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Jaru, 28 de novembro de 2024

Mais de 150 brasileiros seguem retidos na Tailândia; Itamaraty tenta organizar voo fretado de retorno

A Embaixada do Brasil em Bangcoc está tentando organizar um voo fretado para a repatriação de dezenas de brasileiros retidos em Tailândia, Laos e Camboja por conta da paralisação da aviação em meio à pandemia do novo coronavírus. A representação diplomática diz ter conhecimento de 159 cidadãos nesta situação apenas em território tailandês.

“Ainda não está confirmada a autorização de contratação do voo pelo governo brasileiro, pois estão sendo estudadas as formas mais eficientes de realizar a operação”, explicou a embaixada em nota. “Não há previsão de datas, mas considera-se que uma possível confirmação oficial ainda levará dias”, acrescentou.

O Itamaraty alerta que serão consideradas para o embarque somente as pessoas que preencheram o um formulário oficial da Embaixada.

Entre os retidos há um grupo de brasileiras que viajou para fazer um curso de meditação na Tailândia há cerca de duas semanas, quando a propagação do novo coronavírus ainda não parecia ameaçar o país – pelo menos no curto prazo. Tudo seguia bem até que chegou um aviso de que o voo de volta delas no sábado (28) estava cancelado.

A mineira Mariana Carvalho, de 28 anos, já deveria ter voltado ao trabalho na segunda-feira (30), mas ainda não sabe quando conseguirá embarcar para Três Rios (RJ), onde mora atualmente.

Diante da falta de retorno da companhia aérea, Mariana, que está acompanhada pela mãe, comprou passagens de volta para as duas por outra companhia por R$ 10 mil cada uma, mas nem assim está segura de que voltará no sábado (4).

Brasileiras fazem sessão de meditação durante viagem na Tailândia  — Foto: Luciana Machado Fiel/ Arquivo pessoal

Brasileiras fazem sessão de meditação durante viagem na Tailândia — Foto: Luciana Machado Fiel/ Arquivo pessoal

“Eles cancelaram o voo do dia 2 e os passageiros estão sendo remanejados. Está todo mundo nessa incerteza. Não sei se o nosso voo está mantido ou não”, afirma.

Mariana conta que é difícil ter acesso às informações sobre a situação da pandemia no país, que recebe muitos turistas e tomou medidas de restrição de voos em uma tentativa de evitar a propagação do Sars-Cov-2.

“A situação está relativamente sob controle no país. Falamos inglês, mas não é algo que ajude muito. Nós nos comunicamos muito por mímica, porque é difícil achar quem fale inglês e quando falam têm uma maneira muito própria, que dificulta a compreensão.”

Na casa, o grupo segue mantendo uma rotina: elas meditam duas vezes por dia, fazem as refeições juntas e dividem as tarefas. A líder do grupo, a terapeuta Luciana Machado Fiel, tinha previsto voltar para a Índia, onde mora, e de lá seguir para o Brasil para visitar a família.

Seus voos para a Índia e para o Brasil foram cancelados. Luciana aguarda ajuda da embaixada brasileira para encontrar um voo que a leve direto ao Brasil.

“Preenchemos vários formulários da embaixada, mas ainda não temos nenhuma proposta de voo para retornar. Estamos aguardando uma ajuda, mas até agora nada. Já foram criados voos de outras companhias, mas eles são caríssimos. E já perdemos a confiança nessas companhias aéreas, porque muitos desses voos são cancelados”, afirma a terapeuta.

É na meditação que o grupo tem buscado apoio. “Estamos trabalhando para viver um dia de cada vez. Não tem previsão [de retorno] para ninguém. Vamos colocar 100% da nossa atenção no presente com alegria e gratidão, porque estamos juntas, temos comida, e ampliar perspectiva com esperança”, afirmou a terapeuta.

Tentativas frustradas

Na semana passada, brasileiros criaram um grupo de whats app no dia 24 de março para reunir informações sobre os compatriotas que estão na Tailândia e tiveram algum problema para retornar por causa dos cancelamentos de voos.

Professor Sidnei Souza vai para aeroporto da Tailândia em uma tentativa de encontrar voo para o Brasil — Foto: Arquivo Pessoal

Professor Sidnei Souza vai para aeroporto da Tailândia em uma tentativa de encontrar voo para o Brasil — Foto: Arquivo Pessoal

Uma parte dos brasileiros conseguiu voltar após acordo com suas companhias aéreas ou em um voo sugerido pela Embaixada do Brasil em Bangcoc.

Porém, a tarifa de US$ 1.675 dólares foi considerada muito elevada pelos viajantes, como o gaúcho Sidnei Souza, de 39 anos, que visita o país pela segunda vez.

“Sou professor de muay thai e precisava vir para cá para conseguir mudar de graduação. Eu juntei por dois anos para fazer essa viagem. Não tenho um cartão de crédito com um limite desses para sacar à vista. Quem é que vai ter? A maioria aqui é de mochileiros, estão em hostels”, afirma.

O professor da cidade de Tramandaí, que chegou à Tailândia no dia 7, deveria ter voltado no dia 26. Porém, segue sem perspectiva de retorno. Ele enviou uma petição para a Embaixada pedindo um voo para que os brasileiros fossem repatriados.

Também já foi três vezes até o aeroporto em uma tentativa de conseguir ser realocado pela companhia aérea. Sem sucesso. Atualmente, divide o quarto de hotel com outros dois brasileiros também bloqueados na Tailândia. “Pela internet a gente acha passagens de até R$20 mil. Não tem condições. Precisamos de ajuda.”

Segunda remarcação

Yan Formizani caminha por ruas vazias de Bangcoc — Foto: Yan Formizani/Arquivo pessoal

Yan Formizani caminha por ruas vazias de Bangcoc — Foto: Yan Formizani/Arquivo pessoal

A viagem já não estava fácil para o guia de turismo Yan Formizani que já tinha sido obrigado a ir ao médico após dois imprevistos: uma torção em um dedo e a mordida de um cachorro na ilha de Ko Samui. Então, no dia 17, ele ficou sabendo que o seu voo tinha sido cancelado.

O morador de Ribeirão Pires (SP) foi a dois aeroportos e encontrou o serviço de atendimento da empresa aérea fechado. Em um escritório da empresa, Yan conseguiu remarcar o bilhete para o dia 28, um dia depois do previsto inicialmente. Porém, o voo foi cancelado.

Quando ele deixou o Brasil, a propagação do novo coronavírus na Tailândia parecia não preocupar ainda.

“Mas agora em Bangcoc a coisa está feia. Não se anda de metrô se não estiver sem máscara, mas você não acha máscara para comprar. A primeira que eu tive eu ganhei de uma vendedora de uma loja de roupas. Dá medo de pegar uma doença dessas viajando. Eu tenho uma pequena reserva. Aí, você vê a reserva indo embora e vai ficando desesperado”, afirmou.

Com a ajuda do escritório da empresa no Brasil, ele conseguiu uma nova remarcação para a madrugada desta quinta-feira (2). Chegou a ir até ao aeroporto, mas acabou tendo que voltar para o hotel. O voo foi cancelado sem nenhum aviso prévio e agora ele aguarda um voo no próximo sábado (4).


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