O corpo de Yoná Magalhães já está no Memorial do Carmo, no Caju, na Zona Portuária do Rio de Janeiro, e o velório foi aberto ao público às 11h24. A cremação está prevista para 13h30 no mesmo local nesta quarta-feira, 21. Filho único de Yoná, Marco Mendes não quis falar com a imprensa ao chegar ao cemitério e permaneceu dentro da capela reservada para o velório. Após ficar uns minutos com familiares, ele saiu e conversou com os jornalistas: “Ela encarou uma batalha, uma grande cirurgia, uma batalha pela vida e pela qualidade de vida. Eu me orgulho muito dela por esse sentimento de profundo amor, apego pela vida, assim como houve uma grande traquilidade que ocupou aquela sala quando ficou claro para a gente que a alma dela estava querendo ir. Foi um final bastante inspirador”.
Marco falou sobre o legado deixado por Yoná. “Fica não só um legado, os comentários que escutamos mais comumente na rua, mas muito mais que isso. A minha mãe foi a primeira grande estrela desse produto chamado telenovela. Você pode gostar ou não gostar do fenômeno telenovela, mas indubitavelmente ele é o produto nacional brasileiro mais conhecido depois do futebol. A divulgação e a aceitação das novelas ao redor do mundo comprovam isso. E a minha mãe era a primeira estrela. Ela não estava na primeira novela um ano antes da Globo começar a produzir dramaturgia no Brasil, mas quando as novelas se tornaram um grande fenômeno a grande estrela era Yoná Magalhães. Era ela numa novela atrás da outra”, lembrou.
O filho de Yoná disse ainda que está tocado com a comoção pela morte da mãe. “Era uma pessoa que fez teatro e com muita humildade ocupou todos os espaços que uma atriz pode ocupar. O que mais me emociona hoje é que mesmo estando mais tranquila em relação a mídia, trabalhando menos em quantidade e mais em qualidade, quando há um evento como esse dela nos deixar a comoção é impressionante. Ela é um ídolo, um mito, que independente do fato dela estar sendo mais ou menos focalizada pela mídia no momento. Fica uma lição profunda de vida, generosidade, beleza na forma mais etérea e menos fputil que a gente possa imaginar”, falou.
Ele contou ainda que Yoná manteve o otimismo até os últimos momentos. “Ela enfrentou uma doença cardíaca grave e fez a opção quando colocou-se para ela a opção de não fazer nada e simplesmente ir embora rápido ou tentar um processo completo, uma cirurgia completa, ela optou pela segunda, por tentar com todas as forças, e assim foi até o final, uma aula de fibra e de vida. Sempre muito otimista”, afirmou. Amigos como o diretor Daniel Filho e da Rádio Tupi enviaram coroas de flores em homenagem a Yoná.
Em comunicado divulgado na manhã de terça-feira, 20, a Casa de Saúde São José informou que Yoná Magalhães morreu de complicações pós-operatórias. A atriz estava internada no hospital, que fica no Humaitá, na Zona Sul do Rio de Janeiro, desde 18 de setembro. Yoná deixa o filho Marcos Mendes, fruto de seu casamento com o produtor Luis Augusto Mendes.
Na internet, vários famosos lamentaram a morte da atriz. “Estou triste, mas vou lembrar sempre dela como uma mulher maravilhosa, linda, talentosa, corajosa e muito querida”, falou Arlete Salles. “Isso é muito triste. Fiz minha primeira novela, ‘Meu Bem, Meu Mal’, com ela. A Yoná foi muito generosa comigo na época e ela sempre foi uma mulher muito discreta. Vai deixar saudade. Ela tem uma importância muito grande na dramaturgia. Deixo aqui minha homenagem”, lembrou Fábio Assunção. “Uma das maiores atrizes desse país descansou. Fica conosco um carinho enorme e a lembrança do seu trabalho impecável. Muito respeito e admiração por essa pessoa incrível. Vá em paz, Yoná”, disse Suzana Pires.
(Foto: Roberto Teixeira/EGO)
Trajetória
Yoná Magalhães foi contratada em 1965 e fez parte do primeiro elenco da TV Globo. Ela protagonizou a novela “Eu Compro Esta Mulher”, em 1966, de Glória Magadan, onde formou o primeiro par romântico de sucesso da emissora com o ator Carlos Alberto
Em entrevista para o “Memória Globo”, Yoná Magalhães contou que entrou para a vida artística para ajudar a família quando o pai ficou desempregado. “Eu tinha que ajudar de alguma maneira, não sabia muito como, queria continuar os meus estudos. Gostava de brincar de teatro, essas coisas que todo mundo faz. Então eu digo: ‘Quem sabe não é por aí, né?’ Fui fazendo pequenas pontas, pequenos papéis, isso em meados da década de 1950, até que consegui um contrato com a Rádio Tupi”, disse.
(Foto: Roberto Teixeira/EGO)
Em 1985, Yoná integrou o elenco de “Roque Santeiro”, de Dias Gomes e Aguinaldo Silva. A atriz interpretou a Matilde, dona da boate onde trabalham as dançarinas Ninon (Cláudia Raia) e Rosaly (Isis de Oliveira). Na época, ela recebeu o convite para posar nua na revista “Playboy”. Na novela “O Outro”, Yoná vive outra personagem exuberante, a Índia do Brasil.
Ela atuou ainda em quatro novelas de Walther Negrão: “Despedida de Solteiro”, 1992, “Anjo de Mim”, “Era uma Vez…”, em 1998 e “Vila Madalena”, em 1998. Em “Senhora do Destino”, 2004, de Aguinaldo Silva, Yoná foi Flaviana, sogra de Giovanni Improtta (José Wilker).
Em “Paraíso Tropical”, 2007, de Gilberto Braga e Ricardo Linhares, a atriz interpretou a ex-vedete Virgínia, mulher do malandro Belisário Cavalcanti (Hugo Carvana), com quem praticava pequenos golpes. Atuou ainda em “Negócio da China”, 2008, “Cama de Gato”, 2009. Em 2013, interpretou a decadente socialite Glória Paisem, em “Sangue Bom”.
No cinema, ela foi dirigida por Glauber Rocha no filme “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, em 1964. No ano seguinte, ela trabalhou “Society em Baby-Doll” e atuou ainda em “Alegria de Viver”, em 1962, de Watson Macedo, e “Pista de Grama”, em 1958, de Haroldo Costa.
Coroas de flores no velório de Yoná Magalhães (Foto: EGO)