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Jaru, 25 de outubro de 2024

Jovem de 16 anos é dopada e vítima de estupro coletivo; mais de 30 homens a violentaram

A jovem de 16 anos que foi violentada por, pelo menos, 30 homens, em uma comunidade da Zona Oeste do Rio de Janeiro, deu detalhes sobre as agressões que sofreu em depoimento à Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática (DRCI), ao qual a revista ‘Veja’ teve acesso.

A adolescente teria ido até a casa de um rapaz com quem se relacionava há três anos, no último sábado (21). Ela se lembra de estar a sós na casa dele e só se lembra que acordou no domingo (22), em uma outra casa, na mesma comunidade, com 33 homens armados com fuzis e pistolas. Ela conta no depoimento ao qual a “Veja” teve acesso, que estava dopada e nua.

A jovem conta ainda que foi para casa de táxi, após o ocorrido. Ela admitiu que faz uso de drogas, mas afirmou que não utilizou nenhum entorpecente no sábado (21).

Na terça (24), ela descobriu que imagens suas, sem roupas e desacordada, circulava na internet. A jovem contou ainda que voltou à comunidade para buscar o celular, que fora roubado.

Ela passou por exames de corpo de delito no Instituto Médico-Legal nesta quinta (26) e foi levada para o Hospital Souza Aguiar, no Centro, onde passou por exames e tomou um coquetel de medicamentos para evitar a contaminação por doenças sexualmente transmissíveis.

‘Vídeo é chocante’, diz avó
Segundo a avó da adolescente, ela teria sofrido um apagão durante os abusos. “O vídeo é chocante, eu assisti. Ela está completamente desligada”, diz a avó. “Ela tem umas coleguinhas lá, mas nessa hora nenhuma apareceu”, disse a avó da adolescente em entrevista à rádio CBN, após saber que a neta pode ter sido violentada por cerca de 30 homens. De acordo com a avó, a garota foi localizada por um agente comunitário e levada para casa.

De acordo com a avó da menina, ela costuma ir para comunidades desde os 13 anos e, às vezes, passa alguns dias sem dar notícias. Ainda segundo a avó, a garota é usuária de drogas há cerca de quatro anos. No entanto, segundo ela, nunca recebeu notícias de que a neta tenha sido vítima de outros abusos. A jovem é mãe de um menino de 3 anos.

A Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática (DRCI) informou que ela já prestou depoimento sobre o crime. Dois homens que postaram imagens da adolescente nua e desacordada em uma cama foram identificados, mas não tiveram os nomes divulgados para não atrapalhar as investigações. Um suspeito de praticar o crime também já foi identificado pela Polícia Civil.

O Delegado Alessandro Thies, responsável pelas investigações, pede ao cidadão que tenha qualquer informação que possa auxiliar na identificação dos autores que entre em contato através do endereço de e-mail: [email protected].

Os policiais também estão investigando alguns dos comentários postados sobre a situação da jovem.

Jovem postou foto da vítima e ironizou o suposto estupro (Foto: Reprodução)Jovem postou foto da vítima e ironizou o suposto estupro (Foto: Reprodução)

MP apura
Uma pessoa foi ao Ministério Público do RJ e fez uma denúncia anônima à ouvidoria. Ela levou o vídeo e fez prints das redes sociais que relatam o ocorrido. Além disso, até o momento, cerca de 800 comunicações chegaram à ouvidoria.

O material foi encaminhado à 23ª Promotoria de Investigação Penal do MPRJ, porque esta promotoria que trabalha junto à Delegacia Anti-Sequestro (DAS). O MPRJ informou que está investigando o caso da jovem que aparece desacordada em um vídeo após supostamente ter sido estuprada.

O Ministério Público pediu ainda que a partir de agora só sejam encaminhadas à ouvidoria denúncias que acrescentem novas informações à investigação, tais como identificação de envolvidos, endereços ou novas provas do fato.

O MP também aproveitou para alertar sobre as consequências de se compartilhar vídeos ou fotos íntimas de pessoas. A conduta é ainda mais grave em se tratando de um evento criminoso. A divulgação dessas imagens configura crime previsto no Código Penal Brasileiro.

A Comissão de Direitos Humanos da Câmara Municipal do Rio de Janeiro (CDDH) divulgou nota sobre o assunto e afirmou que exige rapidez na apuração, identificação dos responsáveis e punição dos envolvidos no crime. “Trata-se de um ato de barbárie e covardia”, afirmou o vereador Jefferson Moura, presidente da comissão.

A OAB-RJ, por intermédio da Comissão Permanente OAB Mulher, também divulgou uma nota de repúdio ao estupro coletivo cometido contra a adolescente. A nota afirma que os criminosos perpetuaram a humilhação da vítima a expondo nas redes sociais.

