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Jaru, 28 de março de 2024

Repórter acusa Datena de assédio sexual: “Não tenho nada a perder”

A jornalista Bruna Drews, de 35 anos, denunciou ao Ministério Público de São Paulo o apresentador José Luiz Datena, de 61, por assédio sexual. Procurada por QUEM, Bruna deu sua versão de como teria começado o assédio. “Desde que comecei a trabalhar com o Datena, ele me elogiava. Falava às vezes da minha competência e sempre o agradecia por isso. Mas falava às vezes da minha beleza também. Ok você falar que uma mulher é bonita. Mas teve uma vez – que foi bem pesada – que ele pediu para um cinegrafista descer e mostrar meu corpo, falando que eu malhava, que eu não sei o quê. O cinegrafista desceu, mostrou meu corpo e depois esse mesmo cinegrafista veio me pedir desculpa. Ele falou: ‘se eu não fizesse isso, eu ia ser demitido'”, afirma ela, que era repórter do programa Brasil Urgente, da Band.

Bruna diz que só suportava os supostos comentários do apresentador porque precisava do emprego. “Sou de uma família de classe média baixa e estava com um salário significativamente bom. Então você aguenta, dá aquela risadinha. Mas, muitas vezes, no ar, eu me mostrava constrangida e as pessoas comentavam isso. Desde esse dia que ele pediu para o cinegrafista mostrar o meu corpo, eu já comecei a duvidar, mas eu realmente achava que o Datena tinha uma admiração, um amor paternal por mim”, contou.

A jornalista afirma, contudo, que com o tempo passou a ouvir comentários dentro da Band sobre o que Datena falava a respeito dela. “Muita gente de dentro da emissora ouvia coisas que ele dizia de dentro do switcher sobre mim. Me diziam que quando o programa entrava no ar, ele falava assim: ‘olha a boca dela, olha o corpo dela!’ Isso acabava chegando em mim e percebi que ele não estava de brincadeira”, diz ela, que começou a coapresentar com Datena um quadro chamado A Fuga.

Bruna diz ter percebido que era, de fato, vítima de assédio, durante uma confraternização com a equipe do programa.  “Ele chamou todas as pessoas, as mais próximas a ele, para um jantar. Tinham umas dez pessoas mais ou menos na mesa, e, quando a assistente de palco levantou e foi embora, ele virou para mim e disse o seguinte: ‘Bruna, hoje eu vim aqui com o objetivo de comer a assistente de palco, mas como ela foi embora, vamos conversar. Acho que você está passando por problemas psicológicos, porque você emagreceu demais, você passou mal outro dia (realmente eu tinha passado mal por causa de pressão baixa)'”, relatou.

A jornalista respondeu que tinha emagrecido por causa do excesso de trabalho. “Mas ele, não convencido, começou com conversas de cunho sexual. Ele disse assim: ‘você não devia ter emagrecido porque você era muito gostosa. Trata de engordar, quero você gostosa novamente! Porque você não sabe, Bruna, quanta punheta já bati para você, antes e depois do programa’. E repetiu isso algumas vezes. As pessoas que estavam do lado ficaram constrangidas, até que um amigo dele se levantou, colocou a mão no ombro dele e disse: ‘menos, Datena! Menos!’. Mesmo assim, ele continuou. Fiquei super constrangida, só que na hora que você sofre o assédio, você não entende o que está acontecendo. Você dá risada e a minha intenção foi ir embora dali na hora. Mas ele não deixou. Eu tinha bebido um copo de cerveja. Ele estava no terceiro copo de uísque, provavelmente já alcoolizado. Fez um escarcéu, falou para me levarem em casa. Conclusão: fui levada em casa pela equipe”, lembrou ela, acrescentando que o jantar aconteceu em junho do ano passado.

Bruna atribui seus problemas de saúde ao estresse que teria passado no trabalho: “Me afastei ano retrasado por ter adquirido Síndrome de Burnout e Síndrome do Pânico por dois fatores: jornalismo policial, que é muito pesado, e sobrecarga de trabalho absurda por conta da Band. Então acontecia uma chacina no Acre, vai a Bruna porque o Datena queria que eu fosse e aí eu trabalhava 16, 18 horas por dia. Isso vinha acontecendo demais, eu acabava me envolvendo com as reportagens e tinha uma pressão moral que o Datena fazia de sempre estar presente. Se não tivesse, ele ameaçava, isso a gente ouvia nos bastidores: ‘o Datena quer te mandar embora se você não for para essa viagem’. Isso porque eu tinha acabado de voltar de outra viagem super exausta e sem dormir. Isso aconteceu algumas vezes”, disse.

O episódio do restaurante teria sido a gota d’água para Bruna, que decidiu denunciar o apresentador. “Eu comecei a pensar: ‘nossa, estou fazendo tudo isso para dar ibope para um cara que não acha que eu sou competente pela minha inteligência, pelo meu trabalho. Ele só acha que eu sou gostosa, isso é a realidade. E aí em junho eu passei muito mal e, desde então, estou afastada pelo INSS. Estou bem destruída por dentro. O que ele fala ou deixa de falar agora não está me fazendo piorar. Para mim, minha carreira acabou, eu não tenho nada a perder. Eu hoje desisto mesmo de ser repórter, desisto da televisão e não tenho nada a perder. E é por isso que estou divulgando. Porque ele deve ter feito isso com outras mulheres e é uma pessoa que os funcionários têm medo. Todo mundo sabe disso lá dentro da Band”, finalizou.

A DEFESA DE BRUNA
Segundo Vitor Kupper, advogado de Bruna, a jornalista está de licença médica desde julho de 2018 por ter sido diagnosticada com a Síndrome de Burnout (distúrbio psíquico de caráter depressivo, precedido de esgotamento físico e mental intenso), que foi agravada após o assédio. Ele contou que a profissional move duas ações: uma trabalhista, contra a Band, a qual acusa de ter sido conivente com Datena; e outra criminal, contra o apresentador. “Nós já apresentamos a denúncia junto ao Ministério Público e agora fica a cargo do promotor decidir se recebe a denúncia ou não para a apuração dos fatos”, explicou.

“Por outro lado há o processo trabalhista contra a Band, porque ela notificou a emissora via telegrama sobre o assédio, o RH marcou uma reunião com ela, mas a emissora não tomou qualquer atitude para apuração e responsabilização dos envolvidos”, acrescentou.

A DEFESA DA BAND
Procurada por QUEM, a Band divulgou o seguinte comunicado: “O processo trabalhista em questão tramita em segredo de Justiça, a pedido, inclusive, da própria autora. A Band está impedida de se manifestar sobre o assunto”. Já o apresentador, José Luiz Datena não atendeu as ligações nem respondeu as mensagens da reportagens até o momento.


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