Quando você imagina um ferro velho, deve pensar em carros despedaçados e peças aleatórias em um amplo espaço. Mas, se for a um ferro velho de Dubai, é possível que essa imagem mude na sua cabeça. Modelos de luxo, que são vendidos por até R$ 2,8 milhões, estão cobertos de poeira nesses depósitos de “sucatas”.
Um ano atrás, uma empresa britânica chegou a oferecer um salário de até R$ 140 mil reais para quem quisesse resgatar esses veículos. Era preciso encontrar os antigos donos e negociar o valor para, assim, poder tomar posse do carro.
Isso era difícil, já que, muitas vezes, os donos acabavam vindo à falência e fugiam do país.
Dubai é conhecida por ser uma “cidade ostentação”, com prédios arranha-céus e, evidentemente, carros de luxo de última geração. Mas uma grave crise assolou os Emirados Árabes entre 2012 e 2018, o que gerou uma quebra generalizada em empresas e pessoas.
O professor da FGV, Fábio Gallo, que orientou uma tese de doutorado sobre esquemas de finanças islâmicas, explicou como funciona o sistema de crédito, que não usa juros para se manter.
“As pessoas tomam os empréstimos e pagam. Ponto. Elas estão tomando esse empréstimo em nome de Alá, em nome de Deus. Então elas precisam pagar. Uma cidade-estado como Dubai tem uma lei muito pragmática em cima disso: se você toma um empréstimo e não pagou por qualquer motivo, quem te deu esse dinheiro telefona para a polícia e ela te põe na cadeia”, afirma ele.
Segundo o professor, Dubai é uma cidade muito desigual, com uma renda per capita em torno de 40 mil dólares para seus pouco mais de 10 milhões de habitantes. Mas a pequena elite, que ganha seu sustento dos poços de petróleo, é quem sustena esse mercado de luxo.
Como os carros populares são, em média, mais caros do que em outros países, quem possui dinheiro opta por um modelo de luxo. “Muita gente que vai tentar a vida lá, empresários, empreendedores, chegam e compram esses carros de luxo para pagar em dois ou três anos, sem juros. O problema é que não necessariamente eles têm a mesma fortuna das famílias árabes”, comenta Fábio.
Assim, quando o compromisso não é honrado e a cadeia é iminente, só resta uma opção: essas pessoas pegam o primeiro voo para deixar o país e deixam o carro no aeroporto. Depois de algum tempo parado, o veículo vai a leilão (e aí entram os caçadores de carrões citados).
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