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Jaru, 24 de novembro de 2024

Dias Toffoli suspende investigações sobre Flávio Bolsonaro

O presidente do Supremo Tribunal Federal ( STF ), ministro  Dias Toffoli , determinou nesta terça-feira a suspensão de todos os processos judiciais em que dados bancários de investigados tenham sido compartilhados por órgãos de controle sem autorização prévia do Poder Judiciário. A decisão foi dada em resposta a um pedido do senadorFlávio Bolsonaro (PSL-RJ) e pode beneficiá-lo em investigações que tramitam contra ele na Justiça do Rio de Janeiro.

Além de paralisar processos judiciais em andamento, Toffoli mandou suspender inquéritos e procedimentos de investigação criminais (PICs) em tramitação tanto no Ministério Público Federal quanto nos ministérios públicos estaduais e no Distrito Federal. O presidente do STF classificou como “temerária” a atuação do MP em casos envolvendo o compartilhamento de informações fiscais sem a supervisão da Justiça.

Flávio Bolsonaro é investigado pelo Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) no inquérito que apura o suposto desvio de dinheiro em seu antigo gabinete na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). O desvio, segundo as investigações, ocorreria a partir da arrecadação ilícita de parte dos salários de servidores lotados no gabinete do então deputado estadual. Flávio Bolsonaro nega seu envolvimento no caso.

A suposta arrecadação teria sido detectada em relatórios do Conselho de Administração de Atividades Financeiras (Coaf). A defesa de Flávio argumentou ao STF que a investigação conduzida pelo MPRJ teria irregularidades porque o repasse de dados do Coaf ao MPRJ não teria sido intermediado pela Justiça.

Relatório do Coaf aponta movimentação atípica

Flávio Bolsonaro e Queiroz em campanha Foto: Arquivo pessoal
Foto: Arquivo pessoal

“Considerando que o Ministério Público vem promovendo procedimentos de investigação criminal (PIC), sem supervisão judicial, o que é de todo temerário do ponto de vista das garantias constitucionais que assistem a qualquer indiciado ou a qualquer pessoa sob investigação do Estado, revela-se prudente ainda suspender esses procedimentos”, disse Toffoli, em sua decisão.PUBLICIDADE

O ministro embasou sua decisão no fato de que a legalidade do compartilhamento de informações nesses moldes é tema de um processo, cujo julgamento de mérito está marcado para novembro, que tem “repercussão geral” na Corte. Isso significa que a decisão do Supremo valerá para todo o Judiciário. Nesses casos, é de praxe que todas as matérias que tratam do assunto fiquem suspensas.A TRAJETÓRIA DE FLÁVIO BOLSONARO: DE DEPUTADO MAIS JOVEM DO RIO A SENADOR SOB SUSPEITA1 de 15 

