Mais um voo com brasileiros deportados dos Estados Unidos chegou na noite de ontem no aeroporto de Confins, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. É o terceiro neste ano e o quarto em menos de quatro meses a mandar de volta ao Brasil migrantes brasileiros que tentaram entrar ilegalmente nos EUA pela fronteira com o Mexico.
O avião fretado pelo governo americano trouxe 80 passageiros, entre eles 40 crianças e adolescentes. No primeiro voo, em 26 de outubro, chegaram 70 pessoas, no segundo, em 24 de janeiro, 50, e no de 7 de fevereiro, 130. As deportações atuais fazem parte de novo entendimento entre os governos brasileiro e americano, que facilita o procedimento de saída dos EUA de imigrantes ilegais.
Noite de felicidade para Reila Francisco, de 63 anos, moradora de Belo Horizonte. Depois de aproximadamente 20 minutos observando outros deportados desembarcarem, avistou a filha, o genro e a neta. Se abraçaram e saíram rapidamente do aeroporto. “No voo anterior não vieram. Uma amiga deles, que veio, me informou”, disse dona Reila, momentos antes de avistar a filha.
A falta de informações é a principal reclamação de parentes de migrantes que tentam entrar ilegalmente nos EUA. Entre os próprios deportados, o protesto é em relação ao tratamento que recebem nos centros de imigrantes.
“Você é tratado igual a um cachorro. Me senti humilhado. Você fica embaixo de uma lona, com frio. Te dão um cobertor que é uma folha de alumínio”, disse Breno Silva Coelho, de 33 anos, que foi tentar a sorte nos EUA com a mulher e o filho pequeno. A família é de Ipatinga, no Vale do Aço. “Adultos aguentam, mas essa situação, para crianças, é uma covardia. Não volto lá nem se o Trump me buscar”, disse.
México. O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, já declarou que a deportação nos voos que têm chegado a Minas Gerais seria um caminho menos traumático do que o retorno forçado a cidades mexicanas na fronteira, conhecidas pelos casos de violência de máfias que exploram o fluxo migratório e por cartéis de narcotraficantes.
Há brasileiros com filhos despachados para Ciudad Juárez, cidade mexicana próxima de El Paso, no Texas, onde os EUA mantêm um centro de detenção para imigrantes ilegais. Em Ciudad Juárez, alguns ficam em um centro de acolhida administrado pela Igreja esperando pelo resultado a seu pedido de visto como refugiados.
O Ministério de Relações Exteriores do Brasil ainda não tem dados de quantos brasileiros estão na região de Ciudad Juárez, pois depende de as famílias buscarem contato e assistência – o consulado-geral na Cidade do México fica a 1,8 mil quilômetros de distância.
O consulado deslocou um servidor para a região para tentar fazer um levantamento e obter contato com as famílias, já que as autoridades mexicanas também não possuem controles auferidos. O consulado tenta preparar um relatório mais detalhado da situação, mas diplomatas acreditam que o número não seja alto.
Fonte:Estadão