Descubra como o sol e o vento estão moldando a passarela mais verde — mais barata — que chega ao seu guarda-roupa.

Nas últimas temporadas, o debate sobre clima deixou as passarelas para ocupar as planilhas de custos da indústria da moda. Sob pressão de consumidores, investidores e reguladores, marcas globais passaram a exigir relatórios de emissões de suas cadeias de fornecimento — e boa parte dessas cadeias passa por Bangladesh e Índia, onde se concentram fábricas de fiação, tecelagem e acabamento de denim. Para manter contratos e margens, grupos têxteis nesses países estão trocando a eletricidade gerada a carvão por painéis solares no telhado e acordos de compra de energia eólica; a meta é cortar carbono e, ao mesmo tempo, estabilizar contas de luz que vêm subindo acima da inflação.
Energia limpa na indústria têxtil: economia que se vê na conta e no inventário de CO₂
A guinada começou pelos telhados. Em Gazipur, nos arredores de Daca, a Plummy Fashions — primeira fábrica de confecção a receber certificado LEED-Platinum na Ásia — cobre 13 % de sua demanda elétrica com painéis solares e afirma economizar 50 % de energia total em comparação a instalações convencionais graças a maquinário de baixo consumo e sensores inteligentes.
Em Chattogram, outras confecções conectaram miniusinas fotovoltaicas à rede e assinaram Acordos de Compra de Energia Virtual (VPPAs) para garantir oferta renovável mesmo fora do horário de sol, impulsionadas pela meta da BGMEA de reduzir 30 % das emissões e incorporar 20 % de energia limpa até 2030.
A conta também fecha do lado indiano. No estado de Telangana, a Suryalakshmi Cotton Mills instalou 22 MWp em painéis solares e espera evitar quase 5 000 t de CO₂ só em 2024, depois de ter mitigado mais de 4 000 t no ano passado. Segundo a Indian Textile Magazine, empresas que migraram para fotovoltaico ou contratos de parque eólico relatam queda média de 25 % a 30 % na fatura de energia, protegendo-se da volatilidade dos combustíveis fósseis.
Produção consciente – da usina solar ao jeans que chega à loja
Ao abastecer máquinas de fiar, teares e lavanderias com eletricidade de baixo carbono, as fábricas reduzem a intensidade de emissão por peça e ganham folga para investir em acabamentos de menor impacto, como ozônio ou laser. O resultado já aparece no preço final: consultorias de sourcing apontam que itens feitos em unidades 100 % solares podem ficar até 4 % mais baratos do que equivalentes produzidos à base de carvão, graças à economia de energia ao longo do ciclo.
É nesse contexto que peças populares — do denim de exportação a linhas premium — passam a carregar credenciais de energia limpa. Um exemplo recente é a calça wide leg fabricada em lotes piloto em Tirupur (Índia) com 80 % da eletricidade vinda de rooftop solar combinada a certificados de energia eólica; o modelo chegou às lojas europeias com etiqueta de impacto ambiental reduzido e custo competitivo, sinalizando que sustentabilidade pode, sim, caber no bolso do consumidor.
A vantagem competitiva da transição energética
Para Bangladesh, segundo maior exportador de vestuário do mundo, e para a Índia, que pretende triplicar o valor de seu setor fashion até 2030, trocar combustíveis fósseis por renováveis virou argumento de venda. Relatórios de compras de grandes marcas mostram crescimento de dois dígitos na preferência por fornecedores que comprovam eletricidade limpa e metas de descarbonização alinhadas ao Fashion Industry Charter for Climate Action da ONU.
Governos e bancos multilaterais têm acelerado esse movimento: linhas de crédito verdes do Banco Asiático de Desenvolvimento e da Clean Energy Investment Accelerator cobrem até 70 % do CAPEX para painéis solares; já subsídios estaduais na Índia oferecem isenção de imposto sobre equipamentos para parques eólicos privados. Na prática, renovável deixou de ser custo extra e passou a ser diferencial de mercado — contratos longos, acesso a prêmios de sustentabilidade e, não raro, melhores prazos de pagamento.
Um fio condutor entre clima, preço e reputação
Do algodão ao rolo de tecido, da costura ao embarque, a energia responde por parcela decisiva do custo e da pegada de carbono do jeans. Quando fábricas de Bangladesh e Índia plugam seus teares ao sol e ao vento, minimizam riscos de tarifa de carbono, baixam despesas fixas e entregam produtos prontos para consumidores que checam etiquetas de sustentabilidade antes de passar o cartão.
Ao provar que quilowatts verdes podem render margens mais saudáveis, a indústria têxtil desses países lança uma lição para toda a moda: a transição energética não é apenas viável — é boa estratégia. Se painéis fotovoltaicos e turbinas já sustentam as peças de hoje, podem também iluminar um futuro em que preço justo, impacto reduzido e ética caminham lado a lado na passarela.