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Jaru, 28 de março de 2024

Marcella Maia: a atriz e modelo brasileira que brilhou em Mulher Maravilha

ocê já ouviu falar da Marcella Maia? Se a resposta for não, pode guardar bem este nome. A atriz e modelo trans mineira está com tudo: ela contabiliza nada menos que 120 mil seguidores só em seu Instagram, já estampou ensaios para revistas de moda do mundo todo (incluindo para a Vogue italiana!), emprestou sua beleza no filme Mulher Maravilha, no qual atuou como uma das amazonas, também fez uma participação no mais novo disco de Fergie, que será lançado em setembro… E isso tudo é apenas o começo de uma carreira cheia de planos e sonhos! 

Em um papo sincero com Vogue digital, Marcella recordou momentos difíceis da sua infância (“sofri bastante preconceito”), contou detalhes sobre o casting para o filme hollywoodiano e adiantou projetos que estão por vir na moda, música, cinema e na TV. A cereja do bolo: ela mostrou sua porção modelo em um ensaio exclusivo feito pelas ruas de Milão, no qual vestiu peças de grifes internacionais no melhor estilo “girl power“. Com vocês, Marcella Maia! 

Edtorial Marcela Thomé  (Foto: Divulgação)

Conta um pouco sobre você?
Confesso que não sou muito boa para me descrever, mas vou tentar. Minha infância foi um pouco conturbada. Nasci em Juiz de Fora, Minas Gerais. Meus pais se separaram muito cedo e me mudei junto com minha mãe para Brasília, onde fui criada e passei a maior parte da minha vida. Sempre fui muito feminina, desde criança. Mas eu sempre guardei esse sentimento dentro de mim, até porque venho de uma família muito tradicional e religiosa. Lembro que usava o espanador da casa da minha avó para brincar de boneca escondido; nunca gostei de carrinhos; adorava enrolar a toalha na cabeça depois do banho e ficava imaginando como seria se eu fosse uma menina. Naquela época eu tinha apenas 7 anos. Apesar da separação dos meus pais ter sido difícil, minha mãe soube lidar com a situação e me deu uma ótima criação. Minha mãe sempre me deu tudo que podia, morávamos em uma chácara então eu vivia em cima do pé de manga, ou jogando “bete” na rua com os amigos. Ela é uma mulher forte e de caráter.  Sempre fui muito moleca. Sobre aquele lance de se misturar, eu sempre fui muito boa, adoro conhecer pessoas novas. Tenho algumas memórias ruins da minha infância, mas as lembranças boas superam.

Você chegou a sofrer algum tipo de preconceito?
Sim. Muitas vezes. Lembro de uma ocasião em que um grupo de garotos  jogou um copo de bebida na minha cabeça, durante uma festa em Brasília. Na hora não consegui conter as lágrimas, embora minhas amigas tenham me consolado, eu me retirei do local com vergonha. Hoje esses fantasmas já não me assustam mais.  Quando você se assume pro mundo as pessoas param de tentar te atingir.

Quando você decidiu ser modelo e atriz?
Na verdade, eu nunca tinha imaginado trabalhar como modelo, eu sempre estudei teatro, fiz algumas oficinas no exterior na área de atuação para  cinema. Aos 16 anos. ninguém iria me dar um bom emprego como atriz e eu queria muito minha independência financeira, queria sair de casa logo, pois meus pais queriam que eu fizesse jurisprudência e tentasse concurso público – mas só de pensar na ideia, me assustava, assustava muito. Lembro que toda vez que iniciava a novela das 21h os meus olhos brilhavam e eu dizia: ‘um dia vocês vão me ver na televisão’. Ninguém acreditava em mim, e isso era bem chato. Então eu parei de falar sobre meus sonhos e comecei a trabalhar escondida.

