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Jaru, 14 de novembro de 2024

Crise: invasão de venezuelanos, caos em Roraima

Sem recursos, índios venezuelanos da etnia Warao dormem no chão da rodoviária de Boa Vista

Folha de S.Paulo – Marcelo Toledo e Eduardo Knapp

Aos 28, Enrique Rafael Díaz tem uma vida muito diferente da planejada. Estudante de medicina na Venezuela, trocou a sala de aula nos últimos meses por um semáforo em Boa Vista (RR), onde passa até 15 horas por dia vendendo frutas, artesanato e lavando vidros de carros.

Já são 30 mil, segundo o governo do Estado, os venezuelanos que nos últimos seis meses deixaram seu país com a crise de abastecimento e cruzaram a fronteira com o Brasil, inundando cidades como Pacaraima, porta de entrada dos estrangeiros do país vizinho, e Boa Vista.

Roraima tem cerca de 500 mil habitantes e trata o caso como crise humanitária.

Com isso, o Estado viu crescerem atendimentos hospitalares, violência, casos de malária e prostituição. Venezuelanos dormem nas ruas, na rodoviária e em imóveis invadidos, num cenário que se agrava a cada dia, já que, em média, cem estrangeiros entram no Estado diariamente.

“Estou tentando só uma vida melhor. Não há comida lá. Tentei ajudar numa construção e ainda machuquei a mão”, afirmou Díaz.

Ele é um dos venezuelanos que inflaram os atendimentos de saúde no Estado. Em Pacaraima, cidade de 12 mil habitantes que vive um caos, já foram feitos 3.200 atendimentos a pacientes do país.

No pronto-socorro de Boa Vista, onde Enrique foi atendido, foram 544. Outras 478 mulheres passaram pela maternidade da capital.

O impacto é sentido também na educação, que viu quadruplicar os estudantes venezuelanos matriculados.

Locais de grande movimento, como os principais cruzamentos da capital e a rodoviária, convivem com cheiro de urina e fezes espalhadas. Restos de comida também integram o cenário, assim como medo de assaltos.

Os registros policiais envolvendo venezuelanos passaram de 58 no Estado, no ano passado, para 220 neste ano.

Leia Mais: Com invasão venezuelana, Roraima teme retorno de doenças erradicadas

Enlouquecer calmamente

A lei do abuso de autoridade está sendo conduzida por Renan Calheiros e será votada por gente que, como ele, está correndo da polícia por implicações em vários crimes

Fernando Gabeira

No mundo que enlouquece rápido, o Brasil tem feito seu dever de casa. Nem tudo aqui parece fazer sentido. Sou, por exemplo, favorável ao avanço das investigações da Operação Lava Jato até que o tema seja esgotado. Sou também contra o abuso de autoridade, do guarda da esquina ao presidente da República. No Brasil esses temas parecem contraditórios. A sensação que nos passa é de uma tragédia, no sentido que Hegel deva a essa palavra: um inevitável choque do certo contra o certo, situações em que, independentemente da escolha, sempre cairemos num erro.

Olhando de perto as coisas ficam mais claras. A lei do abuso de autoridade está sendo conduzida por Renan Calheiros e será votada por gente que, como ele, está correndo da polícia por implicações em vários crimes. Ela não é urgente. Nem se pode dizer que a existência da Lava Jato a justifique. A quase totalidade das questões levantadas contra a operação foi rejeitada pelo Supremo. Renan Calheiros convidou Sergio Moro para debater a lei de abuso da autoridade. No fundo, quer a presença do juiz para legitimar um processo que ele controla, pois conhece seus pares e sabe que a grande tarefa do momento é neutralizar a Lava Jato. Renan Calheiros deveria ser julgado e preso. No entanto, decidiu enfrentar o Judiciário.

Sua ideia de criar uma comissão para coibir super salários é correta. Os supersalários são ilegais. É mais uma situação delicada na qual precisamos navegar. Não se pode bombardear a ideia de aplicação da lei nem considerá-la uma afronta ao Judiciário. É apenas uma lei que não pegou, mas precisa pegar.

É muito possível que Renan queira enfrentar o Judiciário. E que conte com a ajuda do Palácio do Planalto. Mas aí, no meu entender, reside a loucura principal. Renan tem 12 processos no Supremo. Qualquer um deles poderia resultar em sua cassação e numa temporada na cadeia. No entanto, ele desafia e até ironiza seus aliados mais discretos, como Jucá, dizendo que já esgotaram sua cota de coragem. Não há dúvida de que Renan está sendo corajoso, jogando sua carreira e liberdade enquanto os outros se escondem.

Mas se Renan é tão corajoso, o que dizer do Supremo? Ostenta o oposto simétrico da coragem?

A cúpula do PMDB, Renan à frente, decidiu enfrentar a Justiça, dobrá-la de acordo com seus objetivos. Para isso conta com o exército de investigados por crimes diversos, gente que também deveria já estar condenada pelo próprio Supremo. Sendo bastante realista, é possível concluir que, se os corruptos vencerem a parada, triunfaram, na verdade, farão do STF um poder artificial, sem a garra necessária para enfrentar as quadrilhas que habitam a mesma praça.

Outra loucura é a história de anistiar o caixa 2. Sempre defendi a tese de que a História não recomeça do zero, que é impensável destituir todos os políticos, abrindo espaço para aventuras mais perigosas ainda.

A delação da Odebrecht é uma promessa de fim de mundo. Mas não será. Entre os nomes da lista, há os que receberam dinheiro em troca de favores oficiais – consequentemente, prejuízo para o País. Mas há também os que talvez tenham recebido sem dar nada em troca, até registrando as doações nas contas de campanha.

Não fica um: o caixa dois de Pedro Taques

Lauro Jardim – O Globo

O tucano Pedro Taques, governador do Mato Grosso e ex-procurador da República, recebeu R$ 2,5 milhões por fora, em caixa dois, para a sua campanha ao governo do estado em 2014.

A informação consta da proposta de delação premiada apresentada por Pedro Nadaf, chefe da Casa Civil de Silval Barbosa (PMDB), ex-governador do estado.

A negociação está avançada e a colaboração deverá ser assinada com a Procuradoria-Geral da República até o fim do mês.

Nela, Nadaf conta que um operador que servia ao PMDB e a Nadaf também atuou em 2014 para o então pedetista Taques. Procurado, Pedro Taques negou que tenha tido caixa dois e disse que a acusação, vinda de um opositor, tenta prejudicá-lo politicamente.


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