O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sugeriu em coletiva de imprensa na Casa Branca na noite de segunda-feira (10) que poderá tomar medidas tarifárias em relação ao Brasil por conta do etanol norte-americano.
Questionado sobre a pressão que estaria fazendo para que o Brasil elimine tarifas sobre a importação do produto dos EUA, Trump afirmou que “em algum momento” esse assunto será discutido. “Nós não queremos pessoas nos tarifando”.
Há pouco menos de um ano, o Brasil elevou de 600 milhões para 750 milhões de litros a cota de etanol importado sem tarifa. Acima desse volume, o imposto de importação é de 20%.
Agora, os americanos pedem ao governo brasileiro a extinção da cota e a tarifa zero para a venda do produto.
De janeiro a junho deste ano, o Brasil importou 584,2 milhões de litros de etanol dos EUA, movimentando US$ 301 milhões, segundo dados do Ministério da Agricultura.
“Eu acho que, no que concerne o Brasil, se eles fizerem tarifas, nós temos que ter uma equalização de tarifas”, disse o presidente dos EUA.
As usinas brasileiras também vendem etanol aos americanos e, neste caso, a taxação é de 2,5% sobre o valor da mercadoria. No primeiro semestre do ano, o Brasil vendeu US$ 146,5 milhões, um total de 262,4 milhões de litros.
“Vamos estar apresentando algo que tenha a ver com tarifas, e com justiça. Porque temos, muitos países, por muitos anos, têm nos cobrado tarifas para fazer negócios, e nós não cobramos deles. E isso se chama reciprocidade, se chama tarifas recíprocas, e talvez você veja algo sobre isso muito em breve”, afirmou Trump.
Segundo fontes ouvidas pelo G1, a decisão será tomada pelo presidente Jair Bolsonaro e que, caso decida por derrubar as tarifas, a assinatura partirá do Ministério da Economia.
Troca do etanol pelo açúcar
Setores do Ministério da Agricultura tentam que, em troca da isenção ao etanol americano, o açúcar brasileiro seja liberado de tarifas. Afinal, ambos os produtos são feitos no país da cana-de-açúcar e seria uma forma de compensar a entrada do combustível dos Estados Unidos.
Porém, como o adoçante nos EUA é de beterraba e o combustível feito do milho, o Brasil terá que enfrentar dois grandes lobbies para avançar com a proposta.
‘Desconhecimento sobre o assunto’
Em nota enviada à imprensa na tarde desta terça-feira, a União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica) afirmou que o presidente dos Estados Unidos “demonstra desconhecimento total sobre assunto quando fala da tarifa de importação do etanol”.
“Ao dizer que ‘Não queremos as pessoas impondo tarifa a nós’, simplesmente ignora que a tarifa já existe desde 1995 (como parte do acordo do Mercosul) e que os EUA, sem o menor pudor, tarifam o nosso açúcar em 140%. Faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço, seria um bom resumo dessa história.”
A Unica afirma que os americanos não estão conseguindo cumprir metas para consumo de etanol no país e que, por brigas comerciais, ficaram ser mercado para vender o produto.
“Não temos culpa, portanto, que os americanos não tenham para onde enviar o etanol que produzem, já que Trump fez a opção pela indústria do petróleo em seu país”, diz a nota assinada pelo presidente da Unica, Evandro Gussi.
“Temos ainda menos responsabilidade pela situação eleitoral do presidente Trump junto aos eleitores do Meio-Oeste, que cobram dele o cumprimento das promessas eleitorais. A cultura americana estabelece, por princípio, que cada um é responsável por seus próprios atos: eis a hora de pôr isso em prática”, encerra a nota da Unica.