Pedidos de socorro pela vida, choro e muita emoção tomaram conta da audiência pública, ocorrida nesta quinta-feira, 29 de outubro de 2015, na Ala Senador Alexandre Costa, plenário das Comissões de Ciência e Tecnologia e de Assuntos Sociais do Senado Federal. O evento, promovido pelo Senador Ivo Cassol (PP/RO), durou mais de seis horas e contou com a participação dos cientistas criadores da substância “fosfoetalonamina sintética”, professor de química Gilberto Orivaldo Chierice, que coordenou os trabalhos por mais de 20 anos e o médico oncologista Renato Meneguelo, que também fez parte da equipe.
A SUBSTÂNCIA
Sua eficácia não foi comprovada cientificamente em razão dos entraves burocráticos, porém, depoimentos de pacientes que fazem uso da substância atestam a veracidade do composto que tem sido capaz, segundo eles, de inibir o aumento das células cancerígenas e a metástase. Foi o que ocorreu com a mãe do Carlos Kennedy Witthoeft. Com 82 anos e um câncer extremamente avançado, o médico disse que ela teria no máximo 30 dias de vida. Então sem saber o que fazer, Kennedy procurou o professor Gilberto Orivaldo e conseguiu gratuitamente as cápsulas da “fosfoetalonamina sintética”. “Com alguns dias de uso, ela que não conseguia levantar da cama, estava de pé andando pela casa”.
OUTRO DEPOIMENTO
Bastante comovente foi da psicóloga paulista Bernadete Cioffi, 56 anos. Na tribuna, ela disse que fez uso de substâncias liberadas pela ANVISA, nas quais suas bulas traziam informações de que o uso do medicamento poderia levar o paciente a morte. “Usei quatro tipos de drogas e todas me deixavam piores. Não sentia nenhum tipo de melhora, somente dores. Após fazer uso da “fosfoetalonamina sintética”, tenho obtido resultados satisfatórios. Pelo menos não sinto tantas dores como antes. Minha preocupação, neste momento, é com o fornecimento, pois o número de pedidos judiciais aumentou e o Instituto de Química da USP em São Carlos (SP) não consegue atender a demanda”.
MAIS DEPOIMENTO
Jane Rose, residente em Brasília (DF), descobriu que estava com câncer nos ossos em 2014. Segundo ela, após constatar a doença sua vida mudou completamente, até porque seus médicos disseram que a situação já era caso de metástase. “Fiz todos os procedimentos adotados por especialistas e tomei os melhores medicamentos regulamentados pela ANVISA. Confesso que senti um alívio por um tempo, parecia estar curada, mas após três meses de uso dessa medicação, percebi que a doença não tinha ido embora, pois tinha muitas dores, e esse aviso dado pelo organismo é sinal de que algo não está bem no seu corpo. Além disso, comecei sentir todos os efeitos colaterais da medicação. Então disse aos médicos que não faria mais uso dos medicamentos, pois não queria morrer. Eles me pediram que fizesse novamente todos os exames para verificar como estava a doença. Após dias, veio a confirmação, o câncer permanecia. Por conta própria tomei a decisão de tomar a medicação e hoje aguardo a chegada das cápsulas da “fosfoetalonamina sintética”, que obtive por meio de decisão judicial. Infelizmente só assim para ter acesso, não há outro jeito. Ou você contrata uma advogado ou procura a defensoria pública do seu Estado”.
BRIGA POR LIMINARES
Dados divulgados no momento da realização da audiência pública revelaram que mais de mil liminares já foram concedidas aos pacientes que almejam fazer uso da “fosfoetalonamina sintética”, mesmo sabendo que a substância não possui registro junto à ANVISA, ou seja, não pode ser comercializada. Segundo foi dito, em média, por dia, após as inúmeras veiculações de notícias sobre a “fosfo”, o Juízo tem recebido duzentos pedidos. Antes da explosão de solicitação, as liminares eram concedidas em até 48 horas e o cumprimento não demorava cinco dias. Hoje, o paciente demora de 20 a 30 dias para receber o composto, mesmo com a multa diária de mil reais aplicada pelo Juízo pelo descumprimento do prazo.
ISSO PORQUE
A Universidade de São Paulo (USP), por do Instituto de Química em São Carlos (SP), não consegue atender a demanda. O aumento de pedidos tem causado um colapso no Judiciário Paulista. Atualmente a situação encontra-se assim: a Justiça concede a liminar, mas o IQSC/USP demora na entrega. De acordo com relatos, existem pacientes que estão há mais de 30 dias sem receber a “fosfoetalonamina sintética”. Todos os dias o número de pessoas que batem na porta do Instituto aumenta. Alguns com liminares nas mãos, outros querendo saber como solicitar a “fosfo”.
A SUGESTÃO
Dada pelo senador Ivo Cassol é que o governo federal, especificamente a presidente da República, Dilma Rousseff, que já teve câncer e sabe do sofrimento que os pacientes passam com essa doença maldita, “compre a briga” e permita que novas pesquisas para descobertas de novos medicamentos sejam feitas, inclusive com a “fosfo”. “Não podemos ficar de braços cruzados. Trouxe esse assunto para o Senado Federal, pois o problema é de todos. Estamos falando de vidas humanas. Hoje são eles que estão doentes e morrendo, amanhã poderá ser qualquer um de nós. O câncer, assim como qualquer outro tipo de doença, não escolhe cor, raça ou religião. Ela chega e o resultado todos nós sabemos qual é”.
O autor é jornalista e bacharel em Direito