Eleito senador com mais de 4 milhões de votos, Flávio Bolsonaro vê seu capital político afundar ao emergir novas informações sobre movimentações financeiras suspeitas dele e do ex-assessor Fabrício Queiroz. O MP investiga a prática de “rachadinha”, ato de embolsar salários de assessores. A situação do parlamentar se agravou quando veio à tona a informação de que o parlamentar empregava parentes de ex-capitão da PM, apontado como chefe de milícia do Rio. Flávio nega irregularidades. Veja a trajetória política do filho mais velho do presidente Jair Bolsonaro. Foto: Daniel Marenco / Agência O Globo 18/09/2018
Eleito senador com mais de 4 milhões de votos, Flávio Bolsonaro vê seu capital político afundar ao emergir novas informações sobre movimentações financeiras suspeitas dele e do ex-assessor Fabrício Queiroz. O MP investiga a prática de “rachadinha”, ato de embolsar salários de assessores. A situação do parlamentar se agravou quando veio à tona a informação de que o parlamentar empregava parentes de ex-capitão da PM, apontado como chefe de milícia do Rio. Flávio nega irregularidades. Veja a trajetória política do filho mais velho do presidente Jair Bolsonaro. Foto: Daniel Marenco / Agência O Globo 18/09/2018
Flávio Bolsonaro (à direita) é o primogênito dos irmãos Bolsonaro e foi criado com Eduardo (à esquerda) e Carlos (centro). Ele também tem mais dois irmãos por parte do pai: Jair Renan, de 20 anos, e Laura, de 8 Foto: Reprodução
Flávio Bolsonaro (à direita) é o primogênito dos irmãos Bolsonaro e foi criado com Eduardo (à esquerda) e Carlos (centro). Ele também tem mais dois irmãos por parte do pai: Jair Renan, de 20 anos, e Laura, de 8 Foto: Reprodução
Em 2002, aos 21 anos, foi o deputado estadual mais novo eleito da história do Rio, com 31.293 votos. Na ocasião, ele era filiado ao PP e declarou apenas um carro Gol 1.0 como patrimônio à Justiça Eleitoral. Foi o segundo filho do presidente a entrar para a política. Carlos foi eleito vereador do Rio dois anos antes Foto: Sérgio Borges / Infoglobo 18/06/2003
Em 2002, aos 21 anos, foi o deputado estadual mais novo eleito da história do Rio, com 31.293 votos. Na ocasião, ele era filiado ao PP e declarou apenas um carro Gol 1.0 como patrimônio à Justiça Eleitoral. Foi o segundo filho do presidente a entrar para a política. Carlos foi eleito vereador do Rio dois anos antes Foto: Sérgio Borges / Infoglobo 18/06/2003
Foi reeleito com 43.099 votos em 2006, eleição na qual declarou um Peugeot 307 ano 2003, no valor de R$ 35 mil, e um apartamento em Botafogo avaliado em R$ 350 mil. Na eleição de 2010, Flávio declarou escritórios, um veículo mais caro e ações, além do mesmo apartamento em Botafogo. Somente no pleito seguinte, em 2014, surgiu o polêmico apartamento em Laranjeiras, além de um carro no valor de R$ 105 mil Foto: Marco Antônio Teixeira / Agência O Globo 01/02/2007
Foi reeleito com 43.099 votos em 2006, eleição na qual declarou um Peugeot 307 ano 2003, no valor de R$ 35 mil, e um apartamento em Botafogo avaliado em R$ 350 mil. Na eleição de 2010, Flávio declarou escritórios, um veículo mais caro e ações, além do mesmo apartamento em Botafogo. Somente no pleito seguinte, em 2014, surgiu o polêmico apartamento em Laranjeiras, além de um carro no valor de R$ 105 mil Foto: Marco Antônio Teixeira / Agência O Globo 01/02/2007
Em 2010, recebeu 58.322 votos, e em 2014, 160.359. Nos 16 anos de mandato na Alerj, Flávio aprovou 12 projetos de lei, entre eles um que assegura a matrícula em escolas da rede estadual para filhos de militares ou de agentes de segurança públicos mortos e outra sobre vasectomia e laqueadura gratuita em hospitais do estado. Nos quatros mandatos, passou pelo PP, PTB, PFL (atual DEM), PSC e PSL Foto: Márcio Alves / Agência O Globo 11/09/2018
Em 2010, recebeu 58.322 votos, e em 2014, 160.359. Nos 16 anos de mandato na Alerj, Flávio aprovou 12 projetos de lei, entre eles um que assegura a matrícula em escolas da rede estadual para filhos de militares ou de agentes de segurança públicos mortos e outra sobre vasectomia e laqueadura gratuita em hospitais do estado. Nos quatros mandatos, passou pelo PP, PTB, PFL (atual DEM), PSC e PSL Foto: Márcio Alves / Agência O Globo 11/09/2018
Em paralelo à atividade parlamentar, o deputado se casou com a dentista Fernanda Bolsonaro em 2010, com quem teve duas filhas Foto: Reprodução 01/10/2016
Em paralelo à atividade parlamentar, o deputado se casou com a dentista Fernanda Bolsonaro em 2010, com quem teve duas filhas Foto: Reprodução 01/10/2016
Ele é dono de uma franquia da Kopenhagen no shopping Via Parque, na Barra da Tijuca. Ao justificar seu padrão de vida e seus bens, Flávio diz que ganha na empresa "muito mais do que como deputado". A inauguração da loja (foto), em 2015, contou com a presença de Bolsonaro e do deputado Wagner Montes Foto: Reprodução
Ele é dono de uma franquia da Kopenhagen no shopping Via Parque, na Barra da Tijuca. Ao justificar seu padrão de vida e seus bens, Flávio diz que ganha na empresa “muito mais do que como deputado”. A inauguração da loja (foto), em 2015, contou com a presença de Bolsonaro e do deputado Wagner Montes Foto: Reprodução