“Os atos repulsivos demonstram, lamentavelmente, a cultura machista que ainda existe, em pleno Século 21. Importante ressaltar que cada frase machista, cada piada sexista, cada propaganda que torna a mulher um objeto sexual devem ser combatidas diariamente, sob o risco de se tornarem potenciais incentivadoras de comportamentos perversos. E, igualmente, lembrar que, se esse crime chegou ao conhecimento público, tantos outros permanecem ocultos, sem repercussão. Precisamos lutar contra a violência em casa lar, em cada comunidade, em cada bairro”, afirmou a nota da OAB.

Vítima de estupro divulgado nas redes sociais é ouvida no Rio Gabriel de Paiva/ Ag. O Globo/Ag. O Globo

Adolescente (dir.) foi submetida a exames médicos em hospital do Rio de Janeiro, onde prestou depoimento à políciaFoto: Gabriel de Paiva/ Ag. O Globo / Ag. O Globo

Polícia pede a prisão de 4 suspeitos de estupro coletivo no RJ

 

A Polícia Civil pediu à Justiça a prisão de quatro homens suspeitos de envolvimento no estupro coletivo cometido contra uma adolescente de 16 anos em uma comunidade da Zona Oeste do Rio. O caso ganhou repercussão após fotos e vídeos da vítima violentada serem publicados na internet pelos agressores, que ironizaram o crime.

Marcelo Miranda da Cruz Correa, de 18 anos, e Michel Brazil da Silva, de 20 anos, são suspeitos de divulgar as imagens da vítima na internet, segundo a polícia. Lucas Perdomo Duarte Santos, de 20 anos, tinha um relacionamento com a adolescente e teria participação direta no crime.

O quarto suspeito é Raphael Assis Duarte Belo, de 41 anos, que aparece nas imagens ao lado da garota. Raphael trabalhou como apoio a operador de câmera nos estúdios Globo, de onde foi desligado em agosto. A polícia não soube informar qual é a atual profissão dele.

A adolescente de 16 anos foi estuprada no sábado (21), em uma comunidade da Zona Oeste. Em depoimento à polícia, ela disse ter ido à casa de Lucas Perdomo, com quem ela se relacionava há três anos, e de se lembrar de estar a sós na casa dele. Depois, se lembra apenas de acordar no domingo, em outra casa na mesma comunidade, dopada, nua e com 33 homens armados com fuzis e pistolas.

A garota retornou para sua casa na terça-feira (24). “Ela chegou descalça, descabelada, com aspecto de que tinha se drogado muito e com uma roupa masculina toda rasgada. Provavelmente eles deixaram ela nua e ela vestiu aquilo pra vir em casa”, contou uma parente da menina. A família teria questionado a menina o que havia acontecido, mas ela não disse nada.

‘Eles iriam matá-la’
Ainda na terça-feira, a menina voltou à comunidade para tentar reaver seu celular, que foi roubado, segundo esse familiar. Um agente comunitário foi quem a acolheu, ao perceber como ela estava, e a levou novamente à família.

“Esse agente comunitário, que veio trazê-la [para casa], acho que ele foi uma pessoa que salvou a vida dela, porque eles iriam matá-la. Porque é isso que eles fazem, né. Não é normalmente a história que a gente conhece? Eles estupram e matam”, disse uma parente da adolescente.

A família só soube do estupro na quarta-feira (25), quando fotos e vídeos exibindo a adolescente nua, desacordada e ferida, foi compartilhado na internet.

“Eu, a mãe, a gente chora quando vê o vídeo. O pai dela não aguenta falar, que chora muito. Nosso sentimento é de tristeza, de indignação, estamos estarrecidos de ver até que ponto chega a maldade humana. A família está sem palavras, consternada”, desabafou a familiar.

Repercussão
Nas redes sociais, pessoas de todo o Brasil pedem rigor nas investigações e na punição. “Não foram 30 contra uma, foram 30 contra todos. Exigimos Justiça”, destaca uma publicação.

A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) classificou o crime como uma barbárie. “Além do estupro, a divulgação dessas imagens torna a vida dessa pessoa eternamente humilhante. Então, é muito importante que as pessoas percebam que receber as imagens, assistir as imagens, também é crime”, destacou Daniela Gusmão, da Comissão OAB-Mulher.

A Organização das Nações Unidas (ONU) divulgou nota em que se solidarizou com a vítima do estupro coletivo. A nota relembra outro episódio ocorrido no Brasil, quando uma jovem do Piauí foi abusada por cinco homens, na semana passada. A ONU pede Justiça para os dois casos.


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