Há cerca de dois meses, fui fazer um exame ginecológico de rotina e descobri que estava grávida. E não só de um, mas de três bebês.
Fazia um ano que eu tomava pílula anticoncepcional, mas não estava me fazendo bem. Eu tomava nos horários certos, todos os dias, mas me dava dor de cabeça, atacava minha gastrite e eu acabava passando muito mal, tinha náuseas e vômitos. Decidi que queria mudar de método e fui conversar com a minha médica. Pedi para colocar o DIU (dispositivo intrauterino), mas no início ela foi contra.
Segundo ela me explicou, o procedimento era invasivo e pouco indicado para meninas da minha idade, sendo mais adequado para pessoas mais velhas ou que já tenham filhos. Cheguei a pesquisar sobre o implante anticoncepcional, mas meu plano de saúde não cobria. Então, insisti com a médica para colocar o DIU, eu queria prevenir a gravidez e achei que esse seria o melhor método para mim. Ela concordou e me pediu um exame de ultrassom transvaginal para ver se estava tudo certo para fazer o procedimento.
Foi nesse exame que descobri a gravidez. A médica me perguntou: “Você está fazendo o exame para colocar o DIU?” Respondi que sim. Ela falou: “Não vai dar para colocar. Você já está grávida”.
Meu noivo estava comigo na sala de exame. Tomamos um susto na hora. Nem passou pela minha cabeça porque como tomava o anticoncepcional, a chance disso acontecer era muito baixa. Eu tinha parado de tomar a pílula porque estava atacando demais a minha gastrite, mas usei preservativo nesse período. A verdade, porém, é que eu já estava grávida.
Três corações A médica continuou: “Você está de sete semanas, já dá até para escutar o coração”. Meu noivo olhou para a tela do exame e começou a fazer uma cara muito esquisita. Eu nem dei bola, pensei: “É homem, não entende nada dessas coisas”. Quando vi, a médica também estava com a mesma cara esquisita. Fiquei preocupada, na hora pensei que pudesse ter algo errado com a gestação, o bebê estar nas trompas, por exemplo. Ela disse: “Já vou conversar com vocês.”
Ela perguntou se eu tinha feito algum tratamento para engravidar. Estranhei a pergunta, respondi que não, que estava justamente fazendo o contrário, tentando evitar. Foi então que ela nos informou que eram trigêmeos. Disse que estavam se desenvolvendo bem e que já dava para escutar os batimentos dos três.
Até aquele momento, achei que era tudo brincadeira. A ficha demorou a cair. Eu procurava mil e uma razões para aquilo não ser verdade. Eu realmente achei que ela tinha colocado o mesmo batimento para repetir três vezes, que aquilo era uma pegadinha, que só podia ser piada.
Na verdade não caiu a ficha até agora. Estou com 14 semanas, mas na última consulta o médico disse que o útero já está do tamanho esperado para 21 semanas. A previsão do parto seria para setembro, mas os médicos dizem que é muito difícil que eu chegue aos nove meses. Eles podem nascer com oito, sete, ou até seis meses.
A gestação é considerada de alto risco, tanto por ser trigemelar quanto pela minha pouca idade e tamanho. Eu tenho 1,50 m e peso 45 kg. Completei 19 anos este mês. Fico pensando: “Como vai caber três crianças dentro de mim?”
“Demoramos a aceitar” Sou técnica em enfermagem e faço faculdade de psicologia. Estou no quinto período. No momento estou conseguindo frequentar as aulas, mas daqui uns meses, que será quando os bebês nascerem, vou precisar trancar o curso. Estou desempregada e meu noivo, Wylker, 27, trabalha como motorista de aplicativo.
O Wylker também não acreditou no início. Foi um choque muito grande para nós dois, demoramos a aceitar. A gente não achava que era possível isso acontecer sem inseminação. Agora ele já está aceitando até melhor do que eu, está me dando muita força. Estamos morando juntos há cerca de um ano.
Antes da pandemia, eu morava com meu pai e minha avó. Em maio de 2020, nós três pegamos covid e meu pai morreu. Sou filha única, éramos muito apegados. Não aguentei mais morar naquela casa, onde cresci com ele, onde construí tantas memórias. Fui morar com a minha mãe, mas ela se mudou com o marido dela para Silva Jardim (RJ) no ano passado.
Minha avó também foi morar com o companheiro dela, e acabei ficando sozinha na casa que era da minha mãe. Mas era muito difícil, não gostava de ficar só, principalmente depois da perda do meu pai. Aí, o Wylker vinha me visitar, passava alguns finais de semana aqui, e aos poucos ele veio morar aqui.
Estamos juntos há dois anos. A gente falava dessa vontade de ter filhos, mas era um sonho distante, até porque ele já tem dois filhos, de 8 e 4 anos. Eu ainda tinha planos de terminar a faculdade e depois viajar. Tinha várias coisas que eu queria fazer antes de ser mãe.
Falha no anticoncepcional Como sou técnica em enfermagem, a gente aprende que todo medicamento tem uma taxa de falha e há algumas coisas que podem ocasionar essa falha. Uma delas é vomitar menos de 4 horas após ingerir o medicamento. Como eu estava tendo as crises de gastrite e passava muito mal, pode ter acontecido isso. Mas eu tomava todos os dias, nunca esquecia.
Quando contei a notícia para a minha família, ninguém acreditou. As reações das pessoas, de amigos, não foram das melhores, mas agora todos estão me apoiando. Minha mãe está vindo me visitar todo mês e tenho minha sogra como rede de apoio.
Não há nenhum caso de gêmeos na minha família, nem na do Wylker. Ainda não consegui ver os sexos, mas dois bebês são idênticos e um não. Ou seja, tenho os dois tipos de gestações gemelares ao mesmo tempo. Deus me escolheu, não tem outra explicação.
Minhas maiores preocupações são o parto e a questão financeira. Estou desempregada e minha mãe também. Ela trabalhava como secretária em um escritório de advocacia, mas foi demitida na pandemia. Me preocupo em conseguir comprar as coisas antes de eles nascerem. É fralda em dose tripla, é enxoval, é muita coisa.
Também me preocupo que corra tudo bem no parto, que eles nasçam saudáveis, que não passem muito tempo na UTI.
Estamos fazendo uma rifa no Instagram para conseguir arrecadar dinheiro para comprar as coisas. Cada número custa 99 centavos e o prêmio é de R$ 1.000,00. Lançamos 4 mil números e até agora já vendemos 2 mil. Pretendemos fazer mais rifas. Sem isso, ficaria muito difícil.
Quando postei sobre a gravidez no Tiktok, não imaginava que ia viralizar. Teve 10 milhões de visualizações. Sou uma pessoa mais reservada, não posto muita coisa nas redes. Mas é bom [ter viralizado] porque pode aparecer mais gente para ajudar.
Estou seguindo algumas mães de gêmeos e trigêmeos no Instagram. Tudo me assusta. Ao mesmo tempo que penso que vai ser bom assistir, me informar, me dá muito gatilho. Fico pensando: “Será que vou dar conta?” Eu já fiz terapia, mas agora precisei cortar alguns gastos. Me faz falta, mas não tenho como ter este gasto agora. Apesar das preocupações, estou feliz, confio em Deus, acredito que tudo vai dar certo. Lívia Magalhães, 19 anos, é técnica em enfermagem e mora em Duque de Caxias, no Rio de Janeiro.
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