Em 2016, Flávio trocou tiros com bandidos para impedir um assalto na Barra da Tijuca. O parlamentar contou que estava em um Honda Civic com seu segurança quando ladrões abordaram um carro à frente, parado em um sinal. De dentro do carro, Flávio disparou uma pistola calibre 380. O para-brisa do carro foi perfurado pelas balas. Após o confronto, os criminosos, que pilotavam motocicletas, fugiram. Foto: Divulgação 13/04/2016
Em 2016, Flávio trocou tiros com bandidos para impedir um assalto na Barra da Tijuca. O parlamentar contou que estava em um Honda Civic com seu segurança quando ladrões abordaram um carro à frente, parado em um sinal. De dentro do carro, Flávio disparou uma pistola calibre 380. O para-brisa do carro foi perfurado pelas balas. Após o confronto, os criminosos, que pilotavam motocicletas, fugiram. Foto: Divulgação 13/04/2016
No mesmo ano, se candidatou à Prefeitura do Rio pelo PSC. Durante debate na TV, passou mal ao vivo no estúdio. Ele acabou socorrido pelos rivais Jandira Feghali (PCdoB), que é médica, e Carlos Osório (PSDB). Flávio ficou em 4º lugar com 424.307 votos Foto: Reprodução 25/08/2016
No mesmo ano, se candidatou à Prefeitura do Rio pelo PSC. Durante debate na TV, passou mal ao vivo no estúdio. Ele acabou socorrido pelos rivais Jandira Feghali (PCdoB), que é médica, e Carlos Osório (PSDB). Flávio ficou em 4º lugar com 424.307 votos Foto: Reprodução 25/08/2016
Como toda a família, Flávio sempre teve grande atuação nas redes sociais. Em uma transmissão ao vivo após o pai sofrer ataque com faca em Juiz de Fora, em setembro, ele chegou a chorar e enxugar as lágrimas em uma bandeira do Brasil Foto: Reprodução
Como toda a família, Flávio sempre teve grande atuação nas redes sociais. Em uma transmissão ao vivo após o pai sofrer ataque com faca em Juiz de Fora, em setembro, ele chegou a chorar e enxugar as lágrimas em uma bandeira do Brasil Foto: Reprodução
Flávio acompanhou de perto a campanha do pai, principalmente após o ataque com faca. Ele ficou frequentemente ao lado de Bolsonaro durante as transmissões ao vivo do pai na internet Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo 07/10/2018
Flávio acompanhou de perto a campanha do pai, principalmente após o ataque com faca. Ele ficou frequentemente ao lado de Bolsonaro durante as transmissões ao vivo do pai na internet Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo 07/10/2018
Na carona da popularidade do pai, Flávio foi eleito senador pelo PSL com 4.380.418 votos. Ele fez campanha acompanhado do então assessor Fabrício Queiroz (de preto, sentado na caçamba da picape) como na foto em Campo Grande, na Zona Oeste Foto: Pedro Teixeira / Agência O Globo 15/09/2018
Na carona da popularidade do pai, Flávio foi eleito senador pelo PSL com 4.380.418 votos. Ele fez campanha acompanhado do então assessor Fabrício Queiroz (de preto, sentado na caçamba da picape) como na foto em Campo Grande, na Zona Oeste Foto: Pedro Teixeira / Agência O Globo 15/09/2018
O filho primogênito do presidente está na berlinda desde a revelação de que o Coaf identificou movimentações financeiras suspeitas de R$ 1,2 milhão na conta bancária de Queiroz, exonerado do gabinete de Flávio em outubro. Em três anos, o ex-assessor teria movimentado R$ 7 milhões segundo o Coaf. Tanto Queiroz quanto Flávio não compareceram ao Ministério Público nas datas marcadas para prestar esclarecimentos sobre o caso Foto: Reprodução / Infoglobo
O filho primogênito do presidente está na berlinda desde a revelação de que o Coaf identificou movimentações financeiras suspeitas de R$ 1,2 milhão na conta bancária de Queiroz, exonerado do gabinete de Flávio em outubro. Em três anos, o ex-assessor teria movimentado R$ 7 milhões segundo o Coaf. Tanto Queiroz quanto Flávio não compareceram ao Ministério Público nas datas marcadas para prestar esclarecimentos sobre o caso Foto: Reprodução / Infoglobo
Flávio foi diplomado senador pelo Rio em dezembro. Em meio às denúncias do caso Queiroz, Bolsonaro não compareceu à cerimônia. Uma das transações do ex-assessor listadas pelo Coaf diz respeito a cheques no total de R$ 24 mil destinados à primeira-dama, Michelle Bolsonaro. Segundo o presidente, trata-se do pagamento de parte de uma dívida de R$ 40 mil Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo 18/12/2018
Flávio foi diplomado senador pelo Rio em dezembro. Em meio às denúncias do caso Queiroz, Bolsonaro não compareceu à cerimônia. Uma das transações do ex-assessor listadas pelo Coaf diz respeito a cheques no total de R$ 24 mil destinados à primeira-dama, Michelle Bolsonaro. Segundo o presidente, trata-se do pagamento de parte de uma dívida de R$ 40 mil Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo 18/12/2018
A situação do senador eleito se agravou após a revelação de que o Coaf encontrou 48 depósitos em dinheiro vivo no valor de R$ 2 mil cada entre junho e julho de 2017 nas contas bancárias de Flávio. Um dia após a informação ser divulgada pelo Jornal Nacional, Flávio foi à Brasília conversar com o pai no Palácio da Alvorada Foto: Ernesto Rodrigues / Estadão Conteúdo
A situação do senador eleito se agravou após a revelação de que o Coaf encontrou 48 depósitos em dinheiro vivo no valor de R$ 2 mil cada entre junho e julho de 2017 nas contas bancárias de Flávio. Um dia após a informação ser divulgada pelo Jornal Nacional, Flávio foi à Brasília conversar com o pai no Palácio da Alvorada Foto: Ernesto Rodrigues / Estadão Conteúdo

