Quem não abre mão de uma – ou mais – xícaras de café ao longo do dia já está começando a sentir a diferença no bolso. Nos últimos 12 meses, a alta do produto em pó para o consumidor final chegou a 56,87%, segundo dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Como resultado do aumento, só na capital paulista, o expresso oferecido nos estabelecimentos comerciais sofreu uma variação de 122% conforme Pesquisa da Proteste Associação de Consumidores, enquanto no Rio de Janeiro o aumento foi de 60%.
Na bancada da padaria Bella Paulista, uma das mais tradicionais de São Paulo, o reajuste dos preços já surtiu efeitos. Segundo o porta-voz do estabelecimento, é notável a diferença de consumo entre aqueles que estavam acostumados a fazer a primeira refeição do dia fora de casa. “Tem muita reclamação por parte dos clientes, muitas vezes sem entender o nosso lado de comerciante”, diz.
Para aliviar as queixas, o gerente explica que o jeito é absorver parte do aumento repassado pelo fornecedor. Com essa estratégia, a padaria espera aguentar os próximos meses sem alterações nos valores do cardápio – mesmo que o mercado indique novas altas. “Nossa intenção é manter os números para não espantar os consumidores”, revela. Desde o início do ano, o preço do expresso passou de R$ 7,25 para R$ 9 na panificadora.
O AUMENTO VEIO PARA FICAR
Infelizmente, a previsão para os próximos meses não é agradável para quem ama a bebida: o movimento de alta do preço deve continuar – pelo menos é o que explica a economista-chefe da Claritas Investimentos, Marcela Rocha. Segundo a especialista, o valor do grão segue pressionado pela baixa da safra de 2021, que acabou prejudicada por fatores climáticos. “Fora isso, ainda há a questão do café ser uma commodity – ou seja, ele acaba sendo afetado por variáveis como preços de combustíveis, mão de obra e insumos, fatores que também explicam a elevação do valor”, destaca.
Outra questão que gera dúvida entre os consumidores é o motivo pelo qual o preço do café continua aumentando, já que o país é um dos maiores produtores mundiais do grão. De acordo com a economista, isso acontece devido ao aumento das exportações. “Vários países consomem o café brasileiro, não só pela qualidade, mas pela vantagem econômica da moeda. Para os produtores, também compensa mais vender para fora do país do que internamente”, explica.
Ainda de acordo com a economista, o café em cápsula tende a subir menos para o consumidor devido à dinâmica do mercado. Por ser um produto mais caro, explica Marcela, o item acaba sendo mais vulnerável a períodos de crise ou inflação, o que faz os fabricantes segurarem os preços por mais tempo na tentativa de incentivar o consumo. “O brasileiro é um grande fã de café e, em momentos como o que estamos vivendo, acaba buscando opções mais baratas, mas não chega a interromper a compra. Como as cápsulas têm valor médio maior, elas correm mais riscos de serem cortadas da cesta de compras”, afirma.
Fonte: eql