileira entrou em contato com o grupo para oferecer ajuda. Porém, ainda não há previsão de quando vão conseguir voltar para o Brasil.

g1 entrou em contato com o Ministério das Relações Exteriores e a Embaixada do Brasil no Peru repassando os relatos dos brasileiros. Em nota, o Ministério das Relações Exteriores, por meio da Embaixada do Brasil em Lima, do Consulado em Iquitos e do Consulado Honorário em Puerto Maldonado, disse que “mantém coordenação com as autoridades peruanas e tem prestado a assistência cabível aos brasileiros retidos em diferentes regiões do Peru”.

Manifestações

Presidente do Peru é destituído e preso acusado de golpe; vice assume

As manifestações no Peru começaram no início de dezembro do ano passado, contra a destituição de Pedro Castillo da presidência, após ele tentar dar um golpe de estado. Os protestos pedem, principalmente:

  • A antecipação das eleições gerais;
  • A renúncia de Boluarte;
  • O fechamento do Congresso.

Boluarte assumiu o governo depois que Castillo, que era presidente desde 2021, foi destituído pelo Congresso após tentar dissolver esse poder estatal com uma mensagem de televisão em 7 de dezembro.

Na segunda-feira, 17 pessoas morreram em confrontos com policiais na cidade de Juliaca, em Puno, segundo a Ouvidoria. Além disso, uma recém-nascida morreu porque não pôde ser levada a um hospital já que a estrada foi bloqueada pelos protestos.

Com esse saldo, a segunda-feira (9) foi o dia mais letal desde o início dos protestos, em dezembro passado. Até agora, o dia mais violento havia sido 15 de dezembro, com oito mortos, segundo a Ouvidoria.

G1


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