Os casos do novo coronavírus vem aumentando em Rondônia e a preocupação com atendimento na rede pública de saúde, leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) insuficientes, entre outros fatores, já faz parte do dia a dia. Até o momento, o estado soma 41 mortes e mais de 1,2 mil contágios pelo novo coronavírus.
Mesmo com um índice considerado baixo, Rondônia tem o dobro de mortes pela doença em relação a outros estados, quando analisada a média por cada 100 mil habitantes.
“A letalidade de Rondônia é de 2 para cada 100 mil habitantes. Tocantins é de 0,5 para cada 100 mil. Brasília é de 1,1 para cada 100 mil. Sergipe é de 1. Então temos o dobro de Sergipe, temos quatro vezes o grau de letalidade de Tocantins”, disse o sociólogo.
O sociólogo e professor Estevão Rafael realiza pesquisas que impactam diretamente na vida dos rondonienses. Os estudos apontam dados que chamam a atenção.
“No dia 25 de abril a gente estava onde o Amazonas estava em 16 de abril. Uma semana depois, a gente está acima do que Manaus estava uma semana depois. Então a evolução da gente, de repente, ultrapassou Manaus. Se pegarmos Rondônia como estado, em algum momento a gente estava no começo de maio como São Paulo está no final de abril”, explicou.
O professor ainda destaca o percentual de crescimento rápido de mortes em Rondônia. “No começo de abril, para as mortes em Porto Velho dobrarem, você precisava de 10 a 15 dias. Do dia 24 para o dia 28, a gente sai de quatro mortes para oito mortes. Agora as mortes por Covid em Porto Velho tem dobrado a cada cinco dias”, expôs Estevão.
O percentual de testagens por número de habitantes pode não estar refletindo a realidade, segundo especialistas. O número de casos pode ser bem maior, se forem levados em consideração os subnotificados.
“Apesar de todos os esforços que o secretário Fernando Máximo [Sesau] tem feito, se tem problemas sérios. Por exemplo, a média de testes no Brasil é de 1.597 por milhão. Hoje a gente faz em Rondônia 1.280. Quer dizer, para cada 10 testes que o Brasil faz em média, a gente faz oito”, disse.
Especialista diz que testes em Rondônia estão abaixo da média nacional — Foto: Reprodução/EPTV
“Hoje nós temos uma taxa de 38% de isolamento no varejo e no comércio aqui em Porto Velho. Isso chegou a 70% em 22 de março. Você tem 5% de isolamento hoje. Chegou a 33% em março. Transporte público, que é a nossa melhor marca, 57%, mas chegou a 71% em 29 de março”, detalhou.
A opinião do especialista é a mesma das autoridades de saúde sobre o aumento rápido de contaminação da Covid-19, principalmente na capital, que concentra o maior número de casos, resultado das aglomerações de pessoas, as chamadas “CoronaFest”, que continuam acontecendo, além da falta de isolamento social das pessoas, que estão saindo de casa sem necessidade.
“Se a gente melhorar esses índices de isolamento social e a gente chegar e, 60%, 70%, temos chances de frear isso. Acredito que o Estado precisa vir com medidas mais radicais, que não são de forma alguma autoritárias, mas necessárias”, concluiu o sociólogo.
O “lockdown”, ou isolamento total, pode ser uma medida extrema, mas necessária. A virologista Deusilene Vieira, doutora em saúde pública, diz que o momento é de se pensar em algo nesse nível para tentar frear o avanço dos diagnósticos.
“A gente tá vendo a cidade cheia, as pessoas andando normalmente como se a doença não estivesse acontecendo. E o que que é ideal nesse processo pandêmico: é o distanciamento e isolamento mesmo. Sair em casos de necessidade extrema ou apenas desenvolver atividades essenciais para manutenção da cidade. Já é um momento de pensarmos em uma situação de lockdown, mas um lockdown parcial para frear esse quantitativo de dados”, afirma.
A doutora explica que o comportamento do vírus tem sido praticamente o mesmo em todo lugar. “Você começa com poucos dados e a partir de um dado momento que se começa a relaxar, percebe-se um aumento gradativo. E esse aumento é rápido, como observamos da semana passada para essa semana. Um aumento grande e o número de óbitos a crescer. Nota-se um colapso no sistema de saúde”, ressaltou.
O Conselho Estadual de Medicina (Cremero), que já fez algumas projeções sobre a doença, também acompanha com atenção e preocupação o avanço da Covid-19.
O presidente acredita que só com a conscientização, e cuidados da população, Rondônia poderá sair menos atingido dessa pandemia.
“O aumento dos casos vai demandar mais internações hospitalares. No momento que estamos preconizando, que está acontecendo é o isolamento social, as pessoas ficarem em casa. O lockdown é uma possibilidade em todo lugar, mas esperamos que isso não ocorra”, disse Spencer Vaiciunas.