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Jaru, 27 de outubro de 2024

Envolvidos em trote com creolina podem ser expulsos, diz faculdade

A Faculdade da Amazônia (Fama) divulgou nota de repúdio contra o trote violento que foi aplicado no curso de agronomia, na segunda-feira (15), em Vilhena (RO). Durante a brincadeira, os veteranos jogaram creolina e larvicida nos calouros e seis pessoas tiveram queimaduras graves pelo corpo. Segundo a instituição de ensino, o caso já está sendo apurado e os envolvidos serão punidos, podendo ser suspensos e até mesmo expulsos da instituição.

Na nota, a faculdade afirma ainda que “que o trote violento é terminantemente proibido na Instituição, que já está envidando esforços para apurar a autoria do lamentável evento, em que foram molestados alunos ingressantes”.

Tinta automotiva
Com queimaduras nas costas e ombro, a caloura de agronomia, Gabriela Karina Kerber, de 21 anos, é umas das vítimas que registrou boletim de ocorrência sobre o trote violento.

Em entrevista ao G1 nesta quarta-feira (17), Gabriela diz que os veteranos usaram tinta automotiva, larvicida e creolina na brincadeira. “Não esperava que seria dessa forma. Aceitei participar de um trote normal. Eles entraram na sala e disseram para nós que iria ser um trote, mas que não iria ter agressão, e não iria ter sangue. Começaram a pintar as mãos e o pés. Depois começaram jogar um liquido na gente”, lembra.

Em reunião, Gabriela diz que faculdade se comprometeu contratar advogado (Foto: Eliete Marques/ G1)Em reunião, Gabriela diz que faculdade se comprometeu contratar advogado (Foto: Eliete Marques/ G1)

Gabriela conta que na noite de terça-feira (16) foi feita uma reunião entre calouros e direção da faculdade. “Eles disseram que irão disponibilizar um advogado para os calouros. Vou continuar com o caso na polícia, pois não aceitei ser queimada. A hora que jogaram creolina, jogaram lepecid por cima. Fiquei com medo e fui embora”, diz a jovem, que não procurou atendimento médico.

Investigação
De acordo com o Instituto Médico Legal (IML) de Vilhena, quatro jovens fizeram o exame de corpo de delito. Segundo o delegado regional, Fábio Campos, a polícia aguarda o resultado dos exames para adotar os procedimentos.

“Vamos mandar um oficio à faculdade pedindo imagens de circuitos internos e externos do dia que ocorreu o trote. Também pediremos cópia dos procedimentos administrativos da instituição com a identificação dos alunos responsáveis, para a apuração do caso”, explica.

Composição
Segundo a bula do larvicida, o produto usado no trote é recomendado apenas para o tratamento de bicheiras em animais, provocadas por larvas ou ferimentos externos. A inalação do mesmo é proibida, sendo vetado o uso em aves. O produto também é altamente inflamável.

Já a creolina é usada em limpeza ou na dissolvia de produtos químicos, como desinfetantes.

Atendimentos médicos
Após o trote, seis jovens procuraram atendimento médico em hospitais do município com queimaduras pelo corpo. A caloura Kelissa Luila Pereira Rodrigues, de 19 anos, sofreu lesões no ombro e braço. “Disseram para gente que iria ser uma brincadeira com tinta. Quando estávamos cheios de tinta, eles começaram a jogar um produto químico na gente, que começou a queimar e a arder. Foi muita dor”, relata.

Já o calouro Lucas Ribeiro Boehm, de 17 anos, ficou internado em um hospital particular da cidade, com queimaduras de primeiro grau nas costas, ombro e tórax. “Jogaram lepecid com creolina e, na hora que bateu no corpo, começou a queimar. Senti muita dor. Comecei a pular e não parava a dor. Nesse momento corri para o banheiro. Ardia muito. Fiquei meio tonto, quase desmaiei, e um amigo me trouxe para o hospital”, relatou.

Veja a nota de repúdio da faculdade:
A FAMA – Faculdade da Amazônia, torna público, o seu repúdio ao evento de trote praticado dentro do campus universitário, por alunos veteranos, no dia de ontem, 15 de fevereiro de 2016, eis que o trote violento é terminantemente proibido na Instituição, que já está envidando esforços para apurar a autoria do lamentável evento, em que foram molestados alunos ingressantes, pois, apesar de inexistir lei federal que coíba o trote nos ambientes universitários, é dever da Instituição fazê-lo.

Em que pese a inexistência de lei específica que puna o trote violento, é ele objeto de punição no ordenamento jurídico brasileiro, quando por exemplo, as brincadeiras de recepção a alunos novatos, por alunos veteranos, resvalam a órbita da lei penal, da lei civil e da lei administrativa. O Código Penal, por exemplo, pune a lesão corporal (art. 129, CP), o constrangimento ilegal (art. 146, CP), a injúria (art.140, CP), o homicídio (art, 121, CP). Na esfera civil, qualquer ato que viole a dignidade da pessoa humana, o seu autor é passivo de responder por perdas e danos morais e patrimoniais. Na esfera administrativa, o Regimento Interno da Instituição de Ensino Superior, prevê regras disciplinares, que se prestam a punir atos dos discentes incompatíveis com o ordenamento jurídico e a ética.

A responsabilidade de cada aluno veterano será rigorosamente apurada, através de Processo Administrativo Disciplinar, que já foi instaurado, a fim de que a cada acadêmico veterano envolvido sejam aplicadas as penalidades administrativas cabíveis, que vão desde a suspensão até a expulsão.

A FAMA é uma instituição que prestigia, incentiva e promove a Educação Inclusiva, e tem como valor inegociável, a DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA, que se inscreve na Constituição da República do Brasil, como um de seus pílares de sustentação (art. 1º, inciso III, CF), a representar a própria âncora do Estado Democrático de Direito.

Nesse passo, e envolta num profundo sentimento de tristeza pelos atos praticados por alunos veteranos em face de alunos ingressantes, a FAMA vem a público, repudiar as ações desmedidas levadas a efeito em seu campus universitário, no dia 15/02/2016 e reafirmar o seu compromisso em defesa incondicional da dignidade da pessoa humana.

Equipe especializada de professores estará orientando as famílias dos alunos molestados, disponibilizando a elas e aos discentes ingressantes vítimas desse evento danoso, o devido atendimento.

Profª. Patricia Clara Gomes da Silva Cipriano
Diretora Geral da FAMA


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