A decisão de Toffoli acontece após diversas tentativas da defesa de Flávio Bolsonaro para alterar o curso das investigações que tramitam contra ele no Rio de Janeiro. Em fevereiro deste ano, ele recorreu ao STF argumentando que, por ser senador da República e ter foro privilegiado, o caso deveria ser investigado junto ao Supremo. O ministro do STF, Marco Aurélio Mello, negou o pedido. Em junho, o desembargador do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro Antônio Carlos Nascimento Amado negou um pedido da defesa de Flávio que pedia a suspensão da quebra de seu sigilo fiscal e bancário, decretada em abril .

Investigadores do caso junto ao Ministério Público do Rio explicaram ao GLOBO que a decisão de Toffoli se refere a um processo de 2017, cujo recurso será julgado em novembro. O MP diz não ter recebido nenhuma notificação oficial do STF ainda sobre o alcance da decisão diante das investigações sobre Flávio Bolsonaro.PUBLICIDADE

— Nunca vi nada parecido antes. Nunca vi uma decisão de repercussão geral para suspender investigações de forma generalizada em todo o país. Acredito que, como já temos decisão judicial no caso, é difícil que a decisão alcance essa investigação — afirma um dos investigadores.

95 alvos

As quebras de sigilos bancário e fiscal no âmbito da investigação tiveram como alvos 95 personagens, dentre ex-funcionários do gabinete de Flávio e  pessoas que participaram de transações imobiliárias com ele . As suspeitas do Ministério Público no caso são do crime de peculato, por meio da devolução dos salários dos funcionários do seu gabinete, lavagem de dinheiro e organização criminosa.

As investigações do MPRJ apontaram que o esquema de desvio de recursos no gabinete de Flávio Bolsonaro na Alerj seria operado pelo ex-assessor Fabrício Queiroz, que é policial militar reformado. Ao MPRJ, Queiroz admitiu que repassava parte dos salários de servidores lotados no gabinete de Flávio Bolsonaro a outras pessoas que trabalhassem, ainda que informalmente, para o parlamentar. A ideia, segundo ele, era ampliar a base de pessoas a serviço do então deputado. Queiroz disse que o parlamentar não tinha conhecimento do esquema.

Os promotores chegaram a apontar que  há indícios do funcionamento de uma “organização criminosa” no gabinete de Flávio na Alerj desde 2007 . As quebras de sigilo foram reveladas pelo GLOBO. A assessoria de Flávio Bolsonaro classificou a ação do MP como “campanha caluniosa”. O presidente Jair Bolsonaro afirmou que o filho era perseguido pelo MP e apontou que o objetivo das investigações seria derrubá-lo.

O GLOBO mostrou que o senador empregou nove parentes de Ana Cristina Siqueira Valle, ex-mulher de Jair Bolsonaro, no período em que foi deputado estadual. A maioria deles vive em Resende, no Sul do estado do Rio e todos  tiveram o sigilo fiscal e bancário quebrado  por decisão do Tribunal de Justiça do Rio. Ao menos quatro deles têm dificuldades para comprovar que, de fato, assessoraram Flávio. Eles recebiam salário, masnão tinham crachá e ficavam longe da Alerj . O senador disse, na ocasião, que os parentes de Ana Cristina foram nomeados porque eram “qualificados para as funções que exerciam”.

*Colaborou: Juliana Dal Piva.


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