Qual foi seu primeiro trabalho?
Meu primeiro emprego foi em um petshop, onde eu ganhava muito pouco, mas aprendi muita coisa, inclusive como ser responsável. Seis meses depois eu conheci um Model Scouter de rua, em frente ao Shopping Mall Pátio Brasil, em Brasília. Ele me parou e convidou para fazer uma entrevista em uma das maiores agências de modelos do Distrito Federal. Na época eu ainda tinha corpo de menino, confesso que achei que fosse furada, mas fui mesmo assim. A agência disse que iria entrar em contato comigo em alguns dias. Fiquei mega nervosa esperando a ligação. Dois dias depois um agente me ligou para me dar a triste notícia que eu não tinha sido aprovada para o casting da agência, mas que eles tinham uma outra oportunidade e queria saber se eu tinha interesse. Eles queriam me contratar para trabalhar como Scouter, que era tipo um caça talentos de modelos. Como eu não aguentava mais lavar e secar cachorros, aceitei – eu amo cachorro inclusive tenho dois na casa dos meus pais, mas queria algo melhor. Fiquei trabalhando como Scouter por quatro meses, e já conhecia todo mundo na agência. Na época o head booker do departamento fashion, Andre Monjardim, que hoje é um dos meus melhores amigos, me montava com as roupas do acervo das modelos da agência, e, daí bastou seis meses e eu já estava dando aula de passarela e assessorando na mesa de bookers. E meu salário era muito bom. Todo aquele ambiente me contaminou de alguma forma e quando me dei conta já estava falando de tendências e referências. Trabalhei com eles durante três anos até consegui juntar minha própria grana. Com 19 anos, e em segredo, eu inventei uma viajem para Londres, disse que ia fazer um intercâmbio para aprender inglês, mas viajei para a Tailândia por dois meses para completar a transição de homem para mulher… e então voltei para o Brasil como a mulher que sempre fui.

Edtorial Marcela Thomé  (Foto: Divulgação)

Foi difícil tomar essa decisão?
Lá no fundo a Marcella não podia esperar mais um dia aprisionada naquele corpo que nunca pertenceu a ela. Quando eu voltei foi um choque, mas no meu trabalho as pessoas levaram numa boa e o André adorou. Não demorou muito para eles me lançarem no mercado internacional e foi aí quando tudo começou. Viajei para 18 países, oito deles com contrato de modelo, e aprendi 2 idiomas novos.

E como começou a carreira de atriz?
Até 2016 eu não tinha tido a oportunidade de atuar pra valer, foi então que surgiu a oportunidade de ser uma guerreira  no filme da Mulher Maravilha. No início desse ano, 2017, aceitei o desafio de voltar para o Brasil quando o Alexandre Mortagua me convidou para viver a mãe dele no filme “#todosnos5milhoes”, que acredito que vai emocionar muito o Brasil, pois fala de abandono paterno e todas as mães brasileiras. Não posso dar muitos detalhes. As gravações terminaram há dois meses, vem muito emoção por aí!

Vai dar um tempo na moda?
Não! Recentemente fotografei três campanhas, duas de marcas brasileiras e uma italiana: Studio Alex e Honda, Ladonnamare e a última é segredo de estado que está prontinha no forno só que não posso divulgar. Não vejo a hora de sair, sou muito ansiosa quando se trata de trabalho.  Sou muito grata ao mercado da moda, me sinto realizada. Antes eu me cobrava muito, sonhava em desfilar para a Victoria’s Secret. Mas nunca consegui fazer nem casting pra eles, o que me frustou por um bom tempo. Compensei minha frustração com trabalhos diversos: trabalhava com uma agência boutique de Londres, a Oxigen Models; desfilei em duas fashion weeks em Londres (em 2016 eu fiz dois desfiles e em 2017 desfilei para Missoni x Fad); além de desfilar para Elena Savo na semana de moda de Milão; fiz a campanha da Alcina Cosméticos, uma marca alemã; fiz muita publicidade de cabelo em Milão; trabalhei recentemente no novo álbum da cantora Fergie – foi um sonho realizado! Construí um portfólio muito forte modelando de país em país. São aproximadamente 5 anos de material. 

Marcela Thomé  (Foto: Divulgação)

Como foi a participação no filme Mulher Maravilha?
Vou confessar que foi muito especial. Pensava: ‘me belisca! eu tô aqui mesmo?’.

Como recebeu o convite para o filme?
Através de casting por foto e  vídeo monologue!  Uma semana depois do fashion week minha agência me ligou e disse que eu estava em opção para um trabalho nos estúdios da Warner Bros, em Londres. Meu agente não mencionou que trabalho era, apenas me disse que era uma cena em um filme, e que  estavam em dúvida entre eu e uma outra modelo: queriam uma beleza exótica. Fui escolhida pela minha beleza singular, segundo o meu agente, e pelo meu porte físico, que depois ele me disse que era ideal ao de uma guerreira. Ele não quiS me falar a princípio que era o filme da Mulher Maravilha pela minha  ansiedade; me lembro que era uma segunda-feira quando ele me ligou e o job seria na terça-feira, scannearam meu corpo para possíveis cenas de guerra e fizeram uma análise de todos os ângulos do perfil do meu rosto, caso eu fosse a escolha deles. Quando meu agente me ligou era 23h45 me confirmando como escolha e contou de qual filme se tratava. Eu dei pulos e gritos de alegria. Já no dia seguinte, às 5h da manhã, o motorista chegava para me pegar e levar aos studios Warner, deu tudo certo e a experiência foi uma sensação indescritível.

Você chegou a interagir com os grandes atores do longa e com a própria “Mulher Maravilha” nos bastidores? 
Sim, a Gal Gadot é umas das pessoas mais profissional que já conheci e com uma carisma incrível, além de linda. Foi uma experiência muito boa, o set era leve. Eu me identifiquei muito com a Doutzen Kroes [modelo] também, gente que mulher linda e maravilhosa!!!! Eu confesso que me sentia um peixinho fora da água. Tudo aquilo era surreal!

Você vai participar da sequência do filme? 
Vocês sabem como funciona, trabalhos como esses são extremamente confidenciais, mas confesso que adoraria, uma participação maior seria bem vinda sim.

Marcela Thomé  (Foto: Divulgação)

Atualmente você mora onde?
Atualmente estou morando em São Paulo. Mas essa pergunta é sempre muito difícil pra mim, os últimos 4 anos foram loucos: a cada 3 meses estava em um país diferente. Nesse ano eu resolvi retornar ao Brasil por diversos trabalhos e projetos que estão acontecendo nesse período da minha carreira,  estou sendo cogitada para uma novela, ainda não posso falar nada sobre, mas aguardem vem coisa boa por aí.

Quais são seus sonhos profissionais? 
Estou com muitos projetos legais em andamento no Brasil, queria poder compartilhar mais com vocês, tem um projeto lindo com o diretor de cinema Vítor Steinberg. Sou uma  pessoa com muitos sonhos, quem sabe um dia ganhar o Oscar (risos) e desfilar para Victoria’s Secret.

Como foi fazer este shooting para a Vogue online em Milão?
Milão é como  o quintal de casa  para mim, eu tenho casa lá, eu vou pra lá todo ano, é uma cidade que me acolheu e abriu muitas portas na minha vida. Fotografar para a Vogue Brasil em Milão foi  um sonho que se tornou realidade. Sou muito grata.

Você segue algum mantra/lema na vida?
Sim claro! Fui criada dentro de uma igreja evangélica praticamente, ainda frequento cultos com minha mãe quando vou visita-lá. Mas hoje em dia tenho meu próprio guru espiritual que me aconselha e cuida da minha estrada. ‘O amor e o bem se cultivado e disseminado retorna para você em formas benéficas. Não te deixando pisar no vazio, mas em chão sólido!’. Autora: Luciane Cordeiro “Minha Mãe”.

Edtorial Marcela Thomé  (Foto: Divulgação)
Edtorial Marcela Thomé  (Foto: Divulgação)
Edtorial Marcela Thomé  (Foto: Divulgação)
Edtorial Marcela Thomé  (Foto: Divulgação)
Edtorial Marcela Thomé  (Foto: Divulgação)
Marcela Thomé  (Foto: Divulgação)

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