A corrida pelo ouro em Pontes e Lacerda ganhou força em território nacional e até internacional por causa de uma imagem de uma enorme pedra dourada sob um copo de cerveja, compartilhada milhares de vezes nas redes sociais. Mas tudo não passou de uma brincadeira feita por um grupo de amigos, que pegaram uma pedra comum e a pintaram. Nessa brincadeira caíram pessoas de Rondônia, Pará, Acre, São Paulo, Maranhão, Goiás, Chile, Peru e Argentina, todos atraídos pela promessa da riqueza fácil. Muitos deixaram seus empregos, fizeram empréstimos e gastaram o que não tinham para chegar até a Serra do Caldeirão, em Pontes e Lacerda. Médicos, professores, comerciantes, empresários e até policiais estavam lá, cavando incansavelmente, noite e dia, atrás de alguma pedra como aquela da foto. “No começo tinha muito ouro, isso é fato. Mas a brincadeira do povo em pintar pedra e colocar copo de cerveja em cima e compartilhar atraiu muitos curiosos”, comentou um garimpeiro que viajou de São Paulo até o interior de Mato Grosso em busca do metal precioso. A cidade foi tomada pelos forasteiros e o único assunto é o ouro. Poucos são garimpeiros de profissão. Os demais gastaram suas economias, juntaram os amigos, compraram equipamentos e mantimentos e começaram a busca pelo tesouro. É o caso de uma comitiva formada por 12 pessoas, incluindo uma mulher, que veio de Rondônia. Eles estão na Serra do Caldeirão tentando reaver ao menos o dinheiro da passagem e confessam que foram iludidos pelas imagens falsas. Infelizmente, eles não devem ter nem o retorno do que gastaram, já que os policiais, nesta terça-feira (20) iria negociar com os garimpeiros uma saída pacífica do local, como determinou a Justiça Federal. “Só de rancho (comida), gastamos uns R$ 2 mil. Paguei num motor gerador aproximadamente R$ 7 mil. Pegamos quatro carros, juntamos o grupo e estamos aqui. Confesso que é ilusão. Achei que era mais fácil, mas, já que estamos aqui, vamos cavar”, disse João Batista, 50 anos de idade, comerciante em Vilhena e líder do grupo. Junto com ele estão mais alguns rapazes mais jovens, sedentos pela riqueza. “Nossa esperança é tentar tirar pelo menos a despesa. Estou triste porque amanhã a polícia chega e tudo aqui pode ir por água a baixo. Essa brincadeira da pedra pintada influenciou pelo menos 80% dos garimpeiros que estão aqui. Infelizmente caímos nessa também, mas não adianta chorar”, comentou Arlan, que mora em Porto Velho e também está há quase uma semana batendo picareta na serra. Para sobreviver no lugar, os 11 homens contam com ajuda de dona Maria, que cozinha para o grupo. Ela utiliza um cupinzeiro como fogão a lenha e diariamente faz a bóia para a rapazeada. “É difícil a vida aqui, mas viemos prontos e comida não vai faltar”, disse a mulher sorridente. Quem foi até a Serra do Caldeirão e conseguiu pegar ouro, no máximo encontrou pepitas. “Pedras aqui não existe, se existiu já acabou há muito tempo. Aqui tem, no máximo, pepitas e muito reco, que é preciso peneirar pra ver se encontra alguns gramas de ouro. Quem caiu na brincadeira da pedra pintada, chega aqui e só acha areia e muita laje para quebrar”, disse uma garimpeira, mostrando as pepitas que ela conseguiu em dez dias de escavação, cerca de 500 gramas. QUEDA NOS PREÇOS Após a decisão judicial para fechar o garimpo, os moradores de Pontes e Lacerda que mantém comércio na parte de baixo da Serra do Caldeirão resolveram diminuir alguns preços, que eram exorbitantes nas primeiras semanas. Uma garrafa de dois litros de Coca Cola que custava R$ 20 abaixou para R$ 15 e em alguns lugares até R$ 10. Espetinho que custava R$ 10 caiu para R$ 6 e uma garrafa de um litro de água que custava R$ 10 agora custa R$ 5. “Não adianta deixar caro. Apesar de ser garimpo, eu tenho consciência de que se não vender, quem vai perder será eu. Então abaixei meus preços e o povo aqui do comércio também. A qualquer hora a nossa festa pode acabar”, disse o comerciante Rodrigo Campos, 28 anos, que foi para garimpar, mas preferiu vender a cavar. RUAS VAZIAS Na cidade, principalmente em lojas de materiais para construção, agropecuários e produtos elétricos não há mais aparelhos geradores, nem marteletes, muito menos enxadas, rastelos, picaretas e pás. “Pelo que eu estou sabendo, de Cáceres para cá não tem mais nenhuma loja que tenha geradores e marteletes para vender. Aqui na minha loja tenho geradores encomendados. Não sei como vão fazer, pois vão fechar o garimpo. Mas essa corrida pelo ouro ajudou, e muito, a cidade, principalmente o comércio local”, disse um comerciante. “Na minha loja eu vendi tudo que pode ser usado em garimpo. O que eu venderia em dois ou três meses, vendi em menos de uma semana”, disse o dono da Ferragens Ribeiro, uma das maiores lojas de materiais de construção em Pontes e Lacerda. A Polícia Federal e a Polícia Rodoviária Federal (PRF) já definem as estratégias que serão colocadas em prática a partir de amanhã. A primeira delas será mandar os agentes para o local com objetivo de informar sobre a ordem judicial, para que as mais de 5 mil pessoas que lá estão deixem o garimpo pacificamente. Os trabalhos serão coordenados pela Polícia Federal. Por: Max Aguiar Da redação do Alerta Rondônia Fotos: Hiper Notícias