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Jaru, 24 de novembro de 2024

Relembre profissões que ‘deixaram de existir’ ou foram substituídas por tecnologias em RO

Há menos de 20 anos, ter uma foto revelada era um processo demorado feito por um profissional. Já para garantir que os jornais impressos fossem distribuídos sem nenhum erro tipográfico, retoquistas passavam horas corrigindo as falhas com tinta. Com a chegada da tecnologia, essas e outras profissões foram sendo substituídas até “deixarem de existir”.

🚂Paulo da Costa, aos 12 anos já trabalhava como ferroviário em um trem movido a vapor na Estrada de Ferro Madeira Mamoré (EFMM).

📰Marcelina Silva passava horas acordada “retocando” letra por letra de todas as páginas de forma manual: ela só terminava seu expediente quando o jornal estava pronto para ser distribuído.

📷Já Ivan Souza, como é conhecido, era o responsável por processar os rolos de filmes fotográficos: com uma sequência de produtos químicos em cerca de 1 hora as fotos estavam na palma da mão.

Retoquista de jornal

Marcelina, era retoquista em um jornal impresso de Porto Velho. Seu trabalho era cobrir as letras e as imagens das folhas do jornal. Na época, o texto era preparado manualmente através da máquina chamada “linotipo”, que deixava falhas na escrita.

Folhas de jornal onde Marcelina trabalhava na década de 80 — Foto: Reprodução/Issuu

Folhas de jornal onde Marcelina trabalhava na década de 80 — Foto: Reprodução/Issuu

Seu turno começava às 15 horas e só terminava quando o jornal estivesse pronto para ser entregue. Isso porque ela precisava esperar a montagem das folhas para corrigir os erros antes da distribuição.

A retoquista relembra que o que mais atrapalhava o processo de preparação era as quedas constantes de energia. O que prolongava seu horário de saída.

“Após a montagem das folhas na linotipo, o jornal era colocado em uma mesa de vidro, com uma lâmpada embaixo para a gente cobrir as falhas com lápis de cor. Só depois o jornal era embalado para ser entregue”, explica Marcelina Silva.

 

Marcelina, 40 anos depois, no local onde era a sede do jornal em que trabalhava — Foto: Izabela Muniz/Revista 'Versões Ausentes'

Marcelina, 40 anos depois, no local onde era a sede do jornal em que trabalhava — Foto: Izabela Muniz/Revista ‘Versões Ausentes’

Marcelina trabalhou na profissão por cerca de dois anos. Sua função foi sendo substituída por equipamentos e ferramentas modernas, as falhas nas folhas deixaram de existir. Tempos depois, o jornal impresso perdeu forças para a tecnologia também.

Ferroviário na EFMM

 

Paulo da Costa Ramos começou a trabalhar na EFMM aos 12 anos, no chamado “trem de lastro”: locomotiva que transportava materiais como granito e madeira, que eram colocados no trilho para fornecer estabilidade. Na época, sua carteira de trabalho foi assinada pela “Rede Ferroviária Federal”.

Carteira de trabalho e identificação de ferroviário de Paulo da Costa — Foto: Emily Costa/g1 RO

Carteira de trabalho e identificação de ferroviário de Paulo da Costa — Foto: Emily Costa/g1 RO

Após um grave acidente que matou dois colegas de profissão de Paulo, a estação foi desativada e ele foi transferido para o setor de “estiva”, onde ficou responsável por carregar e descarregar cargas que vinham de outros estados de caminhão e até de navio.

O ex-ferroviário conta que passou por muitos “sufocos” nos trilhos da Estrada de Ferro: em uma das viagens, sua locomotiva parou e ele passou oito dias esperando outro trem passar. Para não morrer de fome, sua única opção foi pescar em um rio próximo.

Seu último embarque foi como “chefe de trem” da locomotiva 4, na década de 70, semanas antes dos ferroviários serem surpreendidos com a notícia da desativação da EFMM.

“Depois disso, a gente foi transferido para o quartel militar. Eu gastei quase toda a minha vida aqui (EFMM). Hoje, aos 78 anos, mu sonho é voltar para a profissão e que um dia esses trens voltem a andar”, conta Paulo.

 

Paulo da Costa, aos 78 anos, sonha em voltar a trabalhar na EFMM — Foto: Emily Costa/g1 RO

Paulo da Costa, aos 78 anos, sonha em voltar a trabalhar na EFMM — Foto: Emily Costa/g1 RO

Revelador de imagens

 

Ivan Souza, como é conhecido, com a insistência e curiosidade da juventude, aos 17 anos conseguiu um emprego de “laboratorista fotográfico” (nome dado ao revelador profissional de imagens). Na época, não existia curso técnico ou formação acadêmica específica para a profissão na região, o profissional era formado na própria empresa.

“O processo de transformar rolos de filmes (que na época eram limitado a 36 poses) em fotografias reveladas demorava entre 30 minutos a 1 hora dependendo da qualidade dos equipamentos e da habilidade do revelador”, conta.

 

Ivan em um laboratório de revelação de imagens em 1997 — Foto: Arquivo pessoal

Ivan em um laboratório de revelação de imagens em 1997 — Foto: Arquivo pessoal

O primeiro passo era aquecer uma mistura de químicos. Em seguida, Ivan colocava o negativo (filme) à luz e realizava uma sequência de mergulhos em diferentes substâncias. O processo de revelação ocorria em uma sala escura, ou parcialmente escura, dependendo do estágio em que se encontrava a revelação.

Com a chegada das câmeras digitais portáteis, houve uma verdadeira revolução no mercado das fotografias. Elas trouxeram a praticidade do uso de cartão de memória para o armazenamento de fotos, ou seja, as pessoas podiam fotografar e olhas as fotos no mesmo momento.

Esse foi o momento em que o revelador de imagens percebeu que era hora de mudar a página da profissão. Decidiu ingressar na faculdade de comunicação social e, desde então, tem se dedicado à produção audiovisual.


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