Benjamin, recém-nascido, Geovanna, 9, Alvanei, 15, Kamilly, 17. São 141 crianças e jovens até 19 anos mortos em razão da Covid-19 no Brasil, segundo o último boletim do Ministério da Saúde. Levantamento exclusivo do G1 mostra detalhes da maior parte desses casos e conta as histórias de vítimas e de famílias por trás dos números.
Um estudo do demógrafo francês Christophe Guilmoto, do Instituto de Pesquisa para o Desenvolvimento (IRD) da Universidade de Paris, mostra que o percentual de jovens mortos no Brasil é maior que em outros países.
O coronavírus tirou a vida de bebês como Benjamin, nascido junto com o irmão gêmeo João Marcelo, no dia 2 de maio em Maceió, Alagoas. A mãe, Carla Vitória, de 21 anos, descobriu no hospital que estava com Covid-19. Os dois filhos foram contaminados.
Benjamin morreu dois dias depois do parto. João Marcelo ficou internado na UTI neonatal. Eles nasceram prematuros, com 28 semanas.
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Carla Vitória, de Maceió, grávida dos gêmeos Benjamin (que morreu de Covid-19) e João Marcelo — Foto: Arquivo Pessoal
“No dia do parto, como eles foram muito prematuros, precisaram ser entubados logo, então eu não os vi. O Benjamin, que foi o que faleceu, só vi sem vida, num caixãozinho”, conta a mãe.
A equipe de reportagem conseguiu informações de 118 das 141 vítimas com até 19 anos registradas até o dia 26 de Maio. Dessas, pelo menos 18 não tinham comorbidades.
Foi o caso de Kamilly Ribeiro, de 17 anos, que não tinha doença pré-existente. Ela e a mãe, Germaine Herculano dos Santos, de 43 anos, foram contaminadas em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense.
A mãe, hipertensa, sobreviveu. Kamilly não resistiu após 20 dias internada no CTI.
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Kamilly Ribeiro, de 17 anos, não tinha comorbidades. A jovem era estudiosa, iria prestar Enem neste ano e sonhava em cursar medicina — Foto: Arquivo Pessoal
“Minha filha não tinha doença, nenhum tipo, bronquite, asma, tuberculose, coqueluche, nada disso ela teve”, diz Germaine.
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Perfil dos jovens até 19 anos mortos por Covid-19 no Brasil — Foto: Aparecido Gonçalves/G1
A maior parte das vítimas com menos de 19 anos, no entanto, tinha alguma doença ou já possuía algum problema de saúde quando contraiu a Covid-19.
Geovanna Steffane Ribeiro Guillem, de 9 anos, estava internada desde fevereiro na Santa Casa de Araçatuba (SP) fazendo tratamento contra leucemia.
Ela precisava de uma doação de medula óssea, mas não conseguiu. Morreu no dia 5 de maio.
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Geovanna Steffane Ribeiro Guillem morreu na Santa Casa de Araçatuba — Foto: Reprodução/TV TEM
Recém-nascidos
Os bebês menores de um ano estão entre os mais afetados pela Covid-19, especialmente prematuros. Essa é a faixa-etária com mais mortes entre os casos encontrados pela reportagem. Foram 42 vítimas.
Com uma síndrome que ataca os rins, uma bebê de três meses morreu no dia 3 de abril em Iguatu (CE). Com sintomas de gripe, a bebê foi levada para uma UPA, onde foi atendida e liberada com medicação.
Como ela tinha problemas de saúde desde o nascimento, os pais não suspeitaram que estivesse com Covid-19. Mas a dificuldade para respirar aumentou e a bebê foi encaminhada ao hospital onde ficou até morrer.
Em Niterói (RJ), uma bebê de 6 meses com HIV morreu de Covid-19 em 8 de maio. Ela deu entrada na unidade de saúde com quadro respiratório, evoluiu com síndrome respiratória aguda grave e não resistiu.
Um bebê de apenas quatro dias morreu em Natal (RN) no dia 7 de abril. A criança nasceu prematura, com 30 semanas de gestação, apresentou insuficiência respiratória e ficou na UTI neonatal. Quando deu entrada na maternidade, a mãe apresentava quadro de hipertensão, diabetes, obesidade e síndrome respiratória
Norte e Nordeste têm mais casos
As regiões Norte e Nordeste registram a maior parte dos casos de jovens mortos por Covid-19. O estado de Pernambuco foi o que teve o maior número de vítimas abaixo de 19 anos. São 22 casos.
A primeira criança vítima da Covid-19 no estado foi um bebê de 7 meses, que morreu no dia 13 de abril.
Ele tinha síndrome de Down, hipertensão pulmonar e cardiopatia. Foi internado no dia 5 de abril, com febre e tosse. Ficou cinco dias com respiração assistida na UTI, mas não resistiu.
No Norte, o Pará concentra a maioria dos casos: 20 registros. A primeira vítima morreu no dia 25 de abril, na cidade de Almeirim. Era uma adolescente de 15 anos.
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Adolescente Yanomami Alvanei Xirixana, de 15 anos, morreu com coronavirus no dia 9 de abril — Foto: Reprodução/Jornal Hoje
A doença também se espalhou pelas aldeias indígenas e fez sua primeira vítima em 10 de abril, o adolescente Alvanei Xirixana, de 15 anos. O índio ianomâmi foi contaminado em Roraima.
Ele chegou ao hospital com falta de ar, dor no peito, febre e dor de garganta. Ficou internado por uma semana e morreu.
Um bebê indígena de oito meses também morreu no dia 19 de abril no município de Alto Boa Vista (MT). Ele vivia na aldeia Marawãitsédé e não tinha qualquer comorbidade que pudesse potencializar a doença.