Jaru Online
Jaru, 21 de outubro de 2024

Estudantes são queimados em trote com creolina e larvicida: ‘ardia muito’

Seis calouros de agronomia de uma faculdade particular ficaram com queimaduras graves pelo corpo após um trote aplicado dentro da instituição de ensino, na noite de segunda-feira (15), em Vilhena (RO).  De acordo com os jovens, as lesões foram provocadas por um mistura de creolina e larvicida. Depois da brincadeira, os estudantes feridos deram entrada em hospitais do município. Três vítimas já registraram boletim de ocorrência na Delegacia de Polícia Civil por lesão corporal.

Em entrevista ao G1, o estudante Lucas Ribeiro Boehm, de 17 anos, contou como aconteceu a brincadeira. “Jogaram lepecid com creolina e, na hora que bateu no corpo, começou a queimar. Senti muita dor. Comecei a pular e não parava a dor. Nesse momento corri para o banheiro. Ardia muito. Fiquei meio tonto, quase desmaiei, e um amigo me trouxe para o hospital”, relata Lucas, que ficou internado em um hospital particular da cidade com queimaduras de primeiro grau nas costas, ombro e tórax.

Lucas conta que os veteranos diziam que ninguém era obrigado a participar do trote, porém alertavam que os desistentes não iriam participar das festas ao longo do curso. Segundo ele, os universitários rasparam os cabelos dos meninos e passaram larvicida nas mãos e nos pés das meninas. “Todo mundo resolver fazer, pois achávamos que seria legal participar, por ser o primeiro ano de faculdade. Mas não imaginávamos que seria isso. Jogaram um monte de spray em mim. Tinha gente lá fora da faculdade e quem fugisse seria pior. Foi horrível”, descreve.

Kelissa diz ter pensado que trote seria com tinta (Foto: Eliete Marques/ G1)Kelissa diz ter pensado que trote seria com tinta (Foto: Eliete Marques/ G1)

A caloura Kelissa Luila Pereira Rodrigues, de 19 anos, também precisou de atendimento médico após o trote. Ela registrou boletim de ocorrência na manhã desta terça-feira (15). “Disseram para gente que iria ser uma brincadeira com tinta. Quando estávamos cheios de tinta, eles começaram a jogar um produto químico na gente, que começou a queimar e a arder. Foi muita dor”, relata.

Kelissa foi levada para o Hospital Regional, onde ficou em observação. Ela sofreu queimaduras no ombro e braço. “A maioria da turma se feriu. Mas nem todos procuraram atendimento médico na cidade, pois vários moram em outros municípios ou tiveram lesões mais leves. Registrei boletim de ocorrência e espero que se faça alguma coisa. Imagina o que será feito ano que vem, vão matar?”, questiona, enfatiza.

Composição
Segundo a bula do larvicida, o produto usado no trote é recomendado apenas para o tratamento de bicheiras em animais, provocadas por larvas ou ferimentos externos. A inalação do mesmo é proibida, sendo vetado o uso em aves. O produto também é altamente inflamável.

Já a creolina é usada em limpeza ou na dissolvição de protudos químicos, como desinfetantes.

Hospital
De acordo com a gerência de enfermagem do Hospital Regional, cinco jovens foram atendidos com queimaduras pelo corpo durante a noite. Segundo a gerência, os primeiros quatro calouros atendidos precisavam de internação, mas se negaram, pois moravam em outras cidades e queriam pegar o ônibus de volta.

 

Pai de Lucas diz que procurou registrar boletim na delegacia (Foto: Eliete Marques/ G1)Pai de Lucas diz que procurou registrar boletim na
delegacia (Foto: Eliete Marques/ G1)

Indignação
O empresário Edson Roberto Boehm é pai de Lucas e ficou indignado com o caso. Ele procurou a delegacia na manhã desta terça-feira para registrar o caso. “A reação é de revolta, pois o trote seria uma brincadeira.  O médico disse que a queimadura poderia chegar a segundo grau, e que a mistura dos reagentes se tornou um ácido, e onde escorreu, queimou. Espero que tome as providências na faculdade, para que isso não aconteça nos próximos anos. Agora, vamos deixar na mão da polícia”, diz.

O eletricista veicular José Rodrigues, pai de Kellisa, também está revoltado com o ocorrido, e diz que apoia a decisão da filha de abandonar o curso. Segundo ele, a família irá procurar uma outra faculdade para a jovem. “É muito triste, porque a gente já coloca em faculdade particular, pois acha que é mais seguro. Ela começou com ânsia de vômito, falta de ar, querendo desmaiar. Levei ela nas carreiras para o hospital. Fiquei muito preocupado”, ressalta.

O G1 procurou a faculdade, mas a direção não quis se pronunciar sobre o caso. A Polícia Civil deve investigar o caso.


COMPARTILHAR