O Governo de Rondônia, por meio da Secretaria de Estado de Saúde (Sesau) e a Agência Estadual de Vigilância em Saúde (Agevisa), vem contribuindo com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no sentido de mobilizar voluntários para a Pesquisa de caracterização virológica e imunológica dos profissionais de saúde vacinados contra o Sars-Cov-2, em andamento desde março. O estudo visa identificar como os imunizantes reagem no pós aplicação. A pesquisa é coordenada por quatro doutoras especialistas em imunologia e biologia experimental, sendo três da Fiocruz Rondônia e uma da Fiocruz do Rio de Janeiro.
De acordo com a Doutora Juliana Zuliani, pesquisadora em saúde pública especialista em imunologia, “o estudo deve se estender pelo período de um ano a partir da conclusão da coleta das amostras e tem a participação também das doutoras Soraya Santos e Deusilene Vieira de Rondônia e a doutora Adriana Valochi, no Rio de Janeiro. Cada uma tem sob sua coordenação um grupo de alunos doutorandos que também integram a pesquisa que deve ter o resultado final divulgado somente entre os meses de agosto e setembro de 2022”, explica a pesquisadora.
AMOSTRAS ALVO
O Programa Nacional de Imunização (PNI) do Ministério da Saúde (MS), recomenda que a vacinação contra SARS-COV-2 seja realizada com doses de imunizantes da mesma farmacêutica, entretanto ocorreram casos em nível nacional de aplicação de doses de vacinas de farmacêuticas diferentes numa mesma pessoa.
Segundo a pesquisadora “esse processo recebe o nome de intercambialidade inadvertida, que ocorreu aqui em Porto Velho com um grupo de 90 profissionais de saúde, onde foram aplicadas doses de Coronavac e AstraZeneca. Deste grupo, 60 são voluntários na pesquisa e já tiveram amostras coletadas. Assim como 40 indivíduos que foram imunizados com as duas doses de Coronavac e 20 que receberam as duas doses de AstraZeneca. “Ainda estamos recebendo voluntários para complementar essa pesquisa”, salienta a doutora.
“É um estudo pioneiro no Brasil e pode trazer muitas respostas para os governantes e para o Ministério da Saúde. Uma delas, em especial, se na falta de um tipo de imunizante é possível liberar diferentes tipos de vacinas para uma mesma pessoa”, destaca.
O biomédico Hallison Santana, doutorando em biologia experimental pela Unir, é um dos orientandos da pesquisa. Os pesquisadores fazem testes laboratoriais, de acordo com o período de coleta estipulado pelo estudo, para identificar o padrão de resposta imunológica dos diferentes grupos estudados. “As coletas acontecem na Fiocruz Rondônia após a segunda dose.
São amostras de sangue periférico e de “swab” da nasofaringe, como forma de rastrear se os participantes estão infectados com o vírus, mesmo após a vacinação, e verificar a presença de anticorpos séricos contra o Sars-Cov-2, coronavírus, durante o período do estudo de um ano. No sangue, são avaliados o soro, o plasma e a célula. “No plasma são avaliados vários mediadores que são liberados quando as células são ativadas. Nas células são avaliados marcadores de superfície para demonstrar se elas estão se diferenciando em células de memória ou não”, explica Soraya.
Os pesquisadores querem saber se eles estão tanto produzindo anticorpos quanto tendo uma diferenciação nas chamadas células de memória, que são linfócitos especiais, que integram o sistema imunológico. Essas células são extremamente organizadas, tendo cada uma sua função específica, por exemplo, se o organismo entrar em contato com qualquer agente infeccioso, ele desenvolverá as chamadas células da memória, que são capazes de reconhecer de imediato o agente infeccioso.
Os teste sorológico buscam os indicativos de produção de anticorpos para diferentes marcadores do vírus, que seriam os alvos do vírus para medir a capacidade de produção de anticorpos direcionados e quantos se tornam neutralizantes. A doutora em biologia experimental Soraya Santos explica que “há uma diferença muito grande em ter uma alta taxa de anticorpos e ter neutralizantes, capazes de bloquear a entrada do vírus nas células. A resposta de imunidade é individual e depende de cada organismo. A pesquisa pretende fazer além da relação com o grupo, identificar a capacidade de imunização de cada pessoa”, explica a pesquisadora.
PARCERIA
Os testes de sorolização são coordenados pela Doutora Adriana Valochi, especialista em imunologia da Fiocruz do Rio de Janeiro. “Essa parceria é fundamental porque aqui em Rondônia não temos laboratórios de contenção, com nível de Biossegurança 3 (NB 3). Nesse tipo de laboratório o pesquisador trabalha com patógenos de risco biológico da classe 3, ou seja, com microrganismos que acarretam elevado risco individual resultado da exposição por inalação de agentes potencialmente fatais”, disse.
Os usuários que trabalham no NB3 são altamente treinados para o manejo de agentes patogênicos, tendo em vista que o nível de contenção 3 exige a intensificação dos programas de boas práticas laboratoriais e de segurança, além da existência obrigatória de dispositivos e do uso de equipamentos de proteção individual específicos para este tipo de trabalho, que ainda não temos aqui em Rondônia.
COMO PARTICIPAR
Os interessados em participar como voluntários devem encontrar em contato com a Fiocruz pelo e-mail [email protected] ou pelo telefone (69) 99279-9070. A equipe entrará em contato com o voluntário via aplicativo de mensagem para agendamento da coleta. É necessário levar no dia da coleta o cartão de vacinação contra o Sars-Cov-2 e ingerir pelo menos 500 ml de água filtrada antes de coletar o sangue.