Jaru Online
Jaru, 29 de março de 2024

PF intima 38 pessoas em investigação sobre ocultação de recursos gerados com o tráfico de drogas

A Polícia Federal (PF) intimou 38 pessoas a prestarem depoimento sobre a ocultação de recursos gerados através do tráfico de drogas em Rondônia. O esquema foi descoberto durante investigações da Operação Dracma, deflagrada pela PF na quinta-feira (14).

Segundo a PF, as investigações estão na fase final, e, com isso, é necessário interrogar várias pessoas. Quase 40 já foram ouvidas, mas outras testemunhas podem ser chamadas à delegacia.

A Dracma investiga a atuação de empresas de Rondônia na ocultação de recursos gerados através do tráfico de drogas. Lavagem de dinheiro, evasão de divisas oriundas do tráfico internacional de drogas e sonegação fiscal são alguns dos crimes praticados pela organização.

Durante as investigações, a PF descobriu que empresas estariam se usando clandestinamente dos benefícios tributários destinados exclusivamente no livre comércio de Guajará-Mirim, cidade a cerca de 300 quilômetros de Porto Velho.

Balanço pós operação Dracma:

  • 38 pessoas intimadas pela PF em Rondônia
  • Das cinco pessoas presas na quinta-feira, quatro pagaram fiança e foram liberadas
  • A PF cumpriu 60 mandados de busca e apreensão só em Guajará-Mirim
  • Os bens apreendidos permanecem à disposição da Justiça
  • Segundo a PF, as investigações entram agora na fase final
  • Policiais apreenderam cerca de R$ 100 mil em dinheiro

Segundo a PF, algumas das pessoas ouvidas na operação podem ser chamadas novamente pelo delegado, durante o andamento das investigações. Os nomes dos investigados não foram divulgados.

Operação Dracma em Rondônia nesta quinta-feira, 14 — Foto: PF/Divulgação

Operação Dracma em Rondônia nesta quinta-feira, 14 — Foto: PF/Divulgação

Na quinta-feira, uma das pessoas ouvidas foi o empresário Mário Português da Coimbra. Um mandado de busca e apreensão foi cumprido na casa dele em Porto Velho. Ele foi liberado após prestar os esclarecimentos.

Como funcionava o esquema?

  1. Em vez de repatriado, parte do lucro das grandes empresas distribuidoras/exportadoras era encaminhado diretamente aos cambistas da Bolívia para fim de custódia de valores.
  2. Durante dez anos, centenas de milhões de reais foram enviados de traficantes do Pará e Nordeste para contas de pequenas empresas físicas em Rondônia, as chamadas “contas de passagem”.
  3. Segundo a PF, depois de receberem os valores, os suspeitos intermediários faziam depósitos sucessivos nas grandes empresas distribuidoras em Rondônia. Estas empresas recebiam os recursos e emitiam as autorizações de pagamentos.
  4. Estas autorizações de pagamentos são classificadas como cheques ou vouchers, que, após serem efetuadas, credenciavam o portador a sacar o valor nele inscrito em algum cambista na cidade boliviana de Guayaramerin.
  5. A PF diz que não havia qualquer emissão de nota fiscal pela quadrilha para sustentar a licitude.
  6. Os portadores dos cheques ou vouchers sacavam os valores nos cambistas bolivianos e assim faziam o pagamento de drogas adquiridas na Bolívia.
  7. Após serem remunerados, os traficantes na Bolívia forneciam as drogas que abasteciam o tráfico em cidades do Nordeste e do interior do Pará.

Quatro empresas foram citadas nesta primeira fase da operação: Coimbra, Rical, MS Distribuidora e Potosi.

Ao G1, a Rical informou que está colaborando com as investigações da PF e ressaltou que suas atividades estão dentro da legalidade e transparência.

Já a Distribuidora Coimbra divulgou nota informando que o grupo não compactua com qualquer atividade ilícita. A empresa afirma ser idônea e que está no mercado de Rondônia há 20 anos, prezando pela transparência. O grupo afirma que está colaborando com as investigações.

A MS distribuidora divulgou nota, nesta sexta-feira (15), informando a MS Distribuidora negou a participação no esquema e diz que atua em Guajará-Mirim há 10 anos dentro da mais absoluta legalidade.

Quanto foi movimentado?

A Receita Federal, que acompanhou a operação com a PF, estima que o esquema movimentou aproximadamente R$ 2 bilhões entre 2009 e 2016, período em que foi feito a retirada irregular de mercadorias pelas empresas investigadas.

O prejuízo aos cofres públicos, pelo não recolhimento dos tributos federais, chega a R$ 300 milhões.

A operação se baseia em 26 inquéritos da Polícia Federal, 36 relatórios fiscais da Receita Federal e 86 laudos de perícia financeira.


COMPARTILHAR