Um nova invasão foi registrada na Terra Indígena (TI) Uru-eu-wau-wau, em Rondônia, nesta semana. A informação foi confirmada pela ambientalista Ivaneide Bandeira, da Associação de Defesa Etnoambiental, Ivaneide Bandeira, na tarde desta sexta-feira (5). O local é alvo constante de grileiros.
Segundo Ivaneide, pelo menos mil invasores tentam tomar a aldeia. As famílias indígenas que vivem na terra relataram que são ameaças por parte dos madeireiros e grileiros, que seguem montando acampamentos e dividindo lotes de terras.
Equipes da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Ambiental (Sedam), junto com o ICMBio e a Polícia Militar encontraram, após um sobrevoo, cabanas de madeira onde os grileiros viviam dentro da terra.
Os invasores chegaram a incluir uma placa de uma associação demarcando a área, de acordo com Ivaneide. Não há informação de presos.
“Entraram mil invasores dentro da área e estamos acionando todo mundo para tirar esses invasores de lá”, disse Bandeira.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2019/2/F/xdiQfjR32AToRAj42hdA/fd71b212-4f0e-4c5f-92eb-297639bcdd7a.jpg)
Invasores conseguiram construir cabanas dentro da terra indígena. — Foto: Divulgação/Kanindé
Ainda conforme a ambientalista, uma carta informando o caso e um pedido de ajuda para impedir novas invasões foi protocolada no Ministério Público Federal (MPF-RO) de Rondônia na última quinta-feira (4).
Um indígena da Uru-eu-wau-wau descreveu em áudio que os grileiros continuam na área. Segundo ele, há pelo menos mais de mil famílias indígenas vivendo no local. “Nós não sabemos o que fazer, porque está bem reforçado com certeza”, complementou o indígena.
O indígena contou também que os grileiros fazem constantes ameaças contra o povo, principalmente do lado de fora da aldeia. “Quando vamos ao mercado, por exemplo, eles falam assim: ó, nós vamos cortar a terra de vocês. Vocês não vão ter terras mais”, complementou.
“Eles ainda falam assim: se vocês tentarem nos enfrentar, vamos meter bala. Eles falam assim. Isso é triste, né?”, questionou o indígena.
Na última invasão, que ocorreu há dois meses, a placa da Fundação Nacional do Índio (Funai), por exemplo, que fica na entrada da aldeia, foi encontrada com marca de tiros.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2019/V/b/HBDAXvTFeXYh7WN08mWw/f5105e90-5a25-4aa0-b56e-c5c346442775.jpg)
Placa da Funai foi encontrada pelos indígenas com marca de tiros. — Foto: Divulgação/Uru-eu-wau-wau
O que dizem os órgãos
O G1 entrou em contato com os órgãos competentes sobre o caso. Veja abaixo as respostas:
- A Sedam relatou que o caso é de competência do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
- O Ibama disse que a competência do órgão é ambiental, mas que verifica o caso junto ao Ministério de Meio Ambiente.
- O MPF de Rondônia informou que está ciente do caso, que acompanha a situação e que ouve todos os envolvidos. A procuradora Daniela Lopes de Faria disse que o órgão está “atuando junto aos órgãos de segurança pública”.
- O G1 encaminhou um e-mail para a Fundação Nacional do Índio (Funai), mas até o fechamento desta reportagem, não obteve resposta.
- O G1 tentou contato com a assessoria da Polícia Federal sobre a invasão, mas as ligações não foram atendidas ou retornadas.
Por que preservar a Terra Indígena?
A terra indígena Uru-Eu-Wau-Wau tem 1.867.000 hectares de tamanho, o que equivale a 12 vezes o território da cidade de São Paulo ou 85% da extensão territorial do estado de Sergipe.
A unidade de conservação, a maior terra indígena dentro de Rondônia, é rica em biodiversidade e abriga nascentes de importantes rios que cortam o estado.
Segundo ambientalistas, a produção de energia através de hidrelétricas poderia ser comprometida, tendo em vista, que o Parque Nacional de Pacaas Novos abriga, por exemplo, a nascente do rio Jamari que abastece a Usina Hidrelétrica de Samuel, em Porto Velho.
Além disso, os ambientalistas acreditam que, caso a invasão se intensifique dentro da região, a agricultura e o próprio agronegócio, motor econômico do estado, poderiam sofrer sérias consequências com a possível falta de água. Outro impacto seria a desestabilização climática na região, importante fator para o cultivo de algumas culturas específicas.
Por fim, a própria vida dos indígenas que habitam a região demarcada estaria em risco. Isso porque cerca de dez aldeias, vários povos nômades, além de três povos isolados habitam a região. A sobrevivência desses indígenas é dependente da agricultura, caça e extrativismo restringidos a eles.