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Jaru, 17 de maio de 2025

Mulher mutilada por cão não sabia da eutanásia do animal e sofre ataques na internet

Depois de ser mordida pelo próprio cachorro e ter o lábio arrancado em Ji-Paraná (RO) no dia 5 de maio, Natani Santos, de 35 anos, precisou mudar de casa e se ausentar das redes sociais. O cão foi eutanasiado após o incidente. Segundo o marido dela, Tiago Pinto, a mulher não sabia da morte do cão, e vem recebendo ataques e ameaças na internet.

“Ela está sendo massacrada na internet e recebe mensagens absurdas no seu privado em sua rede, quando na verdade ela é a maior vítima de tudo”, relata.

 

Tiago conta que a esposa ficou extremamente abalada após o incidente e concordou que o cão Jacke, da raça chow-chow, fosse levado ao centro de zoonoses da cidade. Lá, o tutor assinou uma autorização para a eutanásia, caso fosse necessário.

“Eu levei ao centro, me pediram 10 dias para investigar se se tratava de raiva ou algum outro problema. Quando voltei lá, me informaram que ele não estava comendo havia três dias, se recusava a levantar e tentou atacar algumas pessoas”, disse Tiago.

Contudo, Natani não ficou sabendo de imediato sobre a realização do procedimento.

“Eu disse a ela que ele havia sido adotado, até mesmo para protegê-la. Eu estava esperando amenizar a situação pra contar a ela. Porém, alguma ONG ligou e eles mesmo da secretaria informaram que foi realizado o procedimento. Fui obrigado a contar o que de fato havia acontecido”, relata o esposo da vítima.

 

“Os dois últimos dias tem sido os mais difíceis pra ela, tem tido crises de choro e de pânico constantes”, acrescenta.

O que diz a secretaria da cidade

 

Segundo a Secretaria Municipal de Proteção e Bem-Estar Animal de Ji-Paraná, o cão passou cinco dias em observação e apresentava “agressividade extrema, dificuldade de manejo, havendo risco iminente à equipe e a terceiros”.

Foram descartadas raiva e outras doenças. Mesmo assim, o cachorro foi sacrificado.

Em nota, a secretaria informou que a decisão de aplicar a eutanásia “foi pautada na necessidade de preservar a integridade física dos servidores, da população e de outros animais, em respeito à proteção da saúde pública e às normas éticas vigentes”.

Por que alguns cães se tornam agressivos?

 

De acordo com o médico veterinário Dr. Clebson Gonçalves, as raças como o chow chow têm predisposição a problemas locomotores e que situações de dor podem desencadear comportamentos agressivos, principalmente quando o animal não recebe acompanhamento adequado.

“Esse animal poderia estar com dor, e na hora que a tutora pegou ele e foi brincar, essa dor ter agravado. E ele, como resposta à dor, ter agredido ela, e não que basicamente ele queria morder ela por vontade própria ou só porque ela tocou nele.”

 

O veterinário ressaltou que a falta de adestramento e de socialização adequada também pode influenciar diretamente no comportamento de um cão e que é responsabilidade do tutor cuidar desse aspecto desde cedo.

“Muito desses animais, às vezes, independente da raça, não atacam o dono por querer atacar. Por isso que é importante o acompanhamento do médico veterinário e o adestramento desde cedo. Muitos donos criam um animal para realmente ficar agressivo e ele chega ao ponto de atacar alguém.”

 

Sobre o caso ocorrido em Ji-Paraná, Dr. Clebson explicou que, após um ataque, o protocolo prevê que o animal seja encaminhado ao Centro de Zoonoses para avaliação da equipe médica.

“Quando ocorre um caso desse de um animal ter atacado o dono, esse animal vai ter que ser submetido do local onde ele reside, vai ter que ser encaminhado para o centro de zoonoses. No centro de zoonoses a equipe médica dos veterinários vai avaliar esse animal e sim, provavelmente esse animal vai vir a ser feita a eutanásia.”

 

Relembre o caso

 

Segundo Natani, o incidente com Jacke ocorreu no dia 5 de maio. O cachorro rosnou instantes antes do ataque, mas a mordida foi inesperada e rápida.

“Ele rosnou, eu me afastei e ele mordeu e se encolheu na mesma hora. Era como se tivesse entendido que fez algo errado”, relembra.

 

Alerta de imagem forte a seguir — Foto: g1/Artes

Alerta de imagem forte a seguir — Foto: g1/Artes

Natani Santos (à esquerda) depois da mordida do seu cachorro Jacke, de 5 anos (à direita), que não vive mais com ela — Foto: redes sociais

Natani Santos (à esquerda) depois da mordida do seu cachorro Jacke, de 5 anos (à direita), que não vive mais com ela — Foto: redes sociais

“Entendi muito a decisão do meu esposo. Se ele não passasse por um adestrador, poderia acontecer novamente, e não quisemos pagar para ver. Não tenho raiva dele”.

Natani teve o lábio superior arrancado pela mordida e, por conta dos ferimentos, agora ela se prepara para realizar um procedimento de reconstrução em Santa Catarina. A cirurgia será realizada pelo projeto idealizado pelo cirurgião bucomaxilofacial Raulino Brasil, que já atendeu mais de 30 pessoas desde 2021.

Em meio à dor e ao luto pelo afastamento do animal, Natani reforça: “Não quero que se desfaçam de seus animais por causa do que aconteceu comigo. Só digo para procurarem um adestrador”.

G1


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