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Jaru, 22 de novembro de 2024

‘Resguardo cultural’: conheça ritual indígena em que mulheres só se tornam artesãs após o primeiro ciclo menstrual

Kailane e sua irmã são jovens indígenas Suruí e vivem na aldeia Lapetanha, na Terra Indigena Sete de Setembro, em Cacoal — Foto: Emily Costa/ g1 RO

Kailane e sua irmã são jovens indígenas Suruí e vivem na aldeia Lapetanha, na Terra Indigena Sete de Setembro, em Cacoal — Foto: Emily Costa/ g1 RO

Na cultura do povo Paíter Suruí, o primeiro ciclo menstrual de uma jovem marca o momento de passagem para a vida adulta. Na Terra Indígena (TI) Sete de Setembro, em Cacoal (RO), o ritual chamado de “resguardo cultural” ocorre em uma maloca, durante um mês. Lá, elas aprendem várias atividades importantes para a vida adulta, mas principalmente: o artesanato.

 

🏹 Os Suruí de Rondônia se autodenominam Paiter, que significa “gente de verdade, nós mesmos”. Eles falam uma língua que pertence ao grupo Tupi, da família Mondé, e vivem na TI Sete de Setembro, localizada no sudeste de Rondônia e noroeste do Mato Grosso.

Kailane Suruí tem 13 anos e conta que antes da primeira menstruação, as jovens só podem fazer canecas de barro e não tem permissão para confeccionar outros tipos de artesanato.

 

Reguardo cultural: processo de purificação

 

No momento do primeiro ciclo menstrual, as jovens Suruí ficam em uma maloca (tradicional habitação indígena) sob os cuidados da mãe. Durante o “reguardo cultural”, elas aprendem novos comportamentos, formas de alimentação, educação, conselhos e serão capacitadas para se tornarem artesãs.

Aldeia indígena Lapetanha na TI Sete de Setembro, em Cacoal — Foto: Emily Costa/g1 RO

Aldeia indígena Lapetanha na TI Sete de Setembro, em Cacoal — Foto: Emily Costa/g1 RO

Na cultura Paiter Suruí, esse é um dos rituais mais importantes na vida de uma mulher indígena. É nesse “processo de purificação espiritual” que ela se prepara para assumir as responsabilidades dessa nova fase.

“Antes, as mulheres ficavam mais de 1 ano em uma maloca passando por esse processo de purificação, mas hoje em dia, no máximo, a indígena fica de 30 a 40 dias, para respeitar o psicológico dessa jovem”, explica Celso Suruí.

Após esse processo de mudança, a indígena passa a auxiliar as outras mulheres da aldeia na confecção e venda de artesanatos. Além de garantirem uma forma de renda.

Brincos feitos por mulheres indígenas Suruí com caroço de tucumã — Foto: Emily Costa/g1 RO

Brincos feitos por mulheres indígenas Suruí com caroço de tucumã — Foto: Emily Costa/g1 RO

Artesanato

 

Canecas e cuias de argila, brincos e colares de tucumã, e cordão de algodão, são alguns dos artesanatos confeccionados pelas mulheres Suruí. Os produtos são feitos manualmente com matérias-primas extraídas dentro da Terra Indígena (TI).

Caneca feita de argilha por mulheres Paiter Suruí — Foto: Emily Costa/g1 RO

Caneca feita de argilha por mulheres Paiter Suruí — Foto: Emily Costa/g1 RO

Isso porque, o modo de vida tradicional desta etnia está ligado ao uso dos recursos da floresta e às atividades extrativistas, ou seja: os frutos produzidos dentro da TI, além de gerarem renda, também contribuem para alimentação e manutenção da forma de vida desses povos.

Já os cascos e partes de árvores se tornam matérias-primas para a confecção de peças e acessórios exclusivos da cultura Suruí. A venda é feita na aldeia e os maiores compradores são pessoas que visitam e se hospedam na Yabnaby (agência de etnoturismo que fica dentro da TI).

Além disso, eles possuem diferentes modelos de cocar tradicional da etnia: cada formato é feito para ocasiões e indivíduos específicos, como líderes e jovens. Já em relação a esse tipo de artesanato, somente o indígena mais antigo da aldeia tem permissão para confeccioná-lo.


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