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Jaru, 22 de novembro de 2024

Indígena é atacado e comunidade denuncia agressões: ‘muitos foram mortos pela crueldade do não-indígena’

Um indígena da etnia Guarasugwe foi atacado com golpes de remo na cabeça enquanto pescava no rio Guaporé, em Pimenteiras do Oeste (RO), durante o fim de semana.

Segundo a denúncia feita pela comunidade indígena, o agressor proferiu xingamentos racistas e xenofóbicos, ameaçou a vítima de morte e a atacou pelas costas, mesmo que não houvesse qualquer reação aos insultos.

“Sai daqui da minha picada, aqui é meu, foi eu que fiz seu filha da p*** boliviano. Não sei o que essas praga [sic] faz aqui, esse bando de boliviano d*********, filho do cão. Se minha espingarda estivesse aqui eu te dava um tiro”, teria ameaçado o suspeito, de acordo com a denúncia.

A vítima sofreu um corte profundo na cabeça e também foi atingido em outras partes do corpo. O boletim de ocorrência narra que, mesmo desnorteado pela agressão e pela perda de sangue, o rapaz teve que se locomover sozinho até a cidade para pedir ajuda médica.

“O indígena estava pescando para alimentação de sua família, em um rio que passa no meio do território tradicional do povo Guarasugwe. O rio não é propriedade privada de nenhum pescador não-indígena”, aponta a denúncia.

Até a manhã desta segunda-feira (27), a vítima estava no hospital para fazer exames, mas deve ser liberada durante o dia. Não há informação sobre a prisão do suspeito.

Agressões recorrentes

 

Representantes da comunidade Yakarerupa, onde vive o povo Guarasugwe, enviaram uma denúncia ao Ministério Público Federal (MPF) pedindo apoio com relação ao caso mais recente e outras agressões a que eles são submetidos.

“O fato ocorrido recentemente atinge todos nós. Hoje foi ele [a vítima], amanhã poderá ser outro parente, assim como na década de 60 muitos dos nossos foram mortos pela crueldade do homem não-indígena, pela ganância de ocupar terra/território tradicional”, consta na denúncia.

O povo Guarasugwe é transfronteiriço, ou seja, vive na divisa entre Brasil e Bolívia. Por este motivo, os representantes relatam que sofrem preconceitos ao serem tratados como bolivianos – de forma pejorativa – e não como indígenas.

“Ressaltamos que indígena é indígena em qualquer lugar do mundo”, apontam as lideranças.

 

A denúncia narra que, quando procurou ajuda da Polícia Militar (PM) para registrar o caso, o rapaz foi tratado como estrangeiro. O boletim foi registrado como Lesão Corporal e em nenhum trecho cita que a vítima é indígena.


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