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Jaru, 23 de novembro de 2024

Advogado mineiro curado de leucemia junta dinheiro para dar casa à sua doadora de Ariquemes

Buscando recompensar a doadora de medula que curou sua leucemia, o advogado Gabriel Massote Pereira, que mora em Uberlândia (MG), decidiu fazer uma vaquinha virtual e, nos próximos dias, dará uma casa nova para Elza dos Santos.

Elza, que mora em Ariquemes, deixou tudo de lado para sair de seu Estado natal e salvar a vida de Gabriel. Sem emprego, com dificuldades financeiras e deprimida após a morte do pai, a rondoniense não tem casa própria e vive de favor nos fundos de uma igreja com o marido e dois filhos.

Em 2011, à época com 27 anos, Gabriel foi diagnosticado com um câncer nos glóbulos brancos. Fez o tratamento e parecia saudável, mas a doença voltou ainda mais forte dois anos depois – e quase fatal.
O câncer tomou 97% das células do paciente e a única possibilidade de reversão e cura seria o transplante de medula óssea.

Após se cadastrarem no Redome (Registro Nacional de Doadores Voluntários de Medula Óssea), do Instituto Nacional do Câncer (Inca), o jovem advogado e sua família passaram a esperar desesperadamente pela notícia de um doador disponível.

Os médicos pediram paciência, pois apenas 1 em cada 100.000 doadores seria compatível com seu organismo. Estatisticamente falando, era mais fácil ganhar na Loteria Federal, da Caixa Econômica Federal, na qual se acerta 1 aposta a cada 83 mil tentativas.

A família do rapaz chegou a buscar doadores advindos de listas de outros países, sem sucesso. “Já estava desanimando, quando o Redome nos avisou que havia uma pessoa aqui mesmo no Brasil”, lembra ele.

As coisas se encaminhavam para um final feliz, quando descobriu-se que a doadora havia mudado de endereço sem atualizar seus dados no cadastro do Redome. A única chance de Gabriel havia desaparecido.

Eis que surge Elza, hoje com 39 anos. Nascida no Paraná, foi morar em Rondônia ainda criança. Em 2010, voluntários de saúde de Ariquemes montaram uma tenda de conscientização à beira do rio, convencendo a humilde população local sobre a importância da doação de medula óssea.

Ela não tinha muito conhecimento sobre o assunto, mas decidiu se inscrever, visando fazer uma boa ação. “Eu na época tinha meu pai de cama e sabia o quanto as pessoas sofrem quando estão doentes. Se eu um dia pudesse ajudar alguém…”

Elza perdeu o pai em 2015, mas antes pôde salvar a vida de um jovem 2 mil quilômetros dali, graças a um tubinho com 5 mililitros de sangue que deixou naquela tenda em 2010. “Ela, uma mulher simples, com menos estudos que eu e com uma série de dificuldades… qual razão tinha para ser doadora?”, questiona o advogado mineiro. “Eu não era doador”, comenta.

Quando há compatibilidade, o Redome envia uma carta para o doador, avisando que o paciente está à espera da medula. “Eu havia sonhado dias antes de ler a mensagem que eu tinha salvado um rapaz, que precisava de mim”. Dias depois, a carta chegou.

Em outubro de 2013, Elza viajou até o Rio Grande do Norte para fazer a doação. “Não dói, você toma uma injeção no umbigo e fica uns cinco dias internado até a medula se ‘desprender do sangue’. A retirada acontece no quinto dia, em um procedimento que dura de quatro a cinco horas. Tipo uma hemodiálise”, explica.

Algum tempo depois, finalmente, Gabriel recebeu a medula. No entanto, fragilizado, precisou de glóbulos brancos para resistir às complicações do procedimento. E quem foi salvá-lo novamente? Sim, Elza! Em 14 de fevereiro de 2014, ela chegou em São Paulo para retirar uma quantidade suficiente de linfócitos. Quatro horas sentada, vendo o sangue sair de uma veia para entrar na outra.

De volta às dificuldades do dia a dia, Elza viu a retroescavadeira do marido (comprada com o dinheiro da venda de uma casinha modesta que ela tinha) perder força e se tornar inutilizável. Acabava assim o único sustento de seu lar. “Ninguém estava trabalhando, não tínhamos dinheiro para nada”, conta.

Enquanto isso, Gabriel se recuperou completamente da leucemia. Disposto a agradecer e recompensar de alguma forma sua salvadora, e ciente de suas dificuldades financeiras, o advogado uberlandense criou uma vaquinha virtual em maio deste ano com o objetivo de dar uma casa nova à sua doadora. Precisava de R$ 100 mil para isso.

“Encontramos uma casinha perto da mãe dela, por R$ 120 mil. Negociei com o proprietário e baixei para R$ 100 mil. Praticamente fechei negócio sem ter dinheiro”, admite Gabriel. “E fui para a internet tentar levantar o valor.”

A campanha de financiamento coletivo terminou no dia 22 de agosto. “Amigos meus e parentes passaram dinheiro direto para mim. Então, hoje, tenho cerca de 90 mil”, conta. “Agora, cara, eu vou comprar essa casa de qualquer jeito, nem que tenha que fazer um empréstimo.”

A primeira parcela do imóvel, de R$ 68 mil, foi quitada. Gabriel afirma que se o valor arrecadado ultrapassar R$ 100 mil, manda cada centavo para Elza. “Ela precisa reformar o imóvel e mobiliar tudo. Não tem quase nada, infelizmente.”

Elza mal pode esperar para se mudar e diz que, aos poucos ‘e sem pressa’, vai ajeitando o novo lar – que conta com três quartos, bom espaço e de alvenaria. “Temos quatro latas de tinta e já ganhamos uma ou outra coisinha.”

Enquanto isso, o marido conseguiu uma fonte de renda consertando geladeiras – enquanto os dois filhos agora estão empregados. Ela também trabalha, mas não recebe nada por isso. Limpa a igreja em troca da moradia e faz serviços voluntários cuidando de idosos em sua cidade. “Não consigo ficar sem ajudar alguém”, justifica.

Autor: Gabriel Pietro


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