Polícia descobriu informações a partir de perfil da companheira do criminoso, que publicava com nome falso.
A Polícia Federal já sabe que o avião que levou o narcotraficante André Oliveira Macedo, o André do Rap, para fora do Brasil partiu do interior de São Paulo. A descoberta foi possível porque a mulher do criminoso, Tamíres de Almeida Farias, 28 anos, publicou um vídeo em seu perfil numa rede social exibindo a aeronave pouco antes da fuga do casal.
As informações iniciais do Serviço de Inteligência da Polícia Paulista davam conta de que, após embarcar em um carro de luxo, o narcotraficante teria ido para o Paraná. Mas, segundo a Polícia Federal, as imagens da fuga postadas pela mulher do criminoso fizeram essa linha de investigação cair por terra.
No lado esquerdo do vídeo é possível ver dois caminhões reabastecendo aeronaves. A imagem foi gravada e publicada minutos antes de o casal embarcar e sumir do radar das autoridades.
A Polícia Federal não divulgou a cidade paulista onde se localiza o aeroporto de onde Tamíres e André do Rap saíram do estado para não atrapalhar as investigações. Mas o fato de o casal ter saído de São Paulo, por um aeroporto pequeno e legalizado no interior do estado, surpreendeu os investigadores. A partir de agora o trabalho da Polícia Federal vai se concentrar na tentativa de rastrear vôos que partiram da região no último fim de semana com destino a países da América Latina. A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e a Força Aérea Brasileira foram chamadas para ajudar na investigação.
Policiais federais solicitaram imagens do aeroporto de Maringá, no Paraná, para análise, e descartaram a possibilidade de André do Rap ter passado por lá. A principal suspeita é de que o narcotraficante esteja na Bolívia, onde mantém contato próximo a fornecedores de cocaína. Foi nesse país que outro chefe do PCC, Gilberto Aparecido dos Santos, o “Fuminho”, ficou durante 20 anos comandando atividades internacionais da facção criminosa.
Conforme o jornalismo do SBT Brasil adiantou, havia três meses que André do Rap dizia para outros presos de Presidente Venceslau que sabia que deixaria a cadeia em breve. Agora ele está na lista dos criminosos procurados pela Interpol.
Tamíres está cadastrada na Secretaria da Administração Penitenciária de São Paulo como companheira de André do Rap desde outubro do ano passado, logo após ele ter sido preso em uma mansão em Angra dos Reis, no Rio de Janeiro. Ele estava foragido havia cinco anos.
ESTILO DE VIDA
No perfil, Tamíres aparece com nome falso, sempre sorridente e maquiada, em casas luxuosas, cidades turísticas e usando artigos de marcas. Em sua última postagem, no dia em que André do Rap fugiu, a mulher de um dos homens fortes do Primeiro Comando da Capital (PCC) disse que “a fé na vitória tem de ser inabalável”.
André Oliveira Macedo, o André do Rap, é apontado como um dos maiores traficantes internacionais que age no país e o responsável por gerenciar grandes remessas de cocaína à Europa. Ele foi preso em setembro de 2019, numa operação da polícia paulista, em uma mansão de luxo em Angra dos Reis, onde levava vida de milionário, apesar de estar há cinco anos sendo procurado pelas autoridades policiais e pela Interpol.
Na mansão a polícia apreendeu dois helicópteros, um deles um avaliado em cerca de R$ 7 milhões, e uma lancha de 60 pés, de R$ 6 milhões. A embarcação, aliás, foi a chave para ajudar na localização do criminoso. A polícia descobriu que a lancha havia sido comprada por uma empresa “laranja”, na qual o responsável por ele sequer tinha rendimentos suficientes para arcar com as despesas.
HISTÓRICO E FUGA
André do Rap é velho conhecido da polícia. Ele já havia passado sete anos e meio na cadeia por tráfico. Em 2013, investigações da Polícia Federal envolvendo os irmãos italianos Patrick e Nicola Assisi, ambos narcotraficantes, resultaram nas apreensões de 3,7 toneladas de cocaína da droga. Na ocasião apurou-se a relação de André do Rap e o vínculo do PCC com a máfia italiana. Nessa investigação o criminoso era chamado de “homem forte do Brasil”. A droga saía do país pelo Porto de Santos.
A fuga de André do Rap teve tamanha repercussão negativa que o ministro Luiz Fux decidiu levar a suspensão da decisão do ministro Marco Aurélio o caso para análise do plenário do STF. Nesta quarta-feira a maioria dos ministros votou a favor da decisão de Fux. O presidente do STF afirmou que o criminoso debojou da Justiça.
A fuga de André do Rap é um dos assuntos mais comentados no país desde a manhã de sábado, quando o narcotraficante deixou a prisão de segurança máxima de Presidente Venceslau, no interior de São Paulo, pela porta da frente, após decisão monocrática do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Marco Aurélio Melo. O ministro levou em consideração o fato de André do Rap estar preso desde setembro de 2019 e ainda sem condenação definitiva. O criminosos já tem duas condenações em segunda instância, por tráfico internacional de drogas, que juntas somam mais de 25 anos de prisão.
Horas após a saída do criminoso, o presidente do STF, ministro Luiz Fux, suspendeu a decisão do ministro Marco Aurélio e determinou o retorno de André do Rap à prisão. Porém, àquela altura, o narcotraficante já estava bem longo do país.
Em sua decisão, o ministro se baseou em uma medida do pacote anticrime, prevista no artigo 316 do Código de Processo Penal, que determina a necessidade de rever a prisão provisória a cada 90 dias para evitar que o acusado permaneça em detido sem condenação por excesso de prazo.
Não foi a primeira vez que o ministro Marco Aurélio libertou presos com base na mudança do Código de Processo Penal. Desde que as novas regras entraram em vigor, em janeiro deste ano, o ministro já concedeu 79 pedidos de habeas corpus usando o mesmo critério de excesso de prazo.
O Departamento Penitenciário Nacional (Depen) calcula que pelo menos outros 250 mil detentos no país estejam na mesma condição de André do Rap, ou seja, aguardando julgamento na cadeia. Juristas avaliam que a decisão do ministro deverá abrir precedentes que podem colocar na rua milhares de criminosos perigosos.
Em entrevista ao SBT Brasil na última 2ª feira (12.out), o ministro Marco Aurélio disse que baseou a sua decisão apenas na lei: “Se não for assim, manda fechar o Brasil”, argumentou.
Fonte: SBT News