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Jaru, 27 de novembro de 2024

Adolescente é impedido de fazer rematrícula em escola por causa do cabelo

O adolescente Vinícius Santos Dias de Moraes, 16, levou um susto neste dezembro quando descobriu que não poderia fazer a rematrícula na escola em que estuda há sete anos, o Colégio Adventista de Santos (SP). O garoto foi avisado que não poderia mais frequentar a instituição por causa do cabelo armado.

“Ao longo do ano, o diretor me chamou cinco vezes, falando para eu cortá-lo, por causa das regras da escola. Sempre deixei claro que não era questão de moda, mas de identidade”, conta o paulistano em entrevista ao UOL. Antes adepto do corte bem curtinho, Vinícius resolveu deixar crescer o black power para assumir a sua ancestralidade. “Aí eles me deram duas opções: cortar o cabelo e continuar na escola ou deixá-lo grande e sair da instituição”.

O adolescente não ficou nada feliz com a situação e fez dois protestos no pátio da escola. Alguns estudantes e grupos de militância negra apoiaram Vinícius, que acredita que a regra é um reflexo do racismo ainda presente na sociedade brasileira. “Muita gente me apoiou, mas alunos xingaram os manifestantes, chamaram eles de macaco, de macumbeiro. Foi bem difícil”.

José Sérgio Miranda, porta-voz e representante da instituição Adventista, fala, ao UOL, que a regra não tem nada a ver com a opressão de uma cultura ou grupo social, mas é uma forma de ensinar aos alunos a se “adaptar a diversos cenários”. “Não é por causa da textura do cabelo. Caso ele fosse liso a regra seria a mesma”, afirma. “Porque o mais aceito é o curto para rapazes e a gente quer que o jovem saia da escola conseguindo se inserir em qualquer cenário social”.

Vinícius queria se formar no ensino médio com seus colegas, porém resolveu deixar o colégio Adventista “por livre e espontânea vontade”. “Não é uma norma da unidade, mas da instituição. Ela tem mais de 100 anos”, diz. Os pais dele não vão entrar com nenhuma medida judicial. “Apesar de eu achar que seria o certo, mas eu não posso obrigá-los”, pontua. “A gente está em um país muito eurocêntrico e a cultura negra foi esquecida por muito tempo. A questão não é nem o cabelo em si, mas as pessoas que lutaram para que eu pudesse ostentá-lo assim. Nós, negros, queremos ser vistos”.


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