Com 12 anos de idade e sorrisos cativantes, os gêmeos Mateus e Marcos refletem a felicidade de quem teve a sorte de ser escolhido para receber muito amor e fazer parte de uma família. Os dois irmãos são os filhos adotivos do casal João Batista e Luiz Henrique, moradores do Rio de Janeiro.
Neste dia 28 de junho, data em que se celebra o Orgulho LGBTQIA+, os pais se recordaram da viagem de 3 mil quilômetros que fizeram até Rondônia, em 2018, para finalmente conhecerem os filhos.
A história de amor entre João e Luiz começou há quase 39 anos, quando se acharam um no outro e passaram a ter uma mesma sintonia. Até a idade deles é a mesma: 57 anos.
Ao G1, o casal contou que a família cresceu de uma forma inesperada após a chegada dos meninos, há três anos.
“Queríamos de um em um, mas veio o pacote”, relembram.
Mas, verdade seja dita, João é quem sempre quis ser pai. Como veio de uma família grande (com nove irmãos), a falta de crianças em casa sempre foi uma coisa que o incomodava.
Depois que viajaram para vários lugares, o casal construiu um lar e amadureceu financeiramente e emocionalmente. A partir daí, Luiz começou abraçar a ideia do marido sobre aumentar a família.
‘A estrada da angústia’
Quando decidiram realmente entrar com o processo de adoção, começou o período que Luiz descreve como “estrada da angústia”.
Eles se inscreveram na Vara de Infância e Juventude, entregaram toda documentação necessária, fizeram cursos preparatórios e ainda abriram a casa para psicólogos e assistentes sociais.
Somente mais de um ano depois, a assistente social ligou informando que havia encontrado dois irmãos em Rondônia, por quem eles poderiam se interessar. Luiz não nega a primeira reação: “Eu achava Rondônia do outro lado do mundo. Muito longe. Ainda mais dois de uma vez só? Pensei “não, isso não vai dar certo””.
No entanto, quando viram as fotos dos meninos, não tiveram outra opção: o coração já havia escolhido.
“Nós fomos extremamente abençoados. Mateus e Marcos São meninos extremamente amorosos, participativos. A família é apaixonada pelos nossos filhos”, declara.
Primeiro encontro
Mateus e Marcos, hoje com 12 anos, foram adotados pelos pais João Batista e Luiz Henrique — Foto: Facebook/Reprodução
Os pais e os filhos se viram pela primeira vez através de videoconferência. Segundo o casal, esse momento foi um misto de emoção e alegria. Eles sentiram o acolhimento mesmo que nenhuma palavra fosse dita.
“Eles se jogavam em cima do outro e só riam e apontavam [pra gente]”, conta Luiz com um sorriso enorme no rosto ao relembrar a reação dos gêmeos.
Por ser um casal homoafetivo, inicialmente eles tinham receio da reação dos futuros filhos.
“A gente sempre tem essa ideia de que o homossexual vai ser sempre rejeitado né. Isso já está enraizado na sociedade”, afirma.
Entretanto, em momento algum os gêmeos questionaram a falta de uma presença feminina. Eles estavam tão ansiosos para conhecerem os pais que a viagem, marcada para outubro de 2018, teve que ser antecipada para agosto.
E então veio o primeiro encontro presencial da família.
“Desde a primeira vez eles já nos chamaram de pais. A gente chega no local e eles falam: oh, são nossos pais, pai Luiz e pai João”, relembra Luiz.
“O principal é amar”
Os pais de Marcos e Mateus alertam para um assunto muito importante: a idealização do perfil de uma criança a ser adotada. Os meninos são negros e na época da adoção estavam com nove anos, além disso eram dois. “Eles tinham medo de não ser adotados”.
De acordo com o Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento (SNA), das crianças e adolescentes adotadas entre janeiro de 2019 e 2021, apenas 5,2% são pretos. Quando a classificação é por idade, os que possuem mais de nove anos são os menos escolhidos. Além disso, a região Norte é a última no ranking de números de adoção.
Os pais relatam que o principal medo que algumas pessoas têm, em adotar crianças maiores, é lidar com os traumas.
“Não se vai adotar uma criança pra servir no Natal. Quem não tem problema? Todos nós temos, o principal é amar”, alerta João.
“É um erro achar que está se fazendo caridade em adotar. Adotar é abrir a vida, abrir o coração, modificar a sua vida em detrimento de alguém. A criança está nos fazendo um favor enorme, é uma felicidade enorme”, completa.
‘Amor por osmose’
No mês de junho, de Orgulho LGBTQIA+, Luiz e João comemoram a oportunidade de terem o direito de ser uma família. A relação com os meninos é leve e cheia do que João descreve como “amor por osmose”.
Casal contou que a família cresceu de uma forma inesperada após a chegada dos meninos — Foto: Facebook/Reprodução
“Ainda se prega muito que família é homem e mulher, não existe outro jeito. E eu acho que nós somos sim a prova de que somos uma família”.
Eles ainda ressaltam que essa é uma conquista da comunidade LGBTQIA+ e das milhares de crianças que precisam de um lar.
Quando questionados sobre outra adoção, o casal revelou que sonha em ter uma menina, mas a idade já começa a pesar. “Se a gente tivesse começado antes, eu acho que a gente já estaria com 6 ou 7 filhos”, contam bem humorados.
Contudo, a ideia não é descartada. “Deixa a coisa acalmar pra gente ver se acontece”.