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Jaru, 29 de março de 2024

Juiz de Rondônia atesta que “Nem da Rocinha” diminuiu sua pena lendo livros e fazendo cursos na prisão

No dia 11 de março de 2013, Antônio Francisco Bonfim Lopes, o Nem da Rocinha, começou a ler “A Cabana”. Dentro da penitenciária de segurança máxima de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, o traficante conheceu a história de Mack Allen Phillips, pai que perdeu a filha de seis anos, raptada num acampamento de fim de semana. A leitura das 272 páginas do best-seller escrito pelo canadense William P. Young durou 21 dias e valeu a Nem a diminuição de quatro dias de sua pena — que acumula nove condenações e 96 anos de prisão.

Uma decisão do último dia 27 de junho, assinada pelo juiz federal Nelson Liu Pitanga, de Rondônia, onde Nem está preso atualmente, revela que o traficante já diminuiu 319 dias de sua pena com leituras e cursos desde que foi preso, em novembro de 2011.

Segundo o documento, obtido pela reportagem do Extra, Nem leu dez livros, participou de 35 atividades e concluiu o Ensino Fundamental, após ser aprovado no Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos.

Para cada livro lido, a Justiça diminui quatro dias da pena. O chefão do tráfico na Rocinha — que teve novo mandado de prisão decretado pela Justiça na última quinta-feira por ter ordenado, de dentro da penitenciária de segurança máxima, a invasão da favela no domingo passado — tem predileção por obras de autoajuda. Já leu “O Vendedor de Sonhos” e “Nunca Desista dos Seus Sonhos”, do psiquiatra e psicoterapeuta Augusto Cury. Num dos trechos do segundo livro, lido por Nem em junho de 2013, o autor aconselha: “Precisamos perseguir nossos mais belos sonhos. Desistir é uma palavra que tem que ser eliminada do dicionário de quem sonha e deseja conquistar”.

Na biblioteca de Nem, também há espaço para os clássicos, como “O Apanhador no Campo de Centeio”, do americano J. D. Salinger, lido entre fevereiro e março de 2014.

Detento já sabe cuidar de idosos e cruzar gado

No presídio, Nem já aprendeu a cuidar de idosos, a manipular plantas medicinais e a contar histórias infantis. Também teve aulas de técnicas de memorização e de produção e processamento de pimenta do reino. Ao todo, o traficante já diminuiu 186 dias da pena só com atividades de estudo. Para cada doze horas de aulas, um dia da punição é descontado pela Justiça.

O traficante tem particular interesse na área agropecuária. Já cursou as aulas “Criação de ovinos de corte”, “Como aumentar a rentabilidade da pecuária de corte” e “Maturação, marinação, condimentação e preparação de filés”.

O curso mais longo de que participou foi “Pecuária de corte”, com 400 horas. Também aprendeu a cruzar diferentes raças de gado, como Red Angus e Nelore e Limousin e Belore. A maioria desses cursos, feitos à distância, foi paga pelo próprio Nem e oferecida pela Universidade Online de Viçosa.

Defesa tenta livrar Danúbia

Há um ano e meio, Danúbia de Souza Rangel, mulher de Nem, é considerada foragida. Em março do ano passado, ela recebeu pena de 28 anos de reclusão pelos crimes de tráfico de drogas, associação para o tráfico e corrupção ativa. A “xerife” da Rocinha foi condenada uma semana depois de ter sido solta após absolvição em outro processo.

A defesa de Danúbia tenta reverter a condenação na Justiça. De acordo com o advogado Marcelo Cruz, o processo está “contaminado por nulidades”. A ação é resultado de inquérito da Polícia Federal que investigou Marcelo das Dores, o Menor P.

— Um dos pontos que estamos levantando na apelação criminal é que houve descumprimento do disposto na Lei de Interceptação Telefônica. A investigação era sobre uma comunidade (Maré) e deveria ter sido solicitada outra interceptação para investigar a Rocinha — explica o advogado.

Fonte:Extra


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