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Jaru, 3 de outubro de 2024

Maserati raríssimo e enferrujado é vendido por R$ 2,2 milhões

Há clientes e clientes. Nos anos 50, Mohammed Reza Pahlavi, então xá do Irã, se aproximou da italiana Maserati e pediu que eles fizessem um cupê 3500 GT com o novo (e mais forte) motor V8 que equiparia o 450S de corrida. Ele logo foi atendido pelo fabricante.

Pouco conhecida no Brasil, a Maserati vende alguns dos seus modelos no mercado nacional. Embora pertença ao grupo FCA (Fiat Chrysler Automobiles), a italiana fica em um nível logo abaixo da Ferrari e utiliza também motores fabricados pela famosa marca. Autoesporte teve a chance de dirigir o novo SUV Maserati Levante Trofeo e colocamos o seu V8 3.8 biturbo da Ferrari à prova.

Após receber a “ordem” do xá do Irã, a marca reforçou o chassi do cupê 3500 GT, colocou freios a disco dianteiros e embutiu o V8 no cofre. O oito cilindros teve litragem ampliada de 4,5 litros para 4,9 litros, o suficiente para extrair até 370 cv e 45 kgfm de torque.

Foi justamente um desses modelos que surgiu no último leilão da RM Sotheby’s. Mesmo em estado de ruína, o carro foi leiloado por 533 mil dólares, o equivalente a cerca de R$ 2,2 milhões.

Isso tem uma explicação: o carro tem produção raríssima e esse exemplar é o mais raro de todos. O estado de conservação dele pouco importa nesse caso. O negócio valerá a pena de qualquer forma, até porque será valorizado de sobremaneira ao ser restaurado.

História do modelo

O Maserati encomendado pelo xá foi batizado como 5000 GT e foi apresentado na edição de 1959 do Salão de Turim. Apenas três carros foram feitos com a motorização original. Porém, como o V8 tinha especificação de pista e não era muito afeito a coisas como marcha-lenta, a Maserati preparou os 31 carros seguintes com um ajuste mais manso para a cidade.

Após décadas de abandono, a ferrugem tomou conta do carro  (Foto: Divulgação)

O preço era quase o dobro do pedido pelo 3500 GT, mas o desempenho o deixava em outra categoria. O 500 GT concorria com a Ferrari Superamerica, ou seja, era um supercarro para poucos. A arrancada de zero a 100 km/h era cumprida em 6,5 segundos e a velocidade máxima era brutal: 274 km/h. Um nível de desempenho surreal para quase 60 anos atrás.
Entre seus proprietários estava Gianni Agnelli, dono da Fiat.

Como outros carrões da sua época, o cupê poderia receber carrocerias de oito fornecedores diferentes. Esse exemplar em especial era o mais raro. O 5000 GT em questão foi produzido em julho de 1961, quando foi o nono exemplar a sair da fábrica. E foi o único carro a ser equipado com carroceria feita pelo estúdio Ghia.

Depois de restaurado, o modelo multiplicará o seu valor (Foto: Divulgação)

O design é tão belo quanto exótico. A encarroçadora deixou o seu estilo bem gravado na carroceria, especialmente no detalhe dos faróis quádruplos emoldurados. Sergio Sartorelli foi o responsável pelas linhas, designer que desenhou a segunda geração do Karmann Ghia e o Fiat 126. O artista também criou outros modelos ao longo da sua carreira, entre eles, as pequenas Lambrettas.

Foi justamente nessa ocasião que ele se tornou íntimo de Ferdinando Innocenti, que criou a Lambretta no pós-guerra. As motinhos foram lançadas em 1947 como uma forma barata de transporte para uma Itália (e Europa) empobrecidas pelo conflito. Não tardou para Innocenti se tornar um dos homens mais ricos do país. A sua fortuna permitiu encomendar ao pessoal da Ghia esse 5000 GT bem especial.

O interior também está acabado, porém todas as peças originais foram mantidas (Foto: Divulgação)

Antes de entregar o carro para Innocenti, a Maserati permitiu que o editor da revista Sport Car Graphic, Bernard Cahier. As impressões foram mais do que empolgantes. “Nós nos encontramos grudados nos assentos graças a aceleração tremenda, daquelas encontradas apenas em carros de corrida… eu já dirigi muitos carros rápidos antes, porém nunca senti tamanha força chegando tão rápido. Tão rápido que passei direto da terceira para a quarta e vi que o carro já estava a 224 km/h”, afirmou Cahier.

Innocenti vendeu o carro um tempo depois. O 5000 GT passou pelas mãos de alguns italianos, mas foi exportado para a Arábia Saudita e logo desapareceu do radar. Graças ao entusiasta Rubayan Alrubayan, o Maserati foi redescoberto nos anos 70. Entretanto, nem mesmo ele sabia da raridade desse exemplar único feito pela Ghia.

O motor 4,9 litros fazia do Maserati um dos carros mais rápidos do mundo (Foto: Divulgação)

Alrybayan deixou o cupê ao relento durante muitos anos e o carro foi marcado para desmanche, foi somente após a sua morte que seus herdeiros decidiram guardar o esportivo. Foram eles que decidiram vender o Maserati.

O estado do carro é decadente, porém suas peças foram guardadas. O 5000 GT nunca foi depredado ou teve suas partes canibalizadas. Até o estepe original (em frangalhos) foi conservado no porta-malas. Apenas a sua pintura prata foi trocada por azul nos anos 60. Ou seja, o Maserati é um candidato para ser restaurado e retornar ao seu antigo esplendor.

Uma foto do Maserati quando ele foi apresentado ao público (Foto: Divulgação)

Embora seja difícil de ser lido, o odômetro aponta apenas 15,561 km rodados. Está quase zero quilômetro, por assim dizer. Só falta ser restaurado para ser chamado de novinho.

Por mais de R$ 2 milhões, o cupê italiano todo enferrujado parece ser um péssimo negócio. Mas, antes que você chame o novo proprietário de louco, lembre-se que ele vai se valorizar muitas vezes depois de restaurado. Foi uma bela compra. O difícil é enxergar isso debaixo de tanta sujeira.


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