Rondônia registrou a primeira morte de indígena com o novo coronavírus. Trata-se de um indígena da aldeia Karitiana Central, do povo Karitiana, que morreu por volta das 19h desta segunda-feira (25). A informação foi confirmada por Elivar Karitiana, vice-presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena (Condisi).
A vítima, o líder indígena Gumercindo da Silva Karitiana, de 66 anos, era tio de Elivar. “Confirmo sim. Ele estava com Covid-19. Estava entubado há dois dias. Morreu hoje [segunda-feira]”, disse Elivar, emocionado.
O óbito também foi confirmado pela Associação de Defesa Etnoambiental Kanindé. “A suspeita é de que a aldeia inteira esteja com Covid-19. É muito difícil, mesmo. Eles não têm imunidade”, disse a ambientalista Ivaneide Bandeira.
Segundo o Condisi, Gumercindo estava internado desde 20 de maio, após apresentar os primeiros sintomas do novo coronavírus, que foram detectados pela equipe de saúde multidisciplinar do Distrito Especial Sanitário Indígena (DSEI).
Na sequência, a liderança indígena foi levada até a Unidade de Pronto Atendimento na Zona Sul (UPA Sul) em Porto Velho, que o encaminhou ao Centro de Medicina Tropical de Rondônia (Cemetron) no dia seguinte.
Em 22 de maio, Gumercindo foi diagnosticado com Covid-19 depois que fez um teste rápido. No mesmo dia, ele piorou e precisou ser levado à Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Cemetron. Já no dia 24 de maio, foi encaminhado para a UTI do Hospital Samar, mas não resistiu e morreu na noite desta segunda.
“O Condisi/PVH lamenta profundamente a morte da liderança Indígena Karitiana e reforça a importância de não se quebrar a regra do isolamento social nesse momento. Este Conselho, responsável por acompanhar, planejar, avaliar, fiscalizar, supervisionar e deliberar sobre as ações relacionadas à saúde indígena no território de abrangência do DSEI, continua realizando divulgação junto às comunidades indígenas para não saírem das aldeias e evitarem receber visitas durante a pandemia de Covid-19. É fundamental a conscientização e responsabilidade de todos para juntos vencermos o coronavírus”, alertou, em nota.
Conforme o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), outros dois indígenas estão internados em estado crítico no Cemetron.
Na semana passada, foram confirmados os três primeiros diagnósticos entre indígenas no estado. Já no último fim de semana, os números saltaram para nove diagnósticos.
O arcebispo de Porto Velho e presidente do Cimi, Dom Roque Paloschi, chegou a mencionar que a tendência é ter mais confirmações de Covid-19 entre indígenas. “Sim, podem ser muito mais. Eles são obrigados a vir para a cidade e há pessoas nas terras indígenas”, disse.
Temor pelo avanço
No mês passado, entidades se disseram preocupadas com a disseminação do novo coronavírus nas aldeias.
Na ocasião, Funai e Ibama afirmaram estarem atuando para combater o avanço do vírus em terras indígenas com medidas como o bloqueio de entradas das aldeias e ações de comando e controle contra ilícitos ambientais nas áreas federais.
Dom Roque Paloschi contou que o Cimi orienta que os indígenas cumpram com as recomendações das autoridades de saúde de permanecerem dentro das aldeias para evitar a disseminação da doença. “Mas diante da desassistência, eles são obrigados a chegar nas cidades, e isso é um risco maior”, reforçou o presidente.