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Jaru, 25 de abril de 2025

Associação ambiental registra nova invasão em terra indígena de Rondônia

Um nova invasão foi registrada na Terra Indígena (TI) Uru-eu-wau-wau, em Rondônia, nesta semana. A informação foi confirmada pela ambientalista Ivaneide Bandeira, da Associação de Defesa Etnoambiental, Ivaneide Bandeira, na tarde desta sexta-feira (5). O local é alvo constante de grileiros.

Segundo Ivaneide, pelo menos mil invasores tentam tomar a aldeia. As famílias indígenas que vivem na terra relataram que são ameaças por parte dos madeireiros e grileiros, que seguem montando acampamentos e dividindo lotes de terras.

Equipes da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Ambiental (Sedam), junto com o ICMBio e a Polícia Militar encontraram, após um sobrevoo, cabanas de madeira onde os grileiros viviam dentro da terra.

Os invasores chegaram a incluir uma placa de uma associação demarcando a área, de acordo com Ivaneide. Não há informação de presos.

“Entraram mil invasores dentro da área e estamos acionando todo mundo para tirar esses invasores de lá”, disse Bandeira.

Invasores conseguiram construir cabanas dentro da terra indígena. — Foto: Divulgação/Kanindé

Invasores conseguiram construir cabanas dentro da terra indígena. — Foto: Divulgação/Kanindé

Ainda conforme a ambientalista, uma carta informando o caso e um pedido de ajuda para impedir novas invasões foi protocolada no Ministério Público Federal (MPF-RO) de Rondônia na última quinta-feira (4).

Um indígena da Uru-eu-wau-wau descreveu em áudio que os grileiros continuam na área. Segundo ele, há pelo menos mais de mil famílias indígenas vivendo no local. “Nós não sabemos o que fazer, porque está bem reforçado com certeza”, complementou o indígena.

O indígena contou também que os grileiros fazem constantes ameaças contra o povo, principalmente do lado de fora da aldeia. “Quando vamos ao mercado, por exemplo, eles falam assim: ó, nós vamos cortar a terra de vocês. Vocês não vão ter terras mais”, complementou.

“Eles ainda falam assim: se vocês tentarem nos enfrentar, vamos meter bala. Eles falam assim. Isso é triste, né?”, questionou o indígena.

Na última invasão, que ocorreu há dois meses, a placa da Fundação Nacional do Índio (Funai), por exemplo, que fica na entrada da aldeia, foi encontrada com marca de tiros.

Placa da Funai foi encontrada pelos indígenas com marca de tiros. — Foto: Divulgação/Uru-eu-wau-wau

Placa da Funai foi encontrada pelos indígenas com marca de tiros. — Foto: Divulgação/Uru-eu-wau-wau

O que dizem os órgãos

G1 entrou em contato com os órgãos competentes sobre o caso. Veja abaixo as respostas:

  • A Sedam relatou que o caso é de competência do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
  • O Ibama disse que a competência do órgão é ambiental, mas que verifica o caso junto ao Ministério de Meio Ambiente.
  • O MPF de Rondônia informou que está ciente do caso, que acompanha a situação e que ouve todos os envolvidos. A procuradora Daniela Lopes de Faria disse que o órgão está “atuando junto aos órgãos de segurança pública”.
  • G1 encaminhou um e-mail para a Fundação Nacional do Índio (Funai), mas até o fechamento desta reportagem, não obteve resposta.
  • G1 tentou contato com a assessoria da Polícia Federal sobre a invasão, mas as ligações não foram atendidas ou retornadas.

Por que preservar a Terra Indígena?

A terra indígena Uru-Eu-Wau-Wau tem 1.867.000 hectares de tamanho, o que equivale a 12 vezes o território da cidade de São Paulo ou 85% da extensão territorial do estado de Sergipe.

A unidade de conservação, a maior terra indígena dentro de Rondônia, é rica em biodiversidade e abriga nascentes de importantes rios que cortam o estado.

Segundo ambientalistas, a produção de energia através de hidrelétricas poderia ser comprometida, tendo em vista, que o Parque Nacional de Pacaas Novos abriga, por exemplo, a nascente do rio Jamari que abastece a Usina Hidrelétrica de Samuel, em Porto Velho.

Além disso, os ambientalistas acreditam que, caso a invasão se intensifique dentro da região, a agricultura e o próprio agronegócio, motor econômico do estado, poderiam sofrer sérias consequências com a possível falta de água. Outro impacto seria a desestabilização climática na região, importante fator para o cultivo de algumas culturas específicas.

Por fim, a própria vida dos indígenas que habitam a região demarcada estaria em risco. Isso porque cerca de dez aldeias, vários povos nômades, além de três povos isolados habitam a região. A sobrevivência desses indígenas é dependente da agricultura, caça e extrativismo restringidos a eles.


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