Mais de cem tiros foram disparados pelos policiais envolvidos nas mortes dos cinco jovens fuzilados em Costa Barros, no Subúrbio do Rio, na noite de sábado (28). Pelo menos cinquenta tiros atingiram o carro onde estavam os rapazes, como informou o Bom Dia Rio.
A ação, que já estava sendo considerada exagerada pelo própria polícia teve ainda mais disparos de armas de fogo do que foi divulgado inicialmente. Além dos disparos que atingiram o veículo, outras disparos foram efetuados mas não atingiram o carro em que os jovens estavam. Segundo a PM, 111 tiros foram disparados pelas armas dos policiais, sendo 81 de fuzil e 30 de pistola.
Os policiais podem ser expulsos da corporação antes mesmo de serem julgados pela Justiça comum. O comando-geral da PM determinou nesta terça a abertura imediata do processo administrativo para julgar a expulsão dos quatro policiais militares por causa da ação. Também foi concedida pela Justiça e a prisão preventiva dos quatro, que permanecerão do Batalhão Especial Prisional (BEP).
Defensoria recebe famílias de jovens
A Defensoria Pública recebeu nesta terça-feira (1º) os familiares de dois dos jovens mortos. O Defensor Geral, André Castro, disse durante entrevista coletiva que manifestava indignação com o crime e disse que o episódio choca ate mesmo profissionais experientes.
Castro disse que a defensoria vai trabalhar para que o Estado seja responsabilizado e para que outras familias não passem pelo sofrimento que os parentes dos cinco jovens estão passando.
O defensor André Castro explicou que a Defensoria vai defender as famílias na área criminal e também na área cível. “Nós buscamos providências administrativas, de reparação dos danos materiais e morais sofridos por essas famílias. Pode ser no processo de entendimento com o estado do Rio para que todas essas medidas sejam adotadas para que a família seja devidamente amparada pelo gravíssimo prejuízo da perda dos seus entes queridos”, destacou Castro.
A defensoria anunciou ainda que vai propor um acordo extra-judicial para reparar danos as familias das vitimas. O órgão também vai auxiliar a Polícia Civil na apuração e ainda colocar testemunhas no programa de proteção às testemunhas.
Estiveram na Defensoria os parentes das vítimas Wilton Júnior e Wesley Rodrigues. Os outros parentes ainda não procuraram o órgão.
“Tudo que eu quero é justiça. Meu filho não merecia isso. E eu não merecia ver meu filho da forma que eu vi. Não sei como e nem quando vou conseguir superar isso. Não sei quanto tempo isso vai levar. Eu fico me perguntando porque tanta violência e porque temos que viver num país desse tipo. Por isso tanta gente vai embora criar seus filhos e netos. Sinceramente, eu não tenho mais orgulho de fizer que sou brasileira”, desabafou Rosilene Rodrigues, mãe de Wesley. Ela disse que o filho deixou para ela um neto de 2 anos.
Rosilene disse ainda que acredita na punição dos policiais. “Eu tenho que usar as últimas forças para defender meu filho”. Ela confirmou que o filho teve passagens pela polícia, mas nada ficou provado e ele foi inocentado. O defensor Fábio Amado também confirmou que Wesley teve passagem pela polícia por tráfico, mas foi absolvido.
A Justiça do Rio converteu a prisão dos policiais em preventiva na tarde desta terça-feira (1°). O pedido foi feito pela Polícia Civil.
Suposto roubo de carga
Os PMs envolvidos no assassinato dos cinco rapazes disseram em depoimento que foram checar uma denúncia de roubo de carga. O RJTV descobriu que um policial militar seria o responsável pela segurança do referido caminhão.
Fontes da polícia dizem que no sábado à noite, dez caminhões carregados de bebidas deixam a fábrica da empresa, em Nova Iguaçu. Os veículos são rastreados por satélite e os equipamentos identificam que um dos caminhões sai do comboio. A suspeita de roubo provoca a parada automática do motor do caminhão. Um PM, que não teve o nome divulgado, trabalha para a transportadora. Ele seria o responsável pela segurança do veículo.
No depoimento dado na delegacia, o soldado Antonio Carlos Gonçalves disse que ele e os PMs Fabio Piza Oliveira da Silva, Thiago Viana Barbosa e Marcio Darcy dos Santos foram checar essa denúncia de roubo na Avenida José Arantes de Melo, em Costa Barros. O soldado também afirmou que o caminhão estava sendo saqueado. E que ocupantes de uma moto e de um carro passaram atirando.
O piloto da moto desmentiu essa versão e não citou nenhum caminhão no depoimento. Ele dissse que os jovens estavam indo comprar um lanche e que eles pararam depois da abordagem policial. Segundo ele, os policiais atiraram a uma distância pequena.
Nova perícia
Fontes da polícia informaram nesta terça-feira que nova perícia no carro metralhado deverá ser realizada nesta quarta. O carro está na 39ª Delegacia (Pavuna). De acordo com a polícia, as chaves do carro metralhado foram encontradas no porta-malas do veículo. Os policiais também serão ouvidos mais uma vez pela polícia.
A perícia preliminar feita no carro onde estavam os cinco amigos apontou que a posição do corpo de um dos rapazes, que estava na carona do banco da frente, não era compatível com a descrição dos policiais. No depoimento, os policiais disseram que ele estaria com o o tronco para fora do carro, com uma arma na mão. A perícia também informou que nenhum disparo foi feito de dentro do carro para fora.
A polícia já sabe que o carro onde estavam os policiais não tem câmera, mas vai pedir as informações do GPS.
Cena do crime modificada
No dia do crime, a perícia encontrou a arma citada no depoimento do policial perto dos corpos. Para a polícia, os PMs mentiram. A mãe de um dos meninos também acredita nessa versão. Ela disse que viu quando um dos policiais colocou a arma dentro do carro. “Ele botou a luva na mão, ficou abaixadinho lá, mexendo no rapaz que estava no carona. Deu a volta por trás, por outro lado, pegou a chave, botou no porta-malas. Por isso que ele não estava deixando ele chegar perto, porque ele não queria que eu visse que eles estavam fazendo aquilo, mas eu estava vendo tudo. Eu vi tudo”, disse.
Os quatro policiais militares foram presos em flagrante e levados pro Batalhão Prisional, em Niterói. Três deles vão responder por homicídio doloso, quando há intenção de matar. E todos por fraude processual, por alterar a cena do crime. Eles podem ser expulsos da PM.
O comandante do batalhão, coronel Marcos Netto, foi exonerado nesta segunda-feira (30). Em entrevista ao Bom Dia Rio ele havia dito que a ocorrência em Costa Barros foi um fato isolado. Em nota, a secretaria de Segurança Pública afirmou que exonerou o comandante por causa dos últimos lamentáveis acontecimentos envolvendo policiais sob o seu comando, que conflitam com as orientações da corporação.
O comandante Jorge Fernando de Oliveira Pimenta, que atuava no batalhão de Macaé, vai assumir o comando do 41º BPM, em Irajá. O governador Luiz Fernando Pezão disse que vai cobrar punição rigorosa ao caso.