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O barulho não é um elemento incomum nos restaurantes. Em determinados contextos, consideramos ele aceitável e até agradável. Perceber o tilintar dos talheres e das louças nas mesas vizinhas, assim como as conversas indistintas dos outros frequentadores e o movimento da cozinha, pode ser bem mais convidativo do que o silêncio absoluto.
O problema é quando os ruídos atrapalham ao ponto de atrapalhar a conversa. Afinal, ir a um restaurante precisa ser diferente de ir a um bar. Embora o nível de incômodo com o ruído varie de pessoa para pessoa, é importante que os restaurantes obedeçam a boas práticas de tratamento e isolamento acústico, mantenham uma distância razoável entre as mesas e evitem falatório entre os funcionários na cozinha.
Uma pesquisa do guia internacional de restaurantes Zagat perguntou: “o que realmente incomoda as pessoas na hora de sair para jantar?”. O excesso de barulho venceu como problema mais apontado pelos entrevistados: 24% citaram os ruídos como fator de incômodo.
De alguns anos para cá, se popularizou, em algumas partes do mundo, a tendência dos restaurantes silenciosos. Nesse sentido, estabelecimentos
implantaram uma série de reformas nos seus espaços para torná-los mais agradáveis acusticamente aos clientes. Essas mudanças incluem investimentos em materiais de isolamento acústico, para reduzir a passagem de ondas sonoras de um ambientes para outro, e em outros elementos, como painéis acústicos, que evitam a propagação do eco no interior dos ambientes.
Além disso, evita-se ruídos de aparelhos elétricos, como ar-condicionado e televisão.
De todo modo, Pello Basurto, do estúdio Ping Pong Arquitectura, de Madrid, explica que o conforto acústico depende mais da arquitetura do imóvel do que de qualquer mudança interna.
“O nível de ruído depende basicamente do número de pessoas e outras fontes sonoras por unidade de volume. Parece simples, mas não é, pois afeta diretamente a capacidade dos restaurantes, uma questão básica para sua rentabilidade, e não depende tanto do design de interiores, mas da arquitetura das instalações, algo sobre o qual é normalmente não é possível intervir”, afirma Basurto.
Apesar disso, utilizar práticas que evitem o eco é importante, segundo Basurto. “As vozes e sons são refletidos nas paredes, tetos e pisos para chegar aos nossos ouvidos de forma caótica. Reduzir isso depende da capacidade de absorção sonora dos materiais utilizados, o que pode ser controlado muito bem. Tetos acústicos, alguns dos quais são acessíveis, e tecidos nas mesas e nas cadeiras e até cortinas são as formas mais baratas de agir, por isso usamos materiais de alta absorção sonora”.
O especialista cita plantas, quadros, cortinas, tapetes e toalhas de mesa como elementos capazes de se somar ao esforço para reduzir a reverberação das ondas sonoras no interior dos estabelecimentos do setor dos restaurantes.
Sobre a distância entre as mesas, Basurto acredita que, em geral, 60 centímetros possam ser suficientes para que se coma com tranquilidade. Ao mesmo tempo, ele ressalta que “não existe distância mínima que garanta que se evite ouvir o vizinho, pois depende do número de pessoas no restaurante naquele momento, do som ambiente e da posição dos comensais”. Na Espanha, cuja gastronomia está em ascensão, a tendência do cuidado acústico nos restaurantes ganha adeptos. Há poucos anos, a associação Oír es Clave (ouvir é chave) criou a campanha Comer sin Ruido (comer sem ruído), cujo objetivo é garantir que os restaurantes espanhóis possam possibilitar com que os clientes mantenham refeições agradáveis, sem que seja necessário falar alto. Alguns dos restaurantes mais prestigiados de Madrid e Barcelona aderiram à